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SOMBRA NO PLANALTO
Gravação mostra José Roberto Santoro tentando obter fita de 2002 em que Waldomiro Diniz pede propina ao empresário de jogos
Subprocurador negociou fita com Cachoeira
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O subprocurador da República
José Roberto Santoro foi flagrado
numa gravação tentando obter do
empresário Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira, cópia da fita
que deflagrou o escândalo Waldomiro Diniz. Num dos trechos
divulgados ontem pelo "Jornal
Nacional", da Rede Globo, Santoro demonstra ter consciência de
que a investigação atingiria o poderoso chefe da Casa Civil, José
Dirceu, e o governo PT.
"Daqui a pouco o procurador-geral [Claudio Fonteles] chega,
que ele chega às seis horas da manhã. Ele vai ver o carro, ele vai vir
aqui na minha sala... ele vai vir
aqui, e vai ver, tomando um depoimento para, desculpe a expressão, pra ferrar o chefe da Casa
Civil da Presidência da República,
o homem mais poderoso do governo, ou seja, para derrubar o
governo Lula", afirma Santoro,
enquanto tentava convencer Cachoeira.
A conversa teria ocorrido durante uma madrugada no início
de fevereiro, antes de vir a público
a gravação feita em 2002 pelo próprio Cachoeira em que Waldomiro aparecia pedindo propina e dinheiro para campanha para o empresário de jogos.
Na época da gravação, Waldomiro Diniz presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro),
durante a gestão de Benedita da
Silva (PT-RJ) no governo do Rio
de Janeiro. A fita foi o pivô de grave crise política no governo Lula,
ainda sem desfecho. Mas Waldomiro deixou o governo, "a pedido", em 13 de fevereiro, dia da divulgação da gravação.
"Sacanagem"
Diante da resistência de Cachoeira e preocupado com a chegada iminente do procurador-geral, Santoro afirma: "Ele [Fonteles] vai chegar aqui e dizer "o sacana do Santoro resolveu acabar
com o governo do PT e pra isso
arrumou um jornalista [referência a Mino Pedrosa], juntaram-se
com um bicheiro e resolveram na
calada da noite tomar depoimento. Não foi nem durante o dia, foi
às três da manhã'".
Mino Pedrosa admite ter tido
acesso à fita, mas nega ter feito cópia e repassado. Diz que a devolveu para Cachoeira, para quem
prestava consultoria.
Além de Santoro, participou da
reunião o procurador Marcelo
Serra Azul, autor da denúncia,
formalizada anteontem, contra
dirigentes da Caixa, Waldomiro,
Rogério Buratti (empresário petista e ex-assessor do hoje ministro da Fazenda Antonio Palocci
Filho) e representantes da multinacional GTech.
A denúncia também atinge Cachoeira, mas pede benefícios, como redução de pena, para o empresário porque ele teria colaborado com as investigações.
Segundo o "Jornal Nacional",
Santoro confirmou a conversa.
Disse que os diálogos aconteceram num domingo, dia 8 de fevereiro, e se prolongaram na madrugada de segunda-feira. Waldomiro Diniz foi demitido a pedido na sexta seguinte, 13 de fevereiro, depois de a revista "Época" divulgar o conteúdo da gravação
feita por Cachoeira.
Procurado ontem à noite pela
Folha, Santoro não quis se manifestar. Ao ""Jornal Nacional", disse
que recebeu Cachoeira de madrugada a pedido do próprio empresário e que apenas estava buscando fazer o seu trabalho.
A conversa toda teria durado
quatro horas, mas apenas 28 minutos teriam sido gravados pelo
próprio Cachoeira. A fita, segundo o telejornal, foi passada por
um intermediário de Cachoeira,
que posteriormente negou à Globo ter feito a gravação. A fita foi
submetida a perícia, que teria
provado não ser uma montagem,
antes de ir ao ar ontem à noite.
Durante a conversa, Santoro
tenta convencer Cachoeira e acena com benefícios para uma eventual colaboração.
"Faz o seguinte: entrega a fita,
não depõe, diz que vai depor mais
tarde para ver o que que aconteceu, porque aí você acautela que
você colaborou com a Justiça, entregou a fita, acautelou prova lícita (o cacete a quatro) ... então... e
aí vem o cafofo", afirma Santoro.
Mais adiante, diante da proposta de Cachoeira de que a Polícia
Federal poderia fazer uma operação de busca e apreensão na qual
a fita seria apreendida em seu endereço, o subprocurador alega
que essa operação poderia não
correr como planejado.
"A busca e apreensão vai ser feita pela Polícia Federal, a Polícia
Federal vai lá bater... é isso?... a
primeira coisa que vai ser, vai ser
periciada e a primeira pessoa que
vai ter acesso a essa fita é o [Paulo]
Lacerda [diretor da PF], o segundo é o ministro da Justiça e o terceiro é o Zé Dirceu. E o quarto, o
presidente."
Chefe à vista
A gravação mostra uma preocupação constante de Santoro durante a conversa com a chegada
do chefe, Claudio Fonteles: "Daqui a pouco o procurador-geral
vai dizer assim: "Porra, você tá
perseguindo o governo que me
nomeou procurador-geral, Santoro, que sacanagem é essa? Você
tá querendo ferrar o assessor do
Zé Dirceu, o que que você tem a
ver com isso?".
Mais adiante, insiste: "Oh, estourou o meu limite, daqui a pouco o Cláudio [Fonteles] chega,
chega às seis horas da manhã, vai
ver teu carro na garagem, vai ser o
que tem (...) e vai ver um subprocurador-geral empenhado em
derrubar o governo do PT (...) você vê... no fim, três horas da manhã, bicho..."
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