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DIPLOMACIA
Em evento, presidente critica países que interferem em outros governos e diz que integração sul-americana incomoda
Em discurso, Lula faz defesa de Chávez
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva aproveitou ontem seu discurso em solenidade de assinatura de atos com a Venezuela para
defender o colega Hugo Chávez,
apoiar a integração da América
do Sul e dizer que a parceria entre
os governos da região incomoda
porque estávamos acostumados a
falar "amém".
Ao lado do presidente venezuelano, Lula afirmou que o colega
era "demonizado" no Brasil e usado por adversários seus nas eleições de 2002 como exemplo do
que não deveria ser feito no país.
"Eu jamais poderia fazer as coisas que o Chávez faz porque ele é
mais jovem do eu e o seu país tem
mais petróleo do que o meu",
brincou Lula. E completou: "Não
sei se a América Latina teve um
presidente com as experiências
colocadas em prática na Venezuela. Um presidente que ganha eleições, faz uma Constituição e propõe um referendo para ele mesmo. Faz um referendo e ganha
eleições outra vez. Ninguém pode
acusar de não ter democracia [na
Venezuela]."
Para o presidente brasileiro, as
obras executadas em parcerias
entre os governos da região são o
resultado concreto da integração.
"E certamente, presidente Chávez, isso incomoda. Incomoda
porque as pessoas estavam habituadas a decidir, e nós a dizermos
"amém'", completou Lula.
Entre os atos assinados ontem,
está a construção de uma refinaria
de petróleo no Porto de Suape, em
Pernambuco, com investimentos
de US$ 2,5 bilhões divididos entre
a brasileira Petrobras e a empresa
Petróleos de Venezuela (PDVSA).
Ao tratar da decisão de manter a
refinaria em Pernambuco, após
disputa entre vários Estados, Lula
disse que a escolha do local foi um
pedido da PDVSA. "Certamente
tem outros Estados que precisam
de refinaria. Mas, nesse caso concreto, foram a PDVSA e o presidente Chávez que colocaram a necessidade de ser em Pernambuco
essa refinaria", disse.
Indiretamente e sem citar nomes, Lula acabou criticando governos que interferem em decisões de outros países.
"Não aceitamos, em hipótese alguma, que alguém diga os passos
que temos que dar e o tamanho
dos passos que nós temos que dar.
Afinal de contas, já faz muito tempo que nós conquistamos a nossa
independência", afirmou.
No início de seu discurso, presidente brasileiro também disse
que no Brasil sempre prevaleceu
uma cultura de relação preferencial com os Estados Unidos e com
a União Européia, deixando os
países pobres "secundarizados
nas nossas relações".
Lula citou ainda a reunião para
tratar da Comunidade Sul-Americana de Nações, durante a cúpula, que termina hoje em Brasília.
Disse que essa reunião "parecia
impossível aos olhos teóricos de
alguns analistas".
"Essa comunidade tem que ser
integrada do ponto de vista político, cultural, comercial, mas, sobretudo, tem que ser integrada do
ponto de vista da nossa infra-estrutura. Porque sem comunicação, sem energia, sem pontes, sem
ferrovias, sem hidrovias, sem estradas, sem aeroportos não há integração. Haverá discursos, mas
não integração."
Também estavam no evento os
governadores de Pernambuco,
Jarbas Vasconcelos (PMDB), e do
Acre, Jorge Viana (PT), ministros,
parlamentares e o ex-presidente
da Câmara Severino Cavalcanti
(PP-PE), que renunciou ao mandato desde hoje ocupado por Aldo Rebelo (PC do B-SP).
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