São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


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Vereadores debatem corrupção

da Reportagem Local


As denúncias de Nicéa Pitta podem reacender um movimento espontâneo da sociedade contra as práticas de corrupção e determinar os rumos da transparência política em São Paulo neste ano eleitoral.
Essa é a constatação do debate "Transparência e corrupção em ano eleitoral", promovido pela Folha no último dia 13, com a participação dos vereadores José Eduardo Martins Cardozo (PT) e Miguel Colasuonno (PMDB), e do jornalista Chico de Gois.
"Está havendo um tipo de protesto, que eu chamaria de protesto de botequim. As pessoas não estão indo para as ruas para fazer grandes passeatas ou levantar bandeiras de partidos. Elas estão querendo apurar os fatos, cobrar dos políticos", disse Gois, autor do livro "Segredos da Máfia", sobre a máfia dos fiscais da prefeitura, e repórter do caderno Cotidiano/São Paulo da Folha.
"Nunca vi uma reação tão forte da sociedade. A indignação das ruas é uma coisa impressionante. Me dá a impressão de que, pela primeira vez, começamos a construir uma cultura política diferente. Esse escândalo serve para o início de um processo de tomada de consciência", disse Cardozo.
Para Colasuonno, esse fenômeno deve acontecer porque "a população não quer discutir ideologia, mas qualidade de vida". É por isso, segundo ele, que a bandeira partidária está perdendo espaço para a defesa dos interesses dos cidadãos. "A população se deu conta de que a corrupção a atinge diretamente", acrescentou Gois.
Cardozo comentou que o brasileiro sempre se portou de maneira passiva diante dos escândalos da política. "Eu costumo dizer o seguinte: em alguns países do mundo, quando se pega o corrupto, a execração social é tão grande que às vezes ele se suicida. No Brasil, ele se reelege."
Mas, segundo o vereador petista, a expectativa é de que isso não volte a acontecer em São Paulo. "A sensação é de que estamos num processo de mudança dessa mentalidade histórica."
Tanto Cardozo como Colasuonno destacaram o financiamento eleitoral como fonte de corrupção. "A porta de entrada para a corrupção é o momento das eleições. São raríssimos os empresários que oferecem dinheiro e não pedem contraprestação. Sairia mais barato para o Estado custear as campanhas do que manter o esquema atual", disse Cardozo. Colasuonno discordou: "O cidadão que pagou o imposto nem sempre vai querer que esse dinheiro seja usado no financiamento de campanha."
Os participantes discutiram outras implicações das denúncias de Nicéa. Cardozo disse que "não há articulação política" que leve à aprovação da CPI na Câmara para investigar as denúncias. "Só a pressão da sociedade, não há outra força de convencimento."
Para Colasuonno, "o efeito Nicéa" deve favorecer os partidos de centro. Segundo Cardozo, "o escândalo atinge brutalmente a candidatura de Pitta e Paulo Maluf."


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