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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVA DIREÇÃO
Presidente da Câmara diz que deixará decisão para Mesa Diretora; ele foi arrolado como testemunha de defesa de José Dirceu
Aldo pode não presidir sessão de cassação
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Menos de 24 horas depois de
vencer uma disputa acirrada, o
novo presidente da Câmara, Aldo
Rebelo (PC do B-SP), 49, disse à
Folha que pretende delegar aos
sete deputados que compõem a
Mesa Diretora da Casa a decisão
sobre se ele presidirá ou não as
sessões de cassação dos 16 deputados acusados de envolvimento
no escândalo do "mensalão".
Aldo foi arrolado pelo ex-ministro José Dirceu (PT-SP) como
uma de suas testemunhas de defesa no processo de cassação que
sofre no Conselho de Ética da Câmara. Em depoimento ao conselho, o hoje presidente da Câmara
disse: "Acho que hoje ele paga
muito mais pelas suas virtudes do
que pelos seus defeitos (...) Sempre achei que quando a oposição
atirasse contra o governo, o alvo
seria José Dirceu, pela sua história, e pelo seu imaginário".
Anteontem, afirmou que vai
condenar quem tiver culpa, mas
que também terá "coragem e
isenção para defender quem não
tiver culpa".
Durante a rápida entrevista, de
dez minutos, concedida ontem,
Aldo recebeu uma visita do ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha (PT-SP), outro dos cassáveis, que foi lhe dar um abraço.
O comunista negou-se, entretanto, a dizer se considera Dirceu
inocente. "É mais correto resguardar-me para que o Conselho
de Ética e o plenário tomem as
suas decisões sem a minha interferência", afirmou.
Folha - Como o sr. responde às críticas de que o governo atuou com
"rolo compressor" para elegê-lo?
Aldo Rebelo - Eu vejo como críticas naturais em um processo eleitoral que foi conduzido dentro de
um período muito curto, mas
que, superadas as eleições, todos
devemos nos voltar para a prioridade que é a retomada da agenda
da Câmara, das votações, que é o
que o país espera de todos nós.
Folha - Mas houve ou não houve
uma atuação forte do Planalto?
Aldo - Não creio que em uma
eleição tão equilibrada, com uma
diferença tão pequena de votos
[Aldo recebeu 258 e seu adversário no segundo turno, José Thomaz Nonô (PFL-AL), 243], possa
ter havido ingerência externa para produzir resultados.
Folha - O sr. pretende presidir os
processos de cassação de deputados aliados?
Aldo - Qualquer integrante da
Mesa pode presidir qualquer processo contra deputados.
Folha - Mas o sr. pretende presidir todos? Ou alguns sim e outros
não?
Aldo - Prefiro que essa decisão
seja tomada coletivamente com a
Mesa.
Folha - Há possibilidade de arquivamento de processos contra deputados?
Aldo - Não sei que processos a
Mesa precisará examinar, mas
examinaremos todos com rigor,
espírito de Justiça e equilíbrio.
Folha - No Conselho de Ética, o sr.
deu a entender que acredita na
inocência de José Dirceu. O sr. o
considera inocente?
Aldo - Essa apreciação está em
curso. O Conselho de Ética tomará uma decisão e em seguida o
plenário da Casa vai adotar a decisão final.
Folha - Mas o sr. considera Dirceu
inocente?
Aldo - Como presidente da Câmara não me cabe fazer a apreciação sobre o julgamento de um colegiado que presido. É mais correto resguardar-me para que o Conselho de Ética e o plenário tomem
as suas decisões sem a minha interferência.
Folha - Como o sr. pretende marcar sua gestão?
Aldo - Com a simplicidade, em
primeiro lugar, e com a retomada
das atividades plenas da Câmara
dos Deputados como instância
mediadora dos desafios e das expectativas da sociedade brasileira.
Folha - Quais pontos da reforma
política podem ser votados?
Aldo -Eu creio que [o fim da]
verticalização [que engessa as coligações nos Estados] reúne um
apoio maior. A [amenização da]
cláusula de barreira [que pode extinguir os pequenos partidos]
reúne mais polêmica e a reforma
eleitoral tem maior grau de consenso também.
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