São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Lula diz que acertou ao não ir ao debate

Segundo presidente, encontro na TV Globo provou que "baixo nível dos adversários" é a principal marca desta campanha

Petista afirma que imprensa se democratizou e que, se já fosse assim em 89, ele teria ganho a eleição presidencial já na sua primeira tentativa


EM SÃO PAULO
DA REDAÇÃO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem estar certo de que tomou a decisão correta em faltar ao debate promovido anteontem pela TV Globo. Justificou dizendo que o "baixo nível" dos adversários, que teria ficado comprovado no debate, foi a grande marca dessa campanha eleitoral.
"Todo o povo assistiu [ao debate] e viu o nível que os meus adversários queriam. Eles deveriam ter aproveitado a oportunidade para falar o que pretendem fazer com o Brasil", afirmou o presidente Lula, ao chegar para uma visita à fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo (SP), seu berço político.
Quando um jornalista perguntou qual foi a marca da campanha que se encerra hoje, Lula foi direto: "O baixo nível dos adversários".
Em uma atitude rara, o petista elogiou a imprensa, que freqüentemente é colocada como parte da "conspiração das elites" nos discursos dele. Lula relembrou eleições passadas, dizendo que poderia ter sido eleito se a mídia já adotasse procedimentos atuais.
"Ninguém pode se queixar nesta campanha da cobertura da imprensa. Se eu tivesse tido metade da imprensa que eu tive agora, já teria ganho em 89, quem sabe em 94. A imprensa se democratizou demais, não importa se a gente gosta ou não gosta da cobertura", afirmou.
No discurso realizado em seu último comício, porém, o presidente foi irônico ao se referir à imprensa, dizendo que seus profissionais eram "companheiros de boa índole", "operários da comunicação" e que não sabia como agradecer as gentilezas que recebia deles.

Convicção abalada
Apesar do discurso do presidente, a contrariedade da Globo com a ausência de Lula e a divulgação da foto com os reais e dólares apreendidos no caso do dossiê abalaram a convicção da cúpula do governo numa vitória no primeiro turno, segundo a Folha apurou.
Publicamente, será mantido o discurso de que Lula e auxiliares crêem na vitória amanhã.
O candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, chegou a afirmar que, depois do debate, o eleitor ficou convencido de que Lula é o candidato que tem mais condições de governar o país.
Reservadamente, porém, o presidente e os principais ministros mostram preocupação com possíveis efeitos negativos sobre a campanha.
Durante a tarde de ontem, auxiliares do presidente temiam a repercussão que seria dada à foto no "Jornal Nacional", bem como o tom da cobertura do debate de quinta à noite ao qual Lula faltou após alimentar suspense sobre a possibilidade de comparecer.
Lula foi alvo de ataques no debate, que contou com a presença de Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buar- que (PDT).
Na versão oficial, o petista não assistiu ao debate. No entanto, viu a parte final do encontro quando chegou ao apartamento de São Bernardo.

Ataques
No debate, os candidatos e o mediador William Bonner criticaram a ausência de Lula. Foram mostradas imagens de uma cadeira vazia que tinha um letreiro com seu nome. Os ataques mais duros vieram de Heloísa, como previsto pelos estrategistas. Ela disse que o PT virou uma "organização criminosa comandada pelo presidente da República" e acusou Lula de não ter "autoridade moral" para debater e explicar os escândalos do governo. Daí sua ausência, afirmou.
Alckmin, num tom menos agressivo, disse que o mensalão foi "tramado no Planalto por meio da cúpula do PT" e citou nomes de ex-ministros envolvidos em escândalos. Cristovam que disse que perguntaria ao presidente se ele renunciaria caso aconteçam novos casos de corrupção em seu governo, afirmou que faltar ao debate era uma forma de corrupção.
Na avaliação da cúpula da campanha de Lula, o debate em si teria pouco impacto. Nas palavras de um auxiliar direto, "a surpresa negativa da ausência" teria se diluído ao longo de um programa "frio e sem graça". A preocupação maior era com a repercussão que a Globo, contrariada, daria ao debate.
(FÁBIO ZANINI, KENNEDY ALENCAR, TALITA FIGUEIREDO E MATHEUS PICHONELLI)

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