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CASO MALUF
Justiça não aceita pedido de reconsideração da prisão do ex-prefeito e de seu filho Flávio, presos há 20 dias na PF
Juíza nega revogação e mantém Maluf preso
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A juíza da 2ª Vara Federal de
São Paulo, Sílvia Maria Rocha,
não aceitou ontem revogar o pedido de prisão preventiva do ex-prefeito Paulo Maluf e de seu filho
Flávio. Os dois deverão permanecer presos na carceragem da Polícia Federal em São Paulo pelo menos até o julgamento do habeas
corpus impetrado no Tribunal
Regional Federal, o que pode levar ainda 30 dias.
O pedido de revogação da prisão havia sido feito por advogados de Maluf, que alegaram não
haver mais riscos de eles interferirem no andamento do processo,
já que o doleiro Vivaldo Alves, conhecido como Birigüi, principal
acusador do ex-prefeito, já havia
prestado depoimento na Justiça.
À época, a juíza baseou sua decisão em escutas telefônicas que revelaram uma tentativa dos Maluf
de interferirem no depoimento
do doleiro. Vivaldo Alves foi ouvido em juízo e confirmou o que havia declarado ao Ministério Público Federal: que movimentou
US$ 161 milhões nos Estados Unidos a pedido de Flávio.
Ontem a magistrada entendeu
que, além do interrogatório do
doleiro, Maluf e Flávio poderiam
interferir no depoimento de outras testemunhas que serão ouvidas durante o período de instrução penal, fixado em 81 dias.
Ontem à noite, ao ser visitado
por sua nora Jacqueline, mulher
de Flávio, e por advogados, Maluf
chorou e reclamou da incerteza
de não saber quando seria libertado. Ainda se queixou de dores no
estômago e no coração. Foi atendido pela manhã por médicos da
Polícia Federal, que constataram
que ele estava bem. A família de
Maluf divulgou uma nota anteontem dizendo-se preocupada com
o estado de saúde do ex-prefeito.
Maluf reclamou de dores no
peito na noite de segunda-feira.
No dia seguinte pela manhã, foi
transferido ao Instituto do Coração, onde passou por um exame
de cateterismo. O ex-prefeito teve
alta hospitalar 24 horas depois.
Os advogados de Maluf deverão
entrar hoje com um pedido na
Justiça para que o ex-prefeito seja
novamente transferido para um
hospital, para que ele passe por
exames no estômago.
Na noite de ontem, porém, o ex-prefeito também foi examinado
pelos médicos Roberto Kalil (cardiologista) e Sérgio Nahas (gastroenterologista). Ao deixarem o
prédio da sede da Superintendência da Polícia Federal, às 21h20,
disseram que o ex-prefeito está
bem e não necessita, por enquanto, de uma nova internação. "Se
demos alta hospitalar, é porque
Maluf está bem. Ele está sendo
medicado para o problema no coração e para o estômago."
Boato
Na começo da noite de ontem,
havia um boato de que a juíza revogaria a prisão preventiva dos
dois. Até às 19h20 de ontem, os
advogados não haviam confirmado a decisão da juíza.
Sabendo disso, o ex-prefeito havia informado que deixaria todos
os seus pertences, como roupas,
colchão e cobertor, para os demais presos.
Ainda na noite de ontem, o procurador responsável pelo caso,
Rodrigo de Grandis, fez uma visita à juíza federal. O procurador
disse que foi apenas despedir-se
dela, pois está entrando de férias.
À tarde, Maluf e Flávio receberam a visita do deputado estadual
Antônio Salim Curiati (PP-SP),
que esperava que Maluf e Flávio
fossem soltos ontem.
Na prisão
Desde que se entregou à Polícia
Federal, há 20 dias, Maluf chegou
a dividir a cela de aproximadamente 12 m2 com pelo menos outras quatro pessoas além de Flávio. Numa operação do Ministério Público Federal, procuradores
descobriram que o ex-prefeito tinha direito a uma sala exclusiva
para guardar seus pertences, recebia os netos na cozinha -no lugar do pátio destinado a todas as
visitas-, e tinha horários mais
flexíveis para ficar dentro da cela.
Segundo agentes da Polícia Federal, nos primeiros dias em que
esteve preso, Maluf estava mais
comunicativo, cumprimentava e
conversava com as pessoas que
encontrava. Nos últimos dias, no
entanto, o ex-prefeito tem se mostrado abatido, reclamando de dores e da qualidade da comida.
A única atividade da qual tem
participado com outros presos é
na sala de lazer, onde costuma assistir televisão. Flávio tem se mostrado depressivo durante a prisão.
Ele corre todos os dias munido de
um "ipod", mas nunca aceitou
convite dos demais presos para
participar de jogos de futebol promovidos no pátio. Os advogados
de Maluf contestam a versão de
que eles tenham qualquer regalia.
Maluf e Flávio respondem a
dois processos criminais e a um
cível, por improbidade administrativa (má gestão pública). De
acordo com o Ministério Público,
Maluf desviou dinheiro durante a
gestão dele na Prefeitura de São
Paulo (1993-1996). A Promotoria
de Justiça da Cidadania argumenta que, apenas na Suíça, os Maluf
movimentaram US$ 446 milhões.
O dinheiro creditado aos Maluf
no exterior está bloqueado.
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