São Paulo, quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

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Aula, chá e churrasco para deputados viram palanque

Candidatos na Câmara usam seminário com novatos para fazer corpo-a-corpo

Só hospedagem de evento inédito custou em torno de R$ 100 mil ao Congresso, que gastou ainda R$ 12.500 em almoço e lanche da tarde


Lula Marques/Folha Imagem
Candidato à presidência da Câmara Aldo Rebelo (esq.) no seminário para novos deputados na Casa


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO A BRASÍLIA

Os três candidatos à presidência da Câmara - Aldo Rebelo (PC do B-SP), que tenta a reeleição, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Gustavo Fruet (PSDB-PR) - transformaram o seminário de "ambientação" para os deputados novatos, realizado ontem, em palanque de campanha. O dia dos três foi de intenso corpo-a-corpo pelos corredores do Congresso, e até as mulheres dos novos parlamentares foram envolvidas na campanha.
A eleição para a nova Mesa Diretora está marcada para as 15h de amanhã. Aldo abriu o "aulão" dos novatos com um discurso de cerca de 20 minutos. Ele saudou os presentes e ressaltou a importância do Parlamento. Não falou na eleição. Cerca de 170 parlamentares passaram pelo evento.
Ao deixar o seminário, Aldo fez questão de circular entre a platéia e cumprimentar os deputados. Questionado se sua participação não caracterizava uso político, reagiu: "O uso da palavra para recepcionar os deputados é um gesto civilizado e democrático".
Críticos do "aulão" a dois dias da eleição, Chinaglia e Fruet também foram ao local no fim da manhã e admitiram que estavam em busca de votos.
"Se eu não viesse, poderia ser interpretado por alguém mais rigoroso que eu desprezei o evento (...) Vou pedir voto, vou cumprimentar os deputados. Há um mês e meio, só peço votos", disse Chinaglia.
"Estamos na era da informática, mas nada substitui o aperto de mão", disse Fruet. Ao circular entre os novos colegas, os candidatos tumultuaram o evento. Além de palestras, os deputados ouviram explicações sobre o regimento e tramitação dos projetos.

Gagueira
Primeiro-secretário da Câmara e palestrante, o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) fez um discurso de improviso. Contou como curou sua gagueira e ensinou: "Se a nossa Bíblia é a Constituição, o Evangelho é o regimento". Deputado há mais de 30 anos, ele consegue cargos na Mesa Diretora desde a última década.
O programa de ambientação dos novatos, denominado Encontro Parlamentar da 53ª Legislatura, é uma iniciativa inédita. A Casa gastou aproximadamente R$ 100 mil com a hospedagem dos novatos para o evento e para a posse. Pelo menos 185 parlamentares viajaram três dias antes da posse a Brasília, com direito a acompanhante, por conta do seminário. Os gastos com o "curso" ainda incluem R$ 8.750 com o almoço para 250 pessoas oferecido pela Casa e R$ 3.750 com o lanche da tarde.

Almoço
O corpo-a-corpo dos candidatos à presidência se intensificou no almoço, em uma churrascaria instalada nas dependências do Congresso. Aldo, Chinaglia e Fruet circularam pelas mesas.
Postulantes a outros cargos na Mesa também aproveitaram a aglomeração dos calouros. O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que pleiteia a primeira-secretaria da Casa, entregava "santinhos", nas mesas.
O seminário foi elogiado. "Ainda que possa parecer cabotino, isso aqui [o funcionamento da Casa] é um mistério. O regimento é uma bíblia complicadíssima", disse o ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE).

Chá
"Que bufê nada, menino. São três assadeiras de pão de queijo e uns biscoitinhos. Além de simples, a Rita é muito manguinha, econômica", defende a recepcionista Cláudia, postada com uma lista de convidados à porta da residência do presidente da Câmara, Aldo Rebelo.
A primeira-dama, Rita Rebelo, recebe desde ontem mulheres de deputados, e deputadas, para um chá de confraternização de começo de legislatura.
O evento se realiza entre às 14h e as 19h. Jornalistas não entram, explicam no gabinete de Rebelo, "para não deixar as calouras constrangidas".
Por coincidência, Rita recebe às vésperas da eleição do novo presidente da Câmara. "Não é um ato político", explica Elba, outra amiga de Rita. "Lógico que é um ato político! Não tem como negar", discorda a deputada recém-eleita para o primeiro mandato Solange Amaral (PFL-RJ).
A bordo de um Cayenne (cerca de R$ 500 mil), Mônica, mulher do ex-ministro Eunício Oliveira (PMDB-CE) garante: "Ele vai votar no Aldo."
Na leva de ontem do chá, havia cerca de 30 mulheres.
A concorrência não foi. No gabinete de Arlindo Chinaglia informam que sua mulher está em São Paulo. Fruet, 43, tem uma noiva. Noiva não conta, dizem lá. (LETÍCIA SANDER, SILVIO NAVARRO E PAULO SAMPAIO)

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