São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2001

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Fórum lança proposta para haver diálogo entre empresas e ONGs

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O Fórum Econômico Mundial lançou ontem a "Iniciativa para o Diálogo Informal", destinada a construir confiança e respeito entre empresas e ONGs para que possam, em conjunto, avançar em cinco áreas.
A iniciativa surge apenas 24 horas depois de ter ficado exposta em público a crise entre o Fórum de Davos e as ONGs, causada pela proibição das autoridades suíças para que fossem realizadas manifestações de protesto.
É uma evidência de que, por profundas que sejam as desconfianças entre as partes, já não é possível ignorar a força das ONGs e dos protestos que elas organizam.
"As pessoas inteligentes podem não gostar dos métodos usados nos protestos, mas percebem que, por trás deles, há um problema", comenta Juan Somavia, o chileno que comanda hoje a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Os problemas que ONGs e empresários tentarão enfrentar conjuntamente são cinco: educação, condições gerais de trabalho, meio ambiente, governança local e finanças internacionais.
Dois terão prioridade: trabalho infantil e educação.
O "Diálogo Informal" tem o apoio de algumas das mais importantes ONGs do planeta, como a Transparência Internacional, o Greenpeace, a Oxfam da Grã-Bretanha e de grifes não menos vistosas do mundo de negócios (Ford, Nestlé, McDonald's, Coca-Cola).
A iniciativa marcou até uma data (setembro) para funcionar como marco. Nesse mês, é realizada sessão especial da Organização das Nações Unidas sobre crianças, uma oportunidade única, portanto, para mostrar o que ONGs e empresas podem fazer para mudar um cenário dramático: há 250 milhões de crianças de menos de 15 anos que trabalham, em países em desenvolvimento.
As duas partes admitem que a idéia de diálogo entre elas "é um exercício em um negócio arriscado", como diz o comunicado que emitiram.

McDonald's: alvo injusto
Uma mesa-redonda entre elas, ontem pela manhã, deixou claros os riscos.
Jack Greenberg, presidente e executivo-chefe da McDonald's Corporation, queixou-se amargamente de as lanchonetes da rede terem se transformado em alvos prioritários de violência durante protestos.
Para ele, a rede McDonald's é exatamente o oposto do que é tão criticado na globalização (o domínio do mundo pelas grandes corporações), por se tratar de "um aglomerado de pequenos negócios" (as franquias da marca no mundo todo).
"No Brasil, empregamos brasileiros, compramos produtos brasileiros e até exportamos produtos brasileiros", orgulha-se Greenberg.
Ele conta que ativistas já chegaram a lhe confessar que não é justo atacar lojas do McDonald's, "mas é a única maneira de ter uma foto publicada em "The New York Times'".
Mas os representantes das ONGs também reclamaram. Dizem que os empresários geralmente pedem que o diálogo com as ONGs seja mantido em segredo e/ou que elas cessem as manifestações contra a empresa para que o diálogo possa ocorrer.
Burkhard Gnarig, da "Aliança Internacional Salvar Crianças", diz que as campanhas públicas são a única maneira de conseguir a atenção das empresas "A única razão pela qual nos convidam é que nós somos capazes de mobilizar pessoas", diz o ativista.
De todo modo, o próprio Gnarig dá uma sólida razão para mergulhar no diálogo com o mundo dos negócios: "Nem a sociedade civil sozinha nem as empresas isoladamente nem o governo por si só podem resolver os problemas". (CR)



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