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ELIO GASPARI
Aldo e Arlindo, os bípedes redundantes
Diante da mediocridade dos doutores, há o exemplo da história de Barbaro,
um quadrúpede
AMANHÃ, FELIZMENTE, termina a disputa entre as poderosas candidaturas de Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia pela presidência da Câmara. É um páreo de bípedes redundantes, de pouca relevância, numa semana em que o
mundo perdeu Barbaro, um quadrúpede de três anos, com seis corridas e seis vitórias. Valeu US$ 30 milhões. Era uma boa aposta para a
conquista da tríplice coroa dos prados americanos, um título intocado
desde 1978.
Animal esplêndido, Barbaro foi
sacrificado na segunda-feira, 254
dias depois de ter quebrado uma
perna enquanto corria diante de 118
mil pessoas. Uma história de sofrimento e carinho. Suas chances eram
de 50%. Passou por três longas cirurgias e 27 parafusos de titânio. A
fratura cicatrizou, mas Barbaro foi
derrubado por uma infecção nos
cascos, e muita dor. Não conseguia
ficar de pé. "Era outro animal", contou o cirurgião que cuidou dele.
Tristeza igual, só em 1975, quando
Ruffian, égua invicta, quebrou a perna perto da última milha de Belmont Park. Ela ainda correu 50 metros. (O jornalista Sérgio Figueiredo
via o páreo na social.) Ao contrário
de Barbaro, Ruffian foi sacrificada
no mesmo dia.
Quando a ações dos bípedes tornam-se um pastel de redundâncias
eqüinas, a dignidade dos quadrúpedes torna-os figuras muito mais interessantes. Como o grande Seabiscuit (1933-1947), Barbaro haverá de
ser imortalizado em livro e filme.
Tem lugar na galeria onde estão Secretariat, Traveller, Comanche e o
inesquecível Trigger.
Trigger, montaria do vaqueiro
Roy Rogers está empalhado no museu que conserva a memória do ator
e alegrias de infâncias de outrora.
Comanche foi o único sobrevivente do combate de Little Bighorn, durante o qual os índios lakotas e cheyenes liquidaram o general George
Custer e outros 208 soldados em
1876. É provável que tenham largado o animal na pradaria porque estava arruinado por um tiro e flechadas. Dias depois, a cavalaria levou-o
para um quartel. Ninguém voltou a
montar Comanche.
Símbolo do massacre, sua história
deu um toque romântico à posterior
matança dos índios. Viveu no ócio
até os 29 anos, com uma queda pela
cerveja, e foi sepultado com honras
militares. Sua carcaça, exposta num
museu do Kansas, é o que resta da
inépcia de um general insano. Traveller, a montaria do general Robert
Lee durante a guerra civil americana, está enterrado perto do dono.
Lee gostara do bicho, mas não o
aceitou como presente. O general
não trabalhava com verbas indenizatórias e só ficou com ele porque
pagou US$ 200.
Barbaro caminhava para se tornar
o substituto de Secretariat (1970-1989), na condição de cavalo-celebridade: campeão, rico e bonito. Talvez repetisse a façanha do antecessor, que tirou o 35º lugar na lista dos
grandes atletas americanos do século passado. Evidentemente, era o
único quadrúpede. O hospital onde
Barbaro lutou pela vida recebeu
mais de US$ 1,2 milhão em doações,
inclusive uma de 19 centavos, vinda
de uma menina.
Na manhã de segunda-feira, havia
uma mulher no saguão do hospital
onde estava o bicho. Quando ouviu
que Barbaro havia sido sacrificado,
ela foi embora. Disse que ia para a
companhia de seu cavalo.
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