São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/RUMO A 2006

Troca-troca não muda relação de forças entre bancadas na Câmara; hoje é o último dia de filiação para disputar eleições do ano que vem

Migração partidária beneficia oposição

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA A migração interpartidária beneficiou até agora as legendas de oposição na Câmara, mas a crise do "mensalão" ainda não foi suficiente para alterar de forma significativa a relação de forças entre as bancadas, como temia o Planalto. O prazo de troca de partidos para a disputa das eleições do ano que vem vence hoje, o que ainda pode alterar o quadro.
Legendas que são normalmente classificadas como integrantes da base aliada -ou seja, com cargos no governo- reuniam até ontem 349 deputados federais, ligeira queda com relação aos 356 de um mês atrás. São elas PT, PMDB, PL, PP, PSB, PTB e PC do B.
É uma conta teórica: estima-se que quase metade da bancada de 89 peemedebistas se coloque como oposição, além de dez dos 53 deputados do PP. Na prática, a base não chega a 300 deputados.
Já os partidos de oposição -PSDB, PFL, PPS, PDT, PSOL e Prona- viram sua bancada conjunta crescer de 151 deputados para 164. Do restante dos deputados, alguns são filiados a legendas sem posicionamento claro, como PSC e PRP, e outros estão sem partido.
Até agora, foram dois os grandes perdedores do processo: o PT e o PL. As legendas têm dois pontos em comum: formaram o cerne da aliança eleitoral que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva e estiveram entre os principais "acusados" na crise política.
O partido de Lula perdeu sete deputados para a oposição nas últimas duas semanas, dois para o PDT e cinco para o PSOL, sigla de extrema esquerda formada por ex-petistas. A debandada, que tem relação direta com o desmoronamento da imagem ética do PT, fez a legenda perder a primeira posição entre as bancadas pela primeira vez desde 2003. Caiu de 90 para 83 parlamentares.
Miro Teixeira (RJ), ex-líder do governo na Câmara e ex-ministro das Comunicações, foi a mais recente perda, migrando para o PDT, embora tenha assegurado ao governo que tomou a decisão apenas por motivos regionais.
Já o PL, cujo presidente nacional, Valdemar Costa Neto, renunciou para fugir da cassação, havia amargado, até ontem à tarde, nove baixas, vendo sua bancada recuar para 40 deputados, abaixo do PTB, seu algoz no escândalo. Cinco deles permaneceram na base: um foi para o PP e quatro mudaram para o PSB.
O PP, também acusado de participar do "mensalão", perdeu cinco deputados federais, entre eles um dos símbolos do partido, o ex-ministro Delfim Netto (SP), que foi para o PMDB. Mas o partido ganhou dois parlamentares, o que minimizou o estrago. O PTB, que teve o papel de acusador na crise, teve ligeiro crescimento, atingindo 48 deputados. "Ainda estamos negociando a filiação de mais três deputados até amanhã [hoje]", declarou Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP).
Os peemedebistas, além de Delfim, receberam outros três parlamentares, chegando a 89, a maior bancada. "Podemos chegar a cem deputados se dois governadores com os quais estamos negociando entrarem no partido", disse o líder da bancada, Wilson Santiago (PB), em referência a Blairo Maggi (PPS-MT) e Paulo Hartung (sem partido-ES).

Vencedores
Até agora o grande vencedor do processo migratório foi o PSOL, partido que triplicou a bancada ao receber egressos do PT. O PSB, partido que está entre aqueles que são mais fiéis ao governo, também teve êxito. Recebeu seis deputados, engordando em quase 30% sua bancada.
Na oposição, o PFL engordou à custa de deputados egressos da base aliada do governo. Ganhou três parlamentares do PL, um do PTB e outro do PP. O partido viu a bancada subir de 56 para 61 deputados, mas ainda está longe de ameaçar o PT e o PMDB.
Já o PSDB ficou praticamente estável. Aumentou sua bancada de 53 para 54 deputados, mas filiou importantes líderes regionais, como o ex-governador de Tocantins Siqueira Campos e o governador de Roraima, Ottomar Pinto. (FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO E CHICO DE GOIS)

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