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CRISE NOS MUNICÍPIOS
AES decide interromper fornecimento em cidades gaúchas inadimplentes com a empresa
Distribuidora corta luz de áreas públicas
CARLOS ALBERTO DE SOUZA
da Agência Folha, em Porto Alegre
A AES Sul, distribuidora de
energia elétrica que atua em um
terço do território gaúcho, decidiu cortar a luz de 36 praças públicas de cinco cidades cujas prefeituras não estão pagando as contas
de iluminação pública.
A distribuidora, que colocaria a
medida em prática ontem à noite
em Santa Maria, São Gabriel, Canoas, Novo Hamburgo e Campo
Bom, pertence à norte-americana
AES, controladora da Companhia
de Geração de Energia Elétrica
Tietê desde quarta-feira última,
quando foi realizado o leilão da
empresa do governo paulista.
Os cortes de energia, por tempo
indeterminado, deverão se ampliar para outras cidades com débitos e atingir áreas além das praças públicas, se não houver o pagamento. A inadimplência, conforme a AES Sul, remonta a 1997,
em alguns casos.
O responsável pelo atendimento a clientes da AES Sul, João Caldeira, disse que 50 (39%) dos 128
municípios atendidos estão em
atraso com as contas. Cerca de 25
das prefeituras devedoras respondem por 85% da dívida total, de
R$ 21 milhões.
"Nunca no Brasil se cortou luz
do poder público. Esperamos que
seja um processo de aprendizado", disse Caldeira. Ele declarou
que antes de deflagrar o "plano de
corte", a AES Sul tentou, sem sucesso, negociar o pagamento.
A decisão de barrar o fornecimento de energia a praças públicas foi transmitida aos prefeitos e
aos comandos municipais da Polícia Militar, porque envolve
questão de segurança.
A Federação das Associações de
Municípios do Rio Grande do Sul,
principal entidade de representação dos prefeitos do Estado, disse
que a interrupção prejudicará a
população.
Alguns municípios com dívidas
ingressaram na Justiça e ganharam liminar contra um eventual
desligamento de luz.
O presidente da federação, Alceu Moreira, disse que cortar a
energia elétrica não resolverá o
problema entre as prefeituras e as
concessionárias.
Além da AES, a RGE e a CEEE
(estatal) atuam na distribuição. A
CEEE tem a receber cerca de R$
70 milhões de mais de 160 municípios e está negociando. A RGE
não informou sobre sua situação.
Moreira disse que o problema
começou em 88, quando a taxa de
iluminação pública que as prefeituras cobravam dos consumidores foi considerada inconstitucional. "Sem a cobrança da taxa, os
municípios ficaram sem recursos
para pagar o serviço", declarou.
À vista
A AES Sul, que comprou parte
da CEEE em 1997 por cerca de R$
1,5 bilhão, alega que paga à vista a
energia que distribui e recolhe o
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) na
emissão da fatura.
"Recolhemos R$ 14 milhões de
imposto", disse Caldeira, para
quem o poder público deveria honrar seus compromissos. Ele lembrou que as pessoas que atrasam
suas contas de luz ficam com suas
casas às escuras.
Até o fechamento desta edição,
a única cidade que informou que
praças estavam sem luz foi Canoas. O prefeito de Canoas, Hugo
Lagranha (PMDB), afirmou que
ingressaria com uma ação na Justiça tentando impedir o corte de
luz em 13 praças da cidade, na região metropolitana de Porto Alegre. Pelo menos três das praças se
localizam no centro. A dívida é de
R$ 2,1 milhões.
A administração de Novo Hamburgo disse que ingressou na Justiça e obteve ordem para o religamento. A dívida da cidade é de R$
1,5 milhão.
A Prefeitura de Campo Bom,
que deve R$ 1,1 milhão para a
AES, entende que está resguardada por uma medida judicial, datada de agosto passado.
A Agência Folha ligou para os
prefeitos de São Gabriel e de Santa
Maria, mas ninguém atendeu os
telefones.
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