São Paulo, Sábado, 30 de Outubro de 1999
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MISTÉRIO EM AL
Jornalista que sondou delegado diz ter atendido a um pedido do deputado
Augusto teria autorizado suborno

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

O jornalista Roberto Baía, funcionário da família Farias, afirma que o deputado alagoano Augusto Farias (PPB) autorizou tentativa de suborno do delegado Antônio Carlos Lessa para que seu patrão não fosse indiciado como um dos responsáveis pelas mortes do irmão Paulo César Farias, o PC, e da namorada dele, Suzana Marcolino.
A afirmação do jornalista está em laudo do Departamento de Fonética Forense do Instituto de Criminalista da Secretaria de Segurança da Bahia, obtido pela Agência Folha. Lessa gravou a conversa com Baía no dia 23 de agosto passado com a ajuda de uma microcâmera.
Para o secretário de Segurança Pública de Alagoas, Edmilson Miranda, "se tentam comprar um delegado é porque não querem que o trabalho continue. Isso indica que há fatos a serem revelados ainda".
A existência da fita foi revelada pela Folha dois dias após sua gravação, durante almoço entre Lessa e Baía, que se diziam amigos, no restaurante do Renato, frequentado pelo comando da Polícia Civil de Alagoas.
Na fita, Baía diz que Augusto o abordou durante uma festa de aniversário do jornal "Tribuna de Alagoas", diário dos Farias. Baía é chefe da sucursal do jornal em Arapiraca. A festa foi realizada dois dias antes da gravação.
Segundo Baía, Augusto o procurou e disse: "Baía, o Gabriel (Mousinho) quer falar com você. Me ajuda. O que tiver que fazer, vamos fazer. Só sei que você é muito amigo dele (Lessa)".
Baía insistia muito para que Lessa aceitasse o acordo de "bom relacionamento e amizade" com os Farias, de acordo com o que pode ser lido na transcrição.
O policial chega a perguntar de quantos reais ele estava falando. Baía afirma: "Você é quem diz".
A transcrição mostra ainda o teor da conversa que Baía diz ter tido com Gabriel Mousinho, primo de Augusto e editor-chefe da "Tribuna".
"Vá lá e volte a conversar com ele (Lessa) pelo amor de Deus. O Augusto está preocupado com esse negócio (indiciamento). Veja aí como é", teria dito Mousinho ao interlocutor do delegado.
O laudo da fita será anexado aos autos do inquérito sobre as mortes de PC e Suzana, ocorridas no dia 23 de junho de 96.
Os delegados Lessa e Alcides Andrade, que o auxilia, descartam a primeira versão para o crime, pela qual Suzana matou PC e, em seguida, cometeu suicídio. Pareceres técnicos indicam que Suzana não atirou naquela noite.


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