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Judiciário da Itália pode investigar repressão a descendentes no Brasil
Quem não renunciou à cidadania italiana pode pedir reparação, diz senador
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil é o país com o maior
número de descendentes de
italianos fora a Itália. Alguns
deles foram mortos ou desapareceram durante o regime militar (1964-1985). Os familiares
dessas pessoas podem driblar a
Lei de Anistia, de 1979, e pedir à
Justiça italiana a investigação
dos casos, diz José Luiz Del
Roio, 65, senador da Itália pela
Refundação Comunista.
Del Roio foi eleito senador no
ano passado e vive no país de
onde vieram seus avós desde
1977. Aqui, militou na clandestinidade pela ALN (Ação Libertadora Nacional) e foi casado
com Isis Dias de Oliveira, também ligada à ALN e desaparecida desde 1972.
"Se ninguém na linha de descendência renunciou à cidadania italiana, ele continua sendo
italiano, não tem limite", diz
Del Roio.
"Todos os descendentes de
italianos que foram mortos ou
desapareceram durante as ditaduras militares podem buscar reparação na Itália."
Segundo ele, o mandado de
prisão expedido pela Justiça
italiana contra 140 pessoas
acusadas de envolvimento com
a Operação Condor (inclusive
11 brasileiros) leva em conta
tanto pessoas com dupla cidadania como também descendentes. A Condor uniu ditaduras do Cone Sul para reprimir
opositores em vários países, inclusive fora da América do Sul.
O processo na Itália atingiu
os brasileiros porque os ítalo-argentinos Horacio Campiglia
e Lorenzo Viñas desapareceram no país em 1980, durante a
Condor. No começo do ano, a
Itália já havia julgado e condenou oficiais argentinos que torturaram e mataram descendentes de italianos.
Há vários ítalo-brasileiros
que desapareceram durante o
regime, como o guerrilheiro
Carlos Marighella, líder da
ALN morto em 1969, e Libero
Castiglia, desaparecido durante a guerrilha do Araguaia
(1972-1974).
Para Del Roio, é improvável
que os brasileiros acusados de
envolvimento com a Condor
sejam presos. A lei italiana não
permite o encarceramento de
pessoas com mais de 70 anos
nem há acordo com o Brasil para extraditar pessoas que nem
sequer estão na cadeia por aqui.
Para o senador, o importante
é a conseqüência política e o
significado histórico. "O processo da Condor pode levar a
uma pressão internacional pela
abertura dos arquivos brasileiros", diz ele.
E emenda: "Ficará para a história que essas pessoas, embora
não tenham sido presas, foram
condenadas, sim".
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