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Lula descarta ajuste fiscal para cobrir CPMF
Em conversas reservadas, presidente e auxiliares afirmam que essa proposta foi rejeitada por eleitores no ano passado
Deverá haver cortes no Orçamento de 2008 para compensar perda do tributo, mas não um retorno ao rigor fiscal do primeiro mandato
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nas últimas reuniões de
2007 para discutir como compensar a perda dos R$ 38 bilhões que pretendia arrecadar
com a CPMF em 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
descartou um ajuste fiscal. Lula
disse que essa proposta constava do programa de governo do
adversário que ele derrotou na
eleição presidencial de 2006, o
ex-governador paulista e tucano Geraldo Alckmin.
Em conversas reservadas,
Lula e seus auxiliares avaliaram
que a oposição e setores da imprensa e do empresariado desejariam usar o episódio da rejeição da prorrogação da CPMF
até 2011 para forçar o governo a
adotar uma agenda de forte
ajuste fiscal derrotada em
2006. Esse caminho não será
trilhado, disseram à Folha auxiliares diretos do presidente.
Haverá cortes no Orçamento
de 2008 para compensar a extinção da CPMF, mas não uma
nova inflexão na política econômica a fim de recuperar o rigor fiscal do primeiro mandato.
Nas palavras de um ministro, a
política econômica dos últimos
três anos do governo Lula continuará a ser um "mix" de desoneração de impostos, corte de
gastos pontuais e uso de elevação da receita tributária para
programas sociais e investimentos em infra-estrutura.
Lula considera que seu esforço máximo é assegurar a meta
anual de superávit primário em
3,8% do PIB (Produto Interno
Bruto). Grosso modo, o superávit primário é a economia feita
para pagar os juros da dívida.
Antes da rejeição da CPMF
pelo Senado na madrugada de
13 de dezembro, a equipe econômica discutiu um cenário
em que reduziria o superávit
primário para até 3,3% do PIB
a fim de compensar eventual
perda. Lula descartou essa saída, mas também a de promover
um ajuste fiscal duro.
O petista deseja que o segundo mandato seja marcado por
maior taxa de crescimento da
economia. Acredita que um
ajuste fiscal em 2008 reduziria
a possibilidade de PIB anual na
casa dos 5% entre 2008 e 2010.
Lula determinou aos ministros Guido Mantega (Fazenda),
Paulo Bernardo (Planejamento) e Dilma Rousseff (Casa Civil) que lhe apresentem em janeiro quais serão as medidas
para compensar a perda da
CPMF. Sua intenção é anunciar cortes no Orçamento em
fevereiro, quando o Congresso
voltará a trabalhar.
Para substituir a CPMF em
2008, a área econômica trabalha com o cenário de combinar
corte de gastos com elevação
da alíquota de certos impostos
e com o previsível aumento da
arrecadação de tributos devido
ao crescimento do PIB.
No cenário principal, os cortes de despesas de investimento e custeio no Orçamento de
2008 ficariam entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões. A ordem
de Lula é preservar, primeiro,
os programas sociais. Depois,
obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
Nos estudos da Fazenda e da
Receita, há previsão de um aumento de tributos que chegue a
algo em torno de R$ 10 bilhões.
Os mesmos organismos estimam que terão entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões a mais de
receita com a tendência de elevação da arrecadação de impostos. Lula, porém, ainda não
decidiu a extensão dos cortes.
Pediu aos ministros que façam
uma sugestão detalhada para
convencê-lo a passar a tesoura.
A Folha apurou que a direção do Banco Central vê com
preocupação a solução que Lula adotará para compensar a
CPMF. Uma parte dos diretores do BC já fala informalmente na possibilidade de elevação
da taxa básica de juros, hipótese com a qual Lula não conta.
Outra ala do BC considera
que seria necessário só manter
a taxa básica no mesmo patamar pelo maior tempo possível.
Hoje, a taxa básica, a Selic, está
em 11,25% ao ano. Essa ala
também acha que, se Lula sinalizar com menor esforço fiscal
para compensar a perda da
CPMF, a política monetária terá de ser mais conservadora.
A cautela se deve a temores
da instituição em relação à meta de inflação. No Relatório de
Inflação divulgado pelo BC, há
previsão de inflação de 4,3%
para 2008 pelo IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo). Essa taxa é próxima da
meta oficial de inflação: 4,5%
ao ano, segundo o IPCA.
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