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ECOS DO REGIME
Em ato pelos 25 anos da morte de metalúrgico, Ana diz que país vive momento diferente, mas sem "trabalho nem esperança"
Viúva de Santo Dias não vê mudança com Lula
KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO
Os 25 anos da morte do operário Santo Dias da Silva, assassinado por um policial militar quando
participava de uma das primeiras
greves de metalúrgicos de São
Paulo, foram celebrados ontem
em passeata que reuniu familiares, amigos e representantes de
cerca de 25 ONGs paulistanas.
A marcha, que saiu da Igreja da
Consolação e seguiu até a praça
da Sé, na região central da cidade,
refez o trajeto do cortejo do operário, morto em outubro de 1979.
A viúva de Santo Dias, Ana
Dias, 61, que fez discurso bastante
emocionado, estava acompanhada por filhos e netos. "Nós não desistimos, a luta continua. Acho
que a condição dos trabalhadores
hoje está muito pior, não temos
trabalho nem esperança. O governo não mudou, apesar de ser dirigido por um metalúrgico, que
também sofreu com a repressão",
afirmou Ana.
No entanto, ela diz acreditar que
o país vive um momento diferente e que há interesse em fazer algo
com relação às perdas do regime.
"Mas, sinceramente, não vi mudanças", completou. Perguntada
sobre a possível abertura dos arquivos da ditadura pelo governo,
disse ser a favor, mas não vê resultados práticos: "Acho que devem
ser abertos [os arquivos], mas
nossa história já está escancarada.
Vivemos na pele toda aquela tortura, vai abrir a ferida pra quê?
Todo mundo sofreu, eu sofri, a
Clarice [Herzog] sofreu... hoje, o
que vai adiantar essa abertura, vai
resolver o quê?", disse.
O cardeal arcebispo metropolitano de São Paulo, dom Cláudio
Hummes, também presente no
evento, disse lembrar claramente
a comoção da sociedade quando
da morte de Santo Dias da Silva.
"Foi chocante porque foi era mais
uma morte marcada pela repressão da época", disse o cardeal, que
exaltou a importância do ato e da
luta contra a repressão.
Sobre a abertura dos arquivos,
falou: "Há os que defendem que
sejam abertos imediatamente.
Outros acham que devem ser
abertos gradualmente. Creio que
isso é uma questão técnica que
deve ser discutida profundamente com o governo e com a sociedade, sobretudo com os familiares
das vítimas. Eles é que devem chegar a uma conclusão e serem ouvidos em primeiro lugar".
A filha do metalúrgico, Luciana
Dias da Silva, 34, escreveu livro
sobre a trajetória do pai, "Santo
Dias - Quando o Passado Se
Transforma em História", baseado em depoimentos e documentos, lançado ontem em evento na
Câmara Municipal de São Paulo,
com a presença do arcebispo
emérito de São Paulo, dom Paulo
Evaristo Arns e do vice-prefeito
da cidade Hélio Bicudo.
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