São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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DIPLOMACIA

Em evento, presidente critica países que interferem em outros governos e diz que integração sul-americana incomoda

Em discurso, Lula faz defesa de Chávez

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou ontem seu discurso em solenidade de assinatura de atos com a Venezuela para defender o colega Hugo Chávez, apoiar a integração da América do Sul e dizer que a parceria entre os governos da região incomoda porque estávamos acostumados a falar "amém".
Ao lado do presidente venezuelano, Lula afirmou que o colega era "demonizado" no Brasil e usado por adversários seus nas eleições de 2002 como exemplo do que não deveria ser feito no país.
"Eu jamais poderia fazer as coisas que o Chávez faz porque ele é mais jovem do eu e o seu país tem mais petróleo do que o meu", brincou Lula. E completou: "Não sei se a América Latina teve um presidente com as experiências colocadas em prática na Venezuela. Um presidente que ganha eleições, faz uma Constituição e propõe um referendo para ele mesmo. Faz um referendo e ganha eleições outra vez. Ninguém pode acusar de não ter democracia [na Venezuela]."
Para o presidente brasileiro, as obras executadas em parcerias entre os governos da região são o resultado concreto da integração. "E certamente, presidente Chávez, isso incomoda. Incomoda porque as pessoas estavam habituadas a decidir, e nós a dizermos "amém'", completou Lula.
Entre os atos assinados ontem, está a construção de uma refinaria de petróleo no Porto de Suape, em Pernambuco, com investimentos de US$ 2,5 bilhões divididos entre a brasileira Petrobras e a empresa Petróleos de Venezuela (PDVSA).
Ao tratar da decisão de manter a refinaria em Pernambuco, após disputa entre vários Estados, Lula disse que a escolha do local foi um pedido da PDVSA. "Certamente tem outros Estados que precisam de refinaria. Mas, nesse caso concreto, foram a PDVSA e o presidente Chávez que colocaram a necessidade de ser em Pernambuco essa refinaria", disse.
Indiretamente e sem citar nomes, Lula acabou criticando governos que interferem em decisões de outros países.
"Não aceitamos, em hipótese alguma, que alguém diga os passos que temos que dar e o tamanho dos passos que nós temos que dar. Afinal de contas, já faz muito tempo que nós conquistamos a nossa independência", afirmou.
No início de seu discurso, presidente brasileiro também disse que no Brasil sempre prevaleceu uma cultura de relação preferencial com os Estados Unidos e com a União Européia, deixando os países pobres "secundarizados nas nossas relações".
Lula citou ainda a reunião para tratar da Comunidade Sul-Americana de Nações, durante a cúpula, que termina hoje em Brasília. Disse que essa reunião "parecia impossível aos olhos teóricos de alguns analistas".
"Essa comunidade tem que ser integrada do ponto de vista político, cultural, comercial, mas, sobretudo, tem que ser integrada do ponto de vista da nossa infra-estrutura. Porque sem comunicação, sem energia, sem pontes, sem ferrovias, sem hidrovias, sem estradas, sem aeroportos não há integração. Haverá discursos, mas não integração."
Também estavam no evento os governadores de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), e do Acre, Jorge Viana (PT), ministros, parlamentares e o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou ao mandato desde hoje ocupado por Aldo Rebelo (PC do B-SP).


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