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Ação política sobre Petrobras é criticada
LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO
Uma eventual interferência política em decisões técnicas da Petrobras é algo que preocupa e divide especialistas, muito mais do
que o uso dos resultados da empresa como propaganda de realizações do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva.
Como a Folha informou ontem,
o presidente pretende usar o alcance da auto-suficiência do país
em produção de petróleo como
argumento eleitoral.
Para especialistas ouvidos pela
Folha, decisões estratégicas da
Petrobras, como a definição dos
preços da gasolina ou acordos firmados com a estatal venezuelana
de petróleo, a PDVSA, foram tomadas em função de interesses
políticos do governo.
"Trabalhei 33 anos na Petrobras. Sempre houve interferência
política nas decisões da empresa.
Os gerentes técnicos sofrem de
um trauma: não sabem se são empresa ou governo. Mas no governo Lula, isso aumentou muito. Estamos retornando aos velhos
tempos do controle estatal. É um
retrocesso", afirma Giuseppe Bacoccoli, professor da UFRJ/Coppe, que já foi gerente de exploração da estatal e saiu de lá em 1997.
A recente decisão da Petrobras
de escolher Santos como local da
unidade de negócios que vai gerenciar a produção da Bacia de
Santos também gerou polêmica.
Para alguns especialistas, o determinante da escolha foi a variável
política, devido a pressão de entidades de classe paulistas. A Petrobras, dirigida pelo petista José
Sérgio Gabrielli, teria optado por
Santos como forma de fortalecer
Lula e o PT em São Paulo.
A interferência política foi admitida pelo próprio Lula em 16 de
dezembro. Em solenidade que
marcou o início da construção de
uma nova refinaria da Petrobras,
Lula afirmou que inicialmente
não havia o interesse em construí-la, mas que interferiu no assunto:
"Eu disse ao meu companheiro
José Eduardo Dutra [ex-presidente da Petrobras], antes do José
Sérgio Gabrielli chegar: a Petrobras é uma empresa que tem
ações no mercado, tem sócios e,
portanto, não é uma empresa em
que o governo tenha o direito de
dizer o que ela vai fazer a cada
momento. Mas a Petrobras é tão
importante para o Brasil, é tão significativa para o Brasil, que um
projeto dessa magnitude não pode ser uma decisão apenas do interesse econômico-financeiro da
Petrobras, mas uma decisão estratégica e política dos interesses e
do desenvolvimento do Estado
brasileiro".
O discurso foi feito na cerimônia de lançamento da pedra fundamental da refinaria de Pernambuco, um dos projetos mais criticados por especialistas como
exemplo de predominância de estratégia política sobre decisões
técnicas, de mercado.
A maioria dos acordos feitos entre as companhias brasileira e venezuelana é vista dessa forma. Isso porque a PDVSA é uma concorrente direta da Petrobras, produzindo o mesmo tipo de óleo para o mesmo mercado. "Empresarialmente, a refinaria de Pernambuco com a PDVSA não faz qualquer sentido", diz Adriano Pires,
diretor do CBIE. "O interesse é
apenas político."
Pires vê interferência política
também nos preços dos derivados. Segundo ele, os de uso popular têm preços controlados ou
menos voláteis. "O GLP [o gás de
cozinha] nunca aumentou desde
que Lula tomou posse. A gasolina
e o diesel aumentaram sem seguir
a lógica do mercado internacional. Já os derivados sem apelo popular, como querosene de aviação
e nafta, tiveram altas periódicas."
Outro lado
O presidente da Petrobras disse
à Folha, por e-mail, que não há interferência do governo nas decisões da companhia.
Gabrielli também defendeu as
decisões sobre a política de preços, os acordos com a estatal venezuelana e a escolha da cidade de
Santos como base para as atividades na Bacia de Santos.
" O acerto da política de preços
da companhia pode ser avaliado
pelos excelentes resultados financeiros obtidos", completou.
Em relação aos acordos com a
PDVSA, Gabrielli afirmou que
apresentam vantagem para a Petrobras e também para o Brasil.
Já sobre a escolha de Santos como base da bacia, apresentou razões técnicas, como a logística,
pois o município se localiza geograficamente no meio da bacia.
A Secretaria de Comunicação
de Governo e Gestão Estratégica
afirma que os resultados da empresa "têm relação direta com a
supervisão ministerial da pasta
competente".
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