São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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Defesa e Exército não falam de suposto dossiê

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Defesa e o comando do Exército não quiseram comentar reportagem divulgada ontem pela revista "IstoÉ" na qual são descritos detalhes de um suposto dossiê elaborado por militares sobre a guerrilha do Araguaia -movimento armado de integrantes do PC do B que atuou na divisa de Tocantins, Pará e Maranhão, entre 1972 e 1975.
Os conflitos com as Forças Armadas começaram em 1972, mas somente três anos depois o foco guerrilheiro foi completamente destruído. Divulgada ontem na página da revista da internet, a reportagem afirma que teve "acesso a 37 documentos militares secretos ou confidenciais" sobre a guerrilha. Os papéis teriam sido copiados de arquivos pessoais e do Exército.
Um dos trechos mais preciosos da reportagem revela supostos detalhes da execução de Dinalva Conceição Teixeira, a Dina. Teria sido presa em junho de 1974, num local chamado Pau Preto, em companhia de outra guerrilheira, Luiza Augusta Garlipe, a Tuca.
Dina teria sido mantida prisioneira por duas semanas. Depôs em Marabá. No início de julho, levaram-na de helicóptero para a mata. Antes de ser morta, teria travado um diálogo amistoso com seu executor, um sargento do Exército, cujo codinome era Ivan. Caminharam na mata por 15 minutos. "Quero morrer de frente", pediu Dina, segundo o relato reproduzido pela revista. "Então vira pra cá". A guerrilheira o teria fitado. E recebeu um tiro no peito. Depois, na cabeça.
O novo dossiê não trata, porém, de um ponto sempre reclamado pelas famílias dos desaparecidos e mortos no período: a localização dos corpos. Diz que o Exército enterrou inimigos no cemitério de Xambioá e na selva. Em 1975, teria voltado às covas. Os corpos achados teriam sido queimados.
O dossiê traz uma contabilidade do Araguaia. Dos 105 guerrilheiros que participaram do conflito, 64 teriam morrido "em combate"; 18 estariam "desaparecidos"; 15, embora presos, sobreviveram; 7 teriam "desertado"; e 2 "cometeram suicídio". Os números não batem com o que já foi divulgado.


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