São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 2005

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ANGÚSTIA PARLAMENTAR

Deputado estadual baiano Sargento Isidório diz, da tribuna, que procedimento o humilhou

Exame de próstata faz petista "ver estrelas"

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

No dia em que Salvador completou 456 anos e que fortes chuvas provocaram a morte de duas pessoas na cidade, o deputado estadual Manoel Isidório de Santana (PT), 43, ocupou a tribuna da Assembléia Legislativa da Bahia para fazer um discurso contra o toque retal, utilizado em exame de próstata.
No fim da tarde de anteontem, o deputado, conhecido como Sargento Isidório, disse que ficou traumatizado com o exame que havia realizado pela manhã. "Até agora estou vendo estrelas, graças à virulência do médico."
Parlamentar folclórico -costuma ir às sessões carregando um botijão de gás, cujo preço prometeu baixar se fosse eleito-, Sargento Isidório negou que seja machista. "Pensava que era de uma outra maneira. Mas, da maneira que o médico me tratou, a maneira que foi introduzido aquele dedo, foi horrível. Quase que desmaio, não aceito, saí de lá com o olho cheio de vaga-lume", disse o deputado.
Isidório disse que o exame feito em "pessoas menos esclarecidas" ainda é pior. "Se fazem isso com um deputado, imagine com pessoas que não têm esclarecimento, como um sem-terra ou um desempregado."
Paralelo ao seu discurso, o deputado fez questão de mostrar com gestos e gritos como foi o seu exame. "O médico chegou e foi colocando o dedo. É angustiante para um pai de família, principalmente com a minha idade, passar por isso", disse.
O deputado acrescentou que a medicina tem o dever de encontrar uma outra fórmula para o exame. "A ciência está aí querendo fazer até gente igual, criando tudo o que é coisa. Tem de haver outros métodos."
O deputado Targino Machado (PMDB), médico, lembrou que existe outra fórmula para o exame, o PSA (exame de sangue usado para diagnosticar câncer de próstata). "Todo homem civilizado, depois dos 40 anos, deveria fazer o exame. Mas, deputado, por melhor que seja, o PSA não é totalmente eficiente. Temos de fazer o toque retal."
Demonstrando inconformismo com a opinião de Machado, o petista voltou à tribuna para dizer que foi "enganado" pelo médico. "Jamais vou aceitar uma coisa dessa."
Ao mesmo tempo em que falava e divertia os seus colegas, Isidório ainda foi obrigado a ouvir piadas. O deputado João Bonfim (sem partido), após o pronunciamento do parlamentar, perguntou para Isidório se foi mesmo o dedo que o médico usou para realizar o exame.
No final, Machado voltou a defender o exame. "Não posso aceitar que Vossa Excelência venha a esta tribuna fazer apologia contrária à prevenção do câncer de próstata. Eu e os outros homens, se não morrermos de outra enfermidade, seremos acometidos pela doença."


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