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ENTREVISTA DA 2ª
Sérgio Werlang afirma que estrangeiro teme o "PT antigo"
Anúncio rápido de "novo" BC irá acalmar o mercado
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Nos últimos dias, o nome do
economista Sérgio Werlang, 43,
ex-diretor do Banco Central e
atualmente diretor do Banco Itaú,
tem circulado como uma opção
eventual para a presidência do
BC, no caso de o candidato do PT,
Luiz Inácio Lula da Silva, vencer
as eleições do próximo domingo.
Ele nega ter recebido qualquer
convite, apesar de dizer que tem
mantido conversas com a cúpula
econômica do PT. ""Estou bem
onde estou. Há muitas pessoas
com capacidade para assumir esse cargo", afirma Werlang.
Nessa entrevista, concedida na
sexta-feira passada por telefone,
de Washington, onde participa da
reunião anual do FMI (Fundo
Monetário Internacional), Werlang diz que a alta do dólar dos últimos dias se deve ao fato de o investidor estrangeiro não ter estudado as propostas do PT, como
fez o investidor brasileiro. Se tivesse feito isso, afirma Werlang,
chegaria a conclusão de que o PT
deve praticar uma política macroeconômica bastante coerente.
Para o economista, esse medo
do mercado deve acabar assim
que for anunciado o nome do novo presidente do Banco Central.
Folha - Como o sr. explica essa alta do dólar?
Werlang - Eu não sei responder
exatamente como, de um dia para
o outro, o dólar pulou de R$ 3,67
para R$ 3,88. O que posso tentar é
explicar, de forma genérica, por
que o ânimo do mercado está como está. O que acho é que os investidores estrangeiros levaram
muito tempo para perceber que
havia uma possibilidade concreta
de o PT ganhar as eleições. No
Brasil, o mercado já tinha percebido isso há bastante tempo. Tanto
que o mercado estudou em detalhes as declarações, os documentos, enfim, todas as propostas macroeconômicas que o PT têm feito, como a carta ao FMI com o
apoio à meta de superávit primário de 3,75% do PIB. O que o mercado doméstico concluiu é que a
política macroeconômica do PT
será bastante coerente. Os estrangeiros não fizeram isso.
Folha - Qual é, então, o medo do
PT?
Werlang - A dúvida é se o PT será
capaz de pôr em prática as políticas que está propondo. É claro
que esse nível de dúvida se dissipa
muito rapidamente na proporção
que se conheçam os membros da
equipe econômica, principalmente o nome do presidente do Banco
Central, o que eu acho que vai
acontecer logo após as eleições,
caso o PT ganhe.
Folha - Por que tanta convicção
de que o PT irá adotar uma política
macroeconômica coerente?
Werlang - Os brasileiros acompanharam os projetos do PT durante os últimos dois, três meses,
olharam com cuidado, checaram
a profundidade e coerência dos
programas do PT, e eu diria que
há uma possibilidade grande de o
PT fazer um governo que, do ponto de vista macroeconômico, seja
bastante razoável. Só os estrangeiros ainda têm na cabeça o PT que
não mudou. Por isso, eles estão
com medo de investir naquilo que
eles não entendem muito. Esse
medo, é bom que se diga, é reflexo
do que aconteceu na Argentina.
Se você juntar o problema das
perdas na Argentina com a lembrança do PT do passado, que defendia políticas macroeconômicas inconsistentes, o que acontece
é que o mercado passa a adotar
atitudes extremamente defensivas. É isso o que estamos vendo.
Folha - Mas o que garante que são
só os estrangeiros temem o Lula?
Werlang - Um bom exemplo são
os preços da dívida externa brasileira, que, em boa parte, estão nas
mãos dos estrangeiros não-residentes. Os papéis da dívida externa estão muito mais depreciados
do que os da dívida interna. O deságio das LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) no Brasil está em
cerca de 2% ao ano, enquanto o
deságio do titulo da dívida externa está em 22% a 23% ao ano. Você pode dizer o que quiser, que as
medidas são diferentes, mas
quando você mede os riscos dos
dois tipos de dívida, se vê que a diferença é enorme. E o que distingue essas duas dívidas? A diferença básica é que a dívida externa é
detida praticamente por estrangeiros e a interna, por brasileiros.
Folha - Se dependesse só dos investidores brasileiros, o dólar não
estaria tão alto?
Werlang - Na minha leitura, há
muito menos incerteza no Brasil
do que fora do Brasil e nós estamos sofrendo por isso. Isso só será corrigido quando, seja quem
for que ganhe, seja o PT, Serra ou
outro candidato, forem anunciados os nomes das pessoas que
irão gerir a economia e quais as
políticas a serem seguidas de fato.
Ou seja, se vão assinar de fato o
acordo com o FMI, se vão manter
o regime de metas da inflação, etc.
Eu diria, no entanto, que o essencial para o mercado é saber quem
vai presidir o Banco Central.
Folha - O sr. não acha que essa alta do dólar tem também muito de
especulação, como disse o ministro
Pedro Malan?
Werlang - É praticamente impossível para alguém que entenda
de economia responder sobre oscilações do câmbio no curto prazo. Aliás, os Banco Centrais do
mundo inteiro têm um grande
problema, que é o de prever qual
será a taxa de câmbio. Todos os
BCs gostariam de ter bons modelos, mas não têm. Você até pode
ter idéia das movimentações gerais. Já a movimentação do dia-a-dia é impossível de se prever.
Folha - O sr. acha que o Banco
Central errou ao anunciar que não
iria mais renovar a dívida cambial?
Werlang - Não foi um erro. A dívida cambial curta, que vence nos
próximos três ou quatro meses,
está com uma taxa de juros em
dólar, que o jargão do mercado
chama de cupom cambial, muito
elevada. Ora, se a dívida está com
uma taxa de juros elevada, o Banco Central não tem mesmo porque pagar essa taxa. Portanto, o
BC acertou em dizer não a essa taxa de juros. A taxa de juros em dólar está muito elevada porque as
pessoas não estão querendo mais
títulos em dólares.
Folha - O que pode acontecer com
as empresas brasileiras com essa
alta do dólar?
Werlang - A maioria das empresas está em boa parte protegida
contra essas variações cambiais.
Se você olhar o gráfico da dívida
externa brasileira privada, verá
que ela vem caindo. Ela caiu de
US$ 240 bilhões em 99 para pouco
mais de US$ 200 bilhões este ano.
Isso mostra que houve uma queda bastante grande da dívida em
dólares, assim como tem tido um
aumento da oferta de instrumentos de proteção contra a oscilação
cambial. Hoje em dia, não é tão
problemático assim, para uma
empresa, essa oscilação do dólar.
Folha - Qual sua previsão para o
dólar?
Werlang - Eu acho que se o PT
ganhar e anunciar para o Banco
Central um time de diretores que
sejam percebidos pelo mercado
como capazes de levar adiante as
políticas de metas de inflação e de
câmbio flutuante, o dólar deve
cair para a faixa de R$ 3,20. No caso de o Serra ganhar, que já anunciou que irá manter o Armínio no
BC, o dólar deve cair para alguma
coisa entre R$ 3,10 e R$ 3,20. É claro que se qualquer candidato que
ganhe as eleições anuncie um nome para a presidência do BC que
que não seja percebido pelo mercado como capaz de gerir a economia no curto prazo, a desvalorização será maior.
Folha - O sr. tem conversado com
o PT?
Werlang - Eu tenho conversado
com pessoas do PT, mas em rodas
normais de economistas.
Folha - Com quem o sr. conversa
no PT?
Werlang - Já estivemos com o
(deputado) Aloizio Mercadante e
com o Guido Mantega (assessor
econômico de Lula), mas em conversas normais.
Folha - O sr. já ouviu falar em alguns nomes para o BC?
Werlang - Eu já ouvi falar de
muitos nomes. Já se falou no Joaquim Elói de Toledo (vice-presidente de Finanças da Nossa Caixa), no Cláudio Haddad (ex-diretor do BC), enfim, vários nomes.
Folha - O sr. acharia conveniente
manter o Armínio no BC?
Werlang - Seria um sinal muito
positivo, mas o Lula disse que não
vai fazer. Pelo menos num período de transição de um ano, o Armínio poderia ser mantido para
se discutir com calma as políticas
econômicas do novo governo.
Folha - Se convidado, o sr. aceitaria ser presidente do BC?
Werlang - Nunca conversei com
o PT sobre participação no governo. Nunca fui convidado. Estou
muito bem onde estou. Há muitas
pessoas com capacidade para assumir esse cargo.
Folha - O sr. acha que o novo governo poderá ter que pedir mais dinheiro do FMI?
Werlang - O dinheiro do FMI
que está aí é suficiente. Os problemas econômicos de 2003 são perfeitamente manejáveis.
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