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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Lula diz que acertou ao não ir ao debate
Segundo presidente, encontro na TV Globo provou que "baixo nível dos adversários" é a principal marca desta campanha
Petista afirma que imprensa se democratizou e que, se já fosse assim em 89, ele teria ganho a eleição presidencial já na sua primeira tentativa
EM SÃO PAULO
DA REDAÇÃO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem estar
certo de que tomou a decisão
correta em faltar ao debate promovido anteontem pela TV
Globo. Justificou dizendo que o
"baixo nível" dos adversários,
que teria ficado comprovado no
debate, foi a grande marca dessa campanha eleitoral.
"Todo o povo assistiu [ao debate] e viu o nível que os meus
adversários queriam. Eles deveriam ter aproveitado a oportunidade para falar o que pretendem fazer com o Brasil",
afirmou o presidente Lula, ao
chegar para uma visita à fábrica
da Mercedes-Benz, em São
Bernardo do Campo (SP), seu
berço político.
Quando um jornalista perguntou qual foi a marca da campanha que se encerra hoje, Lula
foi direto: "O baixo nível dos
adversários".
Em uma atitude rara, o petista elogiou a imprensa, que freqüentemente é colocada como
parte da "conspiração das elites" nos discursos dele. Lula relembrou eleições passadas, dizendo que poderia ter sido eleito se a mídia já adotasse procedimentos atuais.
"Ninguém pode se queixar
nesta campanha da cobertura
da imprensa. Se eu tivesse tido
metade da imprensa que eu tive
agora, já teria ganho em 89,
quem sabe em 94. A imprensa
se democratizou demais, não
importa se a gente gosta ou não
gosta da cobertura", afirmou.
No discurso realizado em seu
último comício, porém, o presidente foi irônico ao se referir à
imprensa, dizendo que seus
profissionais eram "companheiros de boa índole", "operários da comunicação" e que não
sabia como agradecer as gentilezas que recebia deles.
Convicção abalada
Apesar do discurso do presidente, a contrariedade da Globo com a ausência de Lula e a
divulgação da foto com os reais
e dólares apreendidos no caso
do dossiê abalaram a convicção
da cúpula do governo numa vitória no primeiro turno, segundo a Folha apurou.
Publicamente, será mantido
o discurso de que Lula e auxiliares crêem na vitória amanhã.
O candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, chegou a afirmar que,
depois do debate, o eleitor ficou convencido de que Lula é o
candidato que tem mais condições de governar o país.
Reservadamente, porém, o
presidente e os principais ministros mostram preocupação
com possíveis efeitos negativos
sobre a campanha.
Durante a tarde de ontem,
auxiliares do presidente temiam a repercussão que seria
dada à foto no "Jornal Nacional", bem como o tom da cobertura do debate de quinta à
noite ao qual Lula faltou após
alimentar suspense sobre a
possibilidade de comparecer.
Lula foi alvo de ataques no
debate, que contou com a
presença de Geraldo Alckmin
(PSDB), Heloísa Helena
(PSOL) e Cristovam Buar-
que (PDT).
Na versão oficial, o petista
não assistiu ao debate. No entanto, viu a parte final do encontro quando chegou ao apartamento de São Bernardo.
Ataques
No debate, os candidatos e o
mediador William Bonner criticaram a ausência de Lula. Foram mostradas imagens de
uma cadeira vazia que tinha um
letreiro com seu nome. Os ataques mais duros vieram de Heloísa, como previsto pelos estrategistas. Ela disse que o PT
virou uma "organização criminosa comandada pelo presidente da República" e acusou
Lula de não ter "autoridade
moral" para debater e explicar
os escândalos do governo. Daí
sua ausência, afirmou.
Alckmin, num tom menos
agressivo, disse que o mensalão
foi "tramado no Planalto por
meio da cúpula do PT" e citou
nomes de ex-ministros envolvidos em escândalos. Cristovam que disse que perguntaria
ao presidente se ele renunciaria caso aconteçam novos casos
de corrupção em seu governo,
afirmou que faltar ao debate
era uma forma de corrupção.
Na avaliação da cúpula da
campanha de Lula, o debate em
si teria pouco impacto. Nas palavras de um auxiliar direto, "a
surpresa negativa da ausência"
teria se diluído ao longo de um
programa "frio e sem graça". A
preocupação maior era com a
repercussão que a Globo, contrariada, daria ao debate.
(FÁBIO ZANINI, KENNEDY ALENCAR, TALITA FIGUEIREDO E MATHEUS PICHONELLI)
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