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MÁQUINA PÚBLICA
Aumentos diferenciados vão variar de 10,79% a 29,38%
Crise e greve forçam governo a dar reajuste aos servidores
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pressionado por uma crise política e pelos servidores públicos, o
governo propôs ontem reajustes
salariais diferenciados acima da
inflação para quase 600 mil funcionários. Para os servidores da
ativa, os reajustes vão variar entre
10,79% e 29,38%. A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Ampliado) foi de
9,3% em 2003.
Servidores reivindicam aumento de 127% para cobrir perdas
acumuladas no governo FHC
mais a reposição da inflação do
ano passado.
Os aposentados vão ganhar reajustes menores, o que provocou
irritação dos representantes dos
servidores. O governo vai aumentar os salários por meio de gratificações de produtividade. E os
aposentados não recebem a integralidade dessas gratificações.
Segundo o secretário de Recursos Humanos do Ministério do
Planejamento, Sérgio Mendonça,
não haverá reajuste linear neste
ano. A proposta de aumento diferenciado atinge 905.848 funcionários das áreas de administração,
saúde, previdência social, universidades e ensino de segundo grau.
A maior parte deles ganha entre
R$ 582,11 e R$ 2.179,33 mensais.
Outros 150 mil servidores pertencem a categorias que já negociaram ou estão negociando em
separado com o governo, como a
Polícia Federal. Portanto, segundo Mendonça, apenas cerca de 50
mil servidores não terão nenhum
reajuste. Questionado sobre a
constitucionalidade da proposta,
disse: "Vocês [jornalistas] acham
que nós seríamos irresponsáveis
de fazer uma proposta inconstitucional. Temos pareceres jurídicos
que garantem isso".
A proposta apresentada pelo
governo deve custar R$ 1,5 bilhão
neste ano, já que o reajuste deve
valer a partir de maio. O custo
anual dos reajustes é superior a
R$ 2,1 bilhões. Já existe previsão
desses recursos no Orçamento.
Com esse aumento, a folha salarial da União em 2004 passará para R$ 84 bilhões.
O governo anterior só adotou os
reajustes lineares nos meses de janeiro porque houve uma interpretação do Supremo Tribunal
Federal de que isso era necessário.
No ano passado, o atual governo
seguiu a regra concedendo um
reajuste linear de 1%, mais uma
gratificação especial de R$ 59,87
para quem ganhava menos.
Os servidores que não terão nenhum reajuste estão ligados a categorias específicas como diplomatas, profissionais de tráfego aéreo e servidores que lidam com
tecnologia militar. Também não
foram incluídos os servidores do
Legislativo e do Judiciário.
Os reajustes para os servidores
aposentados vão ficar entre 7,11%
e 26,13%. Mas a maior parte dos
650 mil aposentados receberá reajustes menores que 8%.
"A proposta não respeita a paridade entre ativos e inativos. Eles
não deram reajuste linear, dizendo que várias categorias tiveram
aumentos superiores à inflação
nos últimos anos. Mas eles não
disseram quais são essas categorias na reunião", disse o vice-presidente da Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), José
Domingues Godoi Filho.
Os servidores marcaram uma
assembléia geral para decidir se
entram ou não em greve no dia 18
de abril. Mas vão esperar até o
próximo dia 6 para que o governo
apresente alguma resposta em relação aos aposentados.
"O governo priorizou as categorias que ganham menos, mas a
greve vai depender do aumento
para os aposentados", disse Denise Mota, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social.
O anúncio de reajuste é uma
tentativa de evitar greves, como a
dos agentes da Polícia Federal,
que agravariam as acusações de
morosidade administrativa iniciadas após o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Presidência
flagrado em gravação de 2002 pedindo propina e verba para campanha a um empresário de jogos.
Mendonça disse que o governo
não pode ultrapassar o limite de
recursos que está no Orçamento,
que é de R$ 1,5 bilhão para os reajustes. "Para elevar a remuneração dos aposentados, teríamos
que diminuir a dos ativos." Se
houver acordo, os aumentos serão dados a partir de maio.
Segundo Mendonça, os reajustes definidos ontem não atingem
os militares. No ano passado, os
militares não tiveram aumento e
não existe previsão orçamentária
para elevação de salários nas Forças Armadas neste ano.
Fiscais agropecuários
Os fiscais agropecuários fecharam ontem um acordo com o governo que prevê um reajuste médio de 24% para a categoria. Os
profissionais em início de carreira
terão um reajuste salarial de 49%.
Os servidores com salários mais
altos terão um aumento de 16%.
O acordo final, anunciado ontem pelo Ministério da Agricultura, é bem mais generoso do que a
proposta inicial do governo: um
aumento de 4%. Os servidores
pleiteavam um aumento médio
de no mínimo 30%.
A greve dos fiscais começou no
dia 15 deste mês. A paralisação foi
suspensa, por dez dias, no dia 19.
Nesse prazo, o ministro Roberto
Rodrigues (Agricultura) conseguiu mobilizar o governo para
melhorar a oferta de negociação e
convencer os fiscais a aceitarem
um reajuste menor do que o inicialmente exigido.
As dificuldades iniciais de conseguir dinheiro com o Ministério
do Planejamento para negociar
com os fiscais o reajuste de seus
salários foi um dos motivos que
levaram Rodrigues a criticar o seu
colega Guido Mantega (Planejamento).
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