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Petistas contradizem versão de deputado
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Membros do Diretório Nacional do PT contradizem a versão
apresentada pelo ex-ministro José
Dirceu (Casa Civil) para justificar
seu nível de conhecimento das
operações realizadas pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares
no bancos Rural e BMG.
José Dirceu nega que tenha tido
informação privilegiada de Delúbio a respeito dos R$ 6 milhões
obtidos pelo PT por meio de dois
empréstimos declarados com aval
do publicitário mineiro Marcos
Valério Fernandes de Souza.
O deputado afirma que soube
quando tais empréstimos foram
informados por Delúbio Soares
ao Diretório Nacional. Dos empréstimos obtidos por meio de
caixa dois, Dirceu diz que não teve conhecimento.
Na semana passada, a Folha
procurou 11 petistas que integravam o Diretório Nacional no período em que foram tomados os
empréstimos declarados, em 2003
e 2004. Deles, nove dizem que não
sabiam de nada e que nunca houve comunicado de Delúbio a respeito do tema; dois alegam que
souberam apenas porque olharam os balancetes fiscais do partido, não divulgados em reuniões.
O desconhecimento por Dirceu
de empréstimos não-declarados
tomados pelo ex-tesoureiro petista com ajuda do publicitário Marcos Valério forma a peça central
de sua defesa. Por outro lado, a
crença de que o ex-ministro tinha
ciência do que fazia Delúbio deve
embasar o voto de muitos deputados pela cassação.
Os empréstimos do BMG e do
Rural estão na prestação de contas entregue à Justiça. Houve ainda cerca de R$ 55,2 milhões obtidos de forma "não-contabilizada". Dirceu admite que sabia dos
empréstimos legais, mas não dos
ilegais. "Os empréstimos legais
foram informados [por Delúbio]
ao diretório", disse, há dez dias.
Empréstimos
Nenhum dos que integravam o
Diretório Nacional do PT e foram
procurados pela Folha confirma
que Delúbio tenha realmente informado o diretório sobre os empréstimos. "Não só eu, como todos da Executiva [Nacional] e do
diretório ignoravam [os empréstimos]. Duvido que alguém soubesse", afirmou Romênio Pereira,
que era o segundo-vice-presidente nacional do PT na época.
Francisco Rocha, coordenador
do Campo Majoritário (ala que
controlava o PT), diz que Delúbio
fazia algumas prestações de contas, mas nunca mencionou os empréstimos. "Participo das reuniões do diretório nacional há 25
anos. Nunca vi isso", disse.
Outro que estranha a versão de
Dirceu é o ex-secretário de Mobilização, Francisco Campos. "Ninguém sabia dos empréstimos, legais ou ilegais. De jeito nenhum.
Posso garantir que o Delúbio
nunca informou."
Já o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, mais um que integrava o Diretório Nacional, diz que a
"esmagadora maioria do Diretório Nacional não sabia".
Hoje no PSOL, o deputado federal Chico Alencar (RJ) afirma que
chegou a perguntar a Delúbio
quem era Marcos Valério, numa
reunião do Diretório Nacional,
assim que o nome do publicitário
mineiro veio à tona. "O Delúbio
disse que era apenas um amigo. E
ignorou os empréstimos, que logo depois apareceriam."
Dívidas
Em depoimento ao Conselho de
Ética em 2 de agosto, Dirceu disse
que sabia que Delúbio procurava
tomar empréstimos legais para
saldar dívidas de campanha.
"Eu tinha conhecimento que o
PT estava endividado e estava
procurando tomar empréstimo
na rede bancária. Mas não que
eram feitos através de Marcos Valério", explicou.
Se os empréstimos legais realmente não tiverem sido comunicados em reunião do diretório, há
duas hipóteses para Dirceu saber
deles. A primeira: procurou e estudou os documentos fiscais do
PT -o que derruba a tese de que
ele, na Casa Civil, não tinha interesse nos assuntos do partido.
A outra, mais grave: foi informado diretamente por Delúbio, o
que desmontaria a versão de que
ele não tratava das finanças do PT
com o tesoureiro e levaria a crer
que também o caixa dois tivesse
sido mencionado em conversas.
A assessoria de Dirceu disse que
ele "não se lembra" de como recebeu a informação dos empréstimos. Diz apenas, sem dar detalhes, que ele tem "certeza de que
isso ocorreu de maneira oficial".
Dois membros do Diretório Nacional ouvidos pela Folha -o deputado federal José Pimentel
(CE), que assumiu a tesouraria no
lugar de Delúbio, em julho, e o ex-secretário de Organização Gleber
Naime- dizem que o partido foi
informado dos empréstimos via
publicação de balancetes fiscais.
"Os empréstimos constam de todos os balancetes. Bastava ir
olhar", disse Pimentel.
Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP),
isso na prática não ocorria. "A tesouraria sempre foi uma coisa
que ninguém deu muita importância no PT. Pouquíssimos se interessavam. Acho até que isso vai
mudar a partir de agora."
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