São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 2005

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CASO MALUF

Justiça não aceita pedido de reconsideração da prisão do ex-prefeito e de seu filho Flávio, presos há 20 dias na PF

Juíza nega revogação e mantém Maluf preso

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A juíza da 2ª Vara Federal de São Paulo, Sílvia Maria Rocha, não aceitou ontem revogar o pedido de prisão preventiva do ex-prefeito Paulo Maluf e de seu filho Flávio. Os dois deverão permanecer presos na carceragem da Polícia Federal em São Paulo pelo menos até o julgamento do habeas corpus impetrado no Tribunal Regional Federal, o que pode levar ainda 30 dias.
O pedido de revogação da prisão havia sido feito por advogados de Maluf, que alegaram não haver mais riscos de eles interferirem no andamento do processo, já que o doleiro Vivaldo Alves, conhecido como Birigüi, principal acusador do ex-prefeito, já havia prestado depoimento na Justiça.
À época, a juíza baseou sua decisão em escutas telefônicas que revelaram uma tentativa dos Maluf de interferirem no depoimento do doleiro. Vivaldo Alves foi ouvido em juízo e confirmou o que havia declarado ao Ministério Público Federal: que movimentou US$ 161 milhões nos Estados Unidos a pedido de Flávio.
Ontem a magistrada entendeu que, além do interrogatório do doleiro, Maluf e Flávio poderiam interferir no depoimento de outras testemunhas que serão ouvidas durante o período de instrução penal, fixado em 81 dias.
Ontem à noite, ao ser visitado por sua nora Jacqueline, mulher de Flávio, e por advogados, Maluf chorou e reclamou da incerteza de não saber quando seria libertado. Ainda se queixou de dores no estômago e no coração. Foi atendido pela manhã por médicos da Polícia Federal, que constataram que ele estava bem. A família de Maluf divulgou uma nota anteontem dizendo-se preocupada com o estado de saúde do ex-prefeito.
Maluf reclamou de dores no peito na noite de segunda-feira. No dia seguinte pela manhã, foi transferido ao Instituto do Coração, onde passou por um exame de cateterismo. O ex-prefeito teve alta hospitalar 24 horas depois.
Os advogados de Maluf deverão entrar hoje com um pedido na Justiça para que o ex-prefeito seja novamente transferido para um hospital, para que ele passe por exames no estômago.
Na noite de ontem, porém, o ex-prefeito também foi examinado pelos médicos Roberto Kalil (cardiologista) e Sérgio Nahas (gastroenterologista). Ao deixarem o prédio da sede da Superintendência da Polícia Federal, às 21h20, disseram que o ex-prefeito está bem e não necessita, por enquanto, de uma nova internação. "Se demos alta hospitalar, é porque Maluf está bem. Ele está sendo medicado para o problema no coração e para o estômago."

Boato
Na começo da noite de ontem, havia um boato de que a juíza revogaria a prisão preventiva dos dois. Até às 19h20 de ontem, os advogados não haviam confirmado a decisão da juíza.
Sabendo disso, o ex-prefeito havia informado que deixaria todos os seus pertences, como roupas, colchão e cobertor, para os demais presos.
Ainda na noite de ontem, o procurador responsável pelo caso, Rodrigo de Grandis, fez uma visita à juíza federal. O procurador disse que foi apenas despedir-se dela, pois está entrando de férias.
À tarde, Maluf e Flávio receberam a visita do deputado estadual Antônio Salim Curiati (PP-SP), que esperava que Maluf e Flávio fossem soltos ontem.

Na prisão
Desde que se entregou à Polícia Federal, há 20 dias, Maluf chegou a dividir a cela de aproximadamente 12 m2 com pelo menos outras quatro pessoas além de Flávio. Numa operação do Ministério Público Federal, procuradores descobriram que o ex-prefeito tinha direito a uma sala exclusiva para guardar seus pertences, recebia os netos na cozinha -no lugar do pátio destinado a todas as visitas-, e tinha horários mais flexíveis para ficar dentro da cela.
Segundo agentes da Polícia Federal, nos primeiros dias em que esteve preso, Maluf estava mais comunicativo, cumprimentava e conversava com as pessoas que encontrava. Nos últimos dias, no entanto, o ex-prefeito tem se mostrado abatido, reclamando de dores e da qualidade da comida.
A única atividade da qual tem participado com outros presos é na sala de lazer, onde costuma assistir televisão. Flávio tem se mostrado depressivo durante a prisão. Ele corre todos os dias munido de um "ipod", mas nunca aceitou convite dos demais presos para participar de jogos de futebol promovidos no pátio. Os advogados de Maluf contestam a versão de que eles tenham qualquer regalia.
Maluf e Flávio respondem a dois processos criminais e a um cível, por improbidade administrativa (má gestão pública). De acordo com o Ministério Público, Maluf desviou dinheiro durante a gestão dele na Prefeitura de São Paulo (1993-1996). A Promotoria de Justiça da Cidadania argumenta que, apenas na Suíça, os Maluf movimentaram US$ 446 milhões. O dinheiro creditado aos Maluf no exterior está bloqueado.


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