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Fórum lança proposta para haver
diálogo entre empresas e ONGs
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O Fórum Econômico Mundial
lançou ontem a "Iniciativa para o
Diálogo Informal", destinada a
construir confiança e respeito entre empresas e ONGs para que
possam, em conjunto, avançar
em cinco áreas.
A iniciativa surge apenas 24 horas depois de ter ficado exposta
em público a crise entre o Fórum
de Davos e as ONGs, causada pela
proibição das autoridades suíças
para que fossem realizadas manifestações de protesto.
É uma evidência de que, por
profundas que sejam as desconfianças entre as partes, já não é
possível ignorar a força das ONGs
e dos protestos que elas organizam.
"As pessoas inteligentes podem
não gostar dos métodos usados
nos protestos, mas percebem que,
por trás deles, há um problema",
comenta Juan Somavia, o chileno
que comanda hoje a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Os problemas que ONGs e empresários tentarão enfrentar conjuntamente são cinco: educação,
condições gerais de trabalho,
meio ambiente, governança local
e finanças internacionais.
Dois terão prioridade: trabalho
infantil e educação.
O "Diálogo Informal" tem o
apoio de algumas das mais importantes ONGs do planeta, como
a Transparência Internacional, o
Greenpeace, a Oxfam da Grã-Bretanha e de grifes não menos vistosas do mundo de negócios (Ford,
Nestlé, McDonald's, Coca-Cola).
A iniciativa marcou até uma data (setembro) para funcionar como marco. Nesse mês, é realizada
sessão especial da Organização
das Nações Unidas sobre crianças, uma oportunidade única,
portanto, para mostrar o que
ONGs e empresas podem fazer
para mudar um cenário dramático: há 250 milhões de crianças de
menos de 15 anos que trabalham,
em países em desenvolvimento.
As duas partes admitem que a
idéia de diálogo entre elas "é um
exercício em um negócio arriscado", como diz o comunicado que
emitiram.
McDonald's: alvo injusto
Uma mesa-redonda entre elas,
ontem pela manhã, deixou claros
os riscos.
Jack Greenberg, presidente e
executivo-chefe da McDonald's
Corporation, queixou-se amargamente de as lanchonetes da rede
terem se transformado em alvos
prioritários de violência durante
protestos.
Para ele, a rede McDonald's é
exatamente o oposto do que é tão
criticado na globalização (o domínio do mundo pelas grandes
corporações), por se tratar de
"um aglomerado de pequenos negócios" (as franquias da marca no
mundo todo).
"No Brasil, empregamos brasileiros, compramos produtos brasileiros e até exportamos produtos brasileiros", orgulha-se
Greenberg.
Ele conta que ativistas já chegaram a lhe confessar que não é justo atacar lojas do McDonald's,
"mas é a única maneira de ter
uma foto publicada em "The New
York Times'".
Mas os representantes das
ONGs também reclamaram. Dizem que os empresários geralmente pedem que o diálogo com
as ONGs seja mantido em segredo
e/ou que elas cessem as manifestações contra a empresa para que
o diálogo possa ocorrer.
Burkhard Gnarig, da "Aliança
Internacional Salvar Crianças",
diz que as campanhas públicas
são a única maneira de conseguir
a atenção das empresas "A única
razão pela qual nos convidam é
que nós somos capazes de mobilizar pessoas", diz o ativista.
De todo modo, o próprio Gnarig dá uma sólida razão para mergulhar no diálogo com o mundo
dos negócios: "Nem a sociedade
civil sozinha nem as empresas
isoladamente nem o governo por
si só podem resolver os problemas".
(CR)
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