São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Presidente do PSDB bate boca com líder tucano na Câmara

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Já delicada, a relação entre o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati, e o líder do partido na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA), azedou de vez na noite de terça-feira, durante reunião da Executiva do partido. Os dois protagonizaram um bate-boca -recheado de acusações mútuas de traição e oligarquismo-, para perplexidade de cerca dos 20 tucanos presentes.
Questionado ao longo de toda a noite -inclusive por Jutahy- sobre a performance do partido nas últimas eleições, Tasso explodiu ao debater com o deputado a possibilidade de o PSDB ocupar uma secretaria no governo do petista Jaques Wagner, na Bahia.
"Não tenho mais saco. É insuportável. Jutahy é um eterno criador de casos. Desde 1994, quando traiu Fernando Henrique. Foi o grande traidor do partido", atacou Tasso, ameaçando deixar a reunião, para surpresa de seus participantes.
"Foi uma dissidência. Não traí ninguém. Todo mundo nesta sala sabe quem traiu quem [no PSDB], sabe quem é o traidor", reagiu Jutahy, numa alusão ao apoio de Tasso a Ciro Gomes na eleição de 2002.
Sentados, cada um, à cabeceira de uma grande mesa, foram subindo o tom. Como Jutahy atribuíra seu apoio a Wagner a uma luta histórica contra as oligarquias na Bahia -a qual descreveu como "pré-democrática"-, Tasso ironizou.
"Logo você falando em oligarquia, sendo filho e neto de quem é. Você é um oligarca", gritou Tasso, acusando Jutahy de inibir novas lideranças no PSDB baiano.
"Você é que não tem formação democrática. Não quer ser questionado. Só sabe dar ordens", retrucou Jutahy.
Segundo participantes, em sua intervenção, anterior ao confronto, Jutahy não tinha feito menção ao Ceará, mas comemorara a derrota das oligarquias na Bahia e no Maranhão.
O debate começou após Jutahy defender, em sua exposição, um maior diálogo entre as bancadas no Congresso e criticou a absolvição de senadores acusados de envolvimento na máfia dos sanguessugas.
Minutos depois, Tasso anunciou sua decisão de incluir a participação de tucanos em governos estaduais na pauta da reunião. Ele propôs a aprovação de resolução a respeito.
Evocando a máxima de que "jabuti não sobe em árvore", Jutahy afirmou que a pauta tinha endereço: a Bahia. E, insinuando que a discussão se devia à tentativa de atender aos interesses do senador Antonio Carlos Magalhães, de quem Tasso é amigo, pediu a palavra.
"Está melindrado? Não é para falarmos sobre tudo?", perguntou Tasso, segundo relato dos participantes.
Depois de narrar sua trajetória anti-carlismo, Jutahy defendeu que os Estados tenham autonomia para decidir e lembrou que, durante o governo FHC, o PSDB se aliou ao PT no Acre sem prévia autorização da direção nacional. Tasso reclamou que a cúpula do partido não tenha sido comunicada.
"Como, se há seis meses você não convoca a Executiva?", questionou Jutahy, provocando a fúria de Tasso.
"Coloque para fora suas frustrações", repetia Jutahy, enquanto Tasso gritava. Vice-governador eleito de São Paulo, Alberto Goldman disse que os dois estavam constrangendo o partido. Tasso deixou a reunião, avisando: "Vou voltar ao assunto". Procurados pela Folha, Jutahy confirmou a discussão. Tasso não respondeu.


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