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15 ANOS DEPOIS
Trechos inéditos de gravação põem Greenhalgh no centro de esquema
Diálogos reabrem suspeita de propina ao PT no caso Lubeca
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Trechos inéditos de uma conversa gravada há 15 anos recolocam o candidato oficial do PT à
presidência da Câmara, Luiz
Eduardo Greenhalgh, no centro
de um escândalo que envolveu a
Prefeitura de São Paulo, a empresa Lubeca e o suposto pagamento
de US$ 200 mil em propina.
O episódio aconteceu em 1989.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava em campanha para a Presidência da República. Luiza Erundina (então no PT, hoje no PSB)
era a prefeita e estava no primeiro
ano de sua gestão. Greenhalgh era
vice-prefeito e secretário dos Negócios Extraordinários.
No diálogo de uma hora e 20
minutos, Greenhalgh é citado como o responsável por ter "plantado" um intermediário na Lubeca
para arrecadar dinheiro para a
campanha de Lula. A empresa
buscava a aprovação da prefeitura
para um projeto urbanístico avaliado em US$ 600 milhões.
O advogado José Firmo Ferraz
Filho, apontado já naquela época
como intermediário de Greenhalgh, é um dos personagens da
conversa. O diálogo foi gravado
pelo outro interlocutor, o advogado Eduardo Pizarro Carnelós,
sem conhecimento de Ferraz Filho. Carnelós era o assessor jurídico de Greenhalgh na prefeitura.
A certa altura, Ferraz Filho diz:
"Teve aquele problema da grana e
avaliou-se. Não pega a grana. Vamos pegar? Podemos pegar. Tem
armação, não vamos pegar". E segue: "O partido pediu grana. É ato
de preposto [representante legal],
cara! E mais, o cara é vice-prefeito. Se ele pedir, os caras dão".
Adiante, Ferraz Filho afirma: "O
Luiz estava por trás do projeto?
Estava. Já tinha um homem do
gabinete dele no projeto."
O estopim
O diálogo, muito tenso, foi gravado no dia 28 de outubro de
1989. Doze dias antes, num debate
transmitido ao vivo pela TV, o então candidato à Presidência da
República Ronaldo Caiado (ex-PSD), hoje deputado federal pelo
PFL, havia acusado a Prefeitura
de São Paulo de ter recebido propina de uma empresa da cidade.
Não citou a Lubeca, mas sua declaração desencadeou uma série
de investigações que levaram a
Ferraz Filho e à empresa.
O caso Lubeca foi investigado
em três frentes: na comissão de
averiguação da prefeitura criada
por Erundina, na CEI (Comissão
Especial de Inquérito) da Câmara
Municipal e num inquérito da Polícia Civil. Todas as três investigações foram arquivadas sob alegação de falta de provas conclusivas.
A fita com a conversa gravada, no
entanto, não foi incluída como
peça em nenhuma delas.
Um ano depois do escândalo,
em dezembro de 1990, o "Jornal
da Tarde" publicou uma reportagem reproduzindo trechos do
diálogo. A maior parte da conversa, porém, permaneceu inédita.
Esses trechos contêm revelações
que, além de incorporar nominalmente novos personagens ao escândalo, entre eles o atual diretor-presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, funcionam como peças
inéditas de um quebra-cabeça até
hoje não resolvido.
Num trecho inédito da gravação, Ferraz Filho diz: "Eu fui plantado na Lubeca. Fui plantado".
"Por quem?", indaga Carnelós. "O
Luiz [Eduardo Greenhalgh]. O
Luiz. Pronto. Cara, você vai segurar?", pergunta Ferraz Filho.
Dias antes dessa conversa, em
depoimento à Câmara, Ferraz Filho havia se negado a responder
quem tinha indicado seu nome
para supostamente trabalhar na
Lubeca, com a qual afirmava ter
"contrato verbal". Esquivou-se 13
vezes da pergunta.
Diálogo
A gravação foi feita por Carnelós após consultar os advogados
José Carlos Dias e Arnaldo Malheiros Filho. Ambos disseram
que a fita poderia ser usada como
prova caso a acusação de corrupção resvalasse em seu nome.
Na época, Carnelós era o responsável na prefeitura pela análise do projeto da Lubeca e disse
que Ferraz Filho o procurou em
sua sala para lhe contar que havia
conseguido US$ 100 mil da empresa para a campanha do PT.
Carnelós e Ferraz Filho conversaram num escritório. O gravador
estava escondido em uma valise.
Na fita, Ferraz Filho procura
convencer Carnelós a não tornar a
história pública. Ele fala diversas
vezes sobre a doação: "Meu amor,
a história é a seguinte: é a filosofia
do lobo. Os caras dando isso...,
eles estão o quê? Pagando o seguro tipo máfia. Não tem sacanagem. Isso é a filosofia deles".
Ferraz Filho diz ainda na fita
que os depoimentos prestados à
comissão da prefeitura, presidida
pelo então secretário de Governo
José Eduardo Cardozo (PT), hoje
deputado federal, foram "pautados" por Greenhalgh, inclusive a
fala do gerente-geral da Lubeca,
José Maria Simões.
O erro, segundo ele, deu-se
quando, ao final do depoimento,
Greenhalgh, que acompanhava a
sessão, interveio e solicitou que
fosse acrescentado um dado: a
atuação de Ferraz Filho como advogado da Lubeca. Isso quando a
própria empresa não reconhecia
qualquer vínculo com ele.
"O Zé Firmo não podia aparecer...", diz Ferraz Filho, referindo-se a si próprio. "O Luiz [Eduardo
Greenhalgh] fez uma cagada? Fez.
E atribuo isso exclusivamente a
ato falho. Não perdôo o Luiz. Inabilidade, incompetência, seja lá
que nome for. Agora, não é por
causa disso que a gente tem de atirar merda no ventilador."
Representantes das duas comissões, a da prefeitura e a da Câmara
Municipal, informaram que a fita
com a conversa não foi incluída
porque surgiu quando os trabalhos já haviam sido encerrados.
A fita também não fez parte do
inquérito da Polícia Civil, aberto
para apurar eventual cobrança de
propina na gestão petista. A apuração foi interrompida após o caso ser remetido à Polícia Federal
por ordem da Justiça Eleitoral.
O inquérito, que havia sido
aberto para apurar suposta corrupção, foi convertido em denúncia eleitoral contra Caiado por crime de calúnia. Foi nesse momento que as fitas entraram na ação,
com o objetivo de reforçar a denúncia. O procedimento foi para
o Supremo, onde foi arquivado.
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