São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/NOVA DIREÇÃO

Presidente da Câmara diz que deixará decisão para Mesa Diretora; ele foi arrolado como testemunha de defesa de José Dirceu

Aldo pode não presidir sessão de cassação

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de 24 horas depois de vencer uma disputa acirrada, o novo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), 49, disse à Folha que pretende delegar aos sete deputados que compõem a Mesa Diretora da Casa a decisão sobre se ele presidirá ou não as sessões de cassação dos 16 deputados acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão".
Aldo foi arrolado pelo ex-ministro José Dirceu (PT-SP) como uma de suas testemunhas de defesa no processo de cassação que sofre no Conselho de Ética da Câmara. Em depoimento ao conselho, o hoje presidente da Câmara disse: "Acho que hoje ele paga muito mais pelas suas virtudes do que pelos seus defeitos (...) Sempre achei que quando a oposição atirasse contra o governo, o alvo seria José Dirceu, pela sua história, e pelo seu imaginário".
Anteontem, afirmou que vai condenar quem tiver culpa, mas que também terá "coragem e isenção para defender quem não tiver culpa".
Durante a rápida entrevista, de dez minutos, concedida ontem, Aldo recebeu uma visita do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), outro dos cassáveis, que foi lhe dar um abraço.
O comunista negou-se, entretanto, a dizer se considera Dirceu inocente. "É mais correto resguardar-me para que o Conselho de Ética e o plenário tomem as suas decisões sem a minha interferência", afirmou.

 

Folha - Como o sr. responde às críticas de que o governo atuou com "rolo compressor" para elegê-lo?
Aldo Rebelo -
Eu vejo como críticas naturais em um processo eleitoral que foi conduzido dentro de um período muito curto, mas que, superadas as eleições, todos devemos nos voltar para a prioridade que é a retomada da agenda da Câmara, das votações, que é o que o país espera de todos nós.

Folha - Mas houve ou não houve uma atuação forte do Planalto?
Aldo -
Não creio que em uma eleição tão equilibrada, com uma diferença tão pequena de votos [Aldo recebeu 258 e seu adversário no segundo turno, José Thomaz Nonô (PFL-AL), 243], possa ter havido ingerência externa para produzir resultados.

Folha - O sr. pretende presidir os processos de cassação de deputados aliados?
Aldo -
Qualquer integrante da Mesa pode presidir qualquer processo contra deputados.

Folha - Mas o sr. pretende presidir todos? Ou alguns sim e outros não?
Aldo -
Prefiro que essa decisão seja tomada coletivamente com a Mesa.

Folha - Há possibilidade de arquivamento de processos contra deputados?
Aldo -
Não sei que processos a Mesa precisará examinar, mas examinaremos todos com rigor, espírito de Justiça e equilíbrio.

Folha - No Conselho de Ética, o sr. deu a entender que acredita na inocência de José Dirceu. O sr. o considera inocente?
Aldo -
Essa apreciação está em curso. O Conselho de Ética tomará uma decisão e em seguida o plenário da Casa vai adotar a decisão final.

Folha - Mas o sr. considera Dirceu inocente?
Aldo -
Como presidente da Câmara não me cabe fazer a apreciação sobre o julgamento de um colegiado que presido. É mais correto resguardar-me para que o Conselho de Ética e o plenário tomem as suas decisões sem a minha interferência.

Folha - Como o sr. pretende marcar sua gestão?
Aldo -
Com a simplicidade, em primeiro lugar, e com a retomada das atividades plenas da Câmara dos Deputados como instância mediadora dos desafios e das expectativas da sociedade brasileira.

Folha - Quais pontos da reforma política podem ser votados?
Aldo -
Eu creio que [o fim da] verticalização [que engessa as coligações nos Estados] reúne um apoio maior. A [amenização da] cláusula de barreira [que pode extinguir os pequenos partidos] reúne mais polêmica e a reforma eleitoral tem maior grau de consenso também.


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