São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 2005

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NOVELA MINISTERIAL

Segundo ministro, presidente desautorizou suas articulações ao engavetar mudança ampla na Esplanada

Reforma tímida deixa Dirceu desconfortável

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) voltou a dizer em conversas reservadas que se sente desconfortável no governo e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez desautorizou articulações políticas feitas por ele ao engavetar na semana passada uma reforma ministerial ampla.
Segundo Dirceu, o resultado da decisão de Lula, que reagiu a um ultimato do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), é a manutenção de problemas na base de apoio ao governo no Congresso, sobretudo na Câmara.
Outros ministros e membros da cúpula do PT concordam com Dirceu e responsabilizam Lula pelo desarranjo político do governo. Todos disseram, reservadamente, que fizeram as ponderações que podiam a Lula e que agora cabe obedecer ao presidente porque foi ele o eleito em 2002.
As articulações sobre a ampla reforma ministerial serviriam para ampliar o espaço de aliados no PMDB e incluir o PP no primeiro escalão, reorganizando, assim, a base de sustentação no Congresso e selando acordo para a eventual candidatura do presidente Lula à reeleição em 2006.
Nessas articulações, Lula pediu a Dirceu que retomasse o papel de articulador político e tivesse conversas com partidos aliados para que fosse realizada a ampla reforma ministerial. O ministro da Casa Civil negociou com o PP, mas, quando Severino fez o ultimato para Lula nomear o partido para evitar aliança da sigla com a oposição, ele próprio avaliou que não daria mais para um pepista receber uma pasta naquele contexto.
Dirceu e outros petistas achavam, porém, que outros acertos deveriam ser levados a cabo. Exemplos: já convidada, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) deveria virar ministra, o PT deveria tomar de Aldo Rebelo (PC do B-SP) a pasta da Coordenação Política, o ministro Humberto Costa (Saúde) deveria ser substituído por Ciro Gomes (Integração Nacional) e o ministro Olívio Dutra (Cidades) deveria ser demitido ou alojado noutra pasta.
Lula, porém, usou o ultimato de Severino para sepultar essas articulações. Dirceu, que se fortalecera no processo de negociação da ampla reforma ministerial, ficou contrariado com a decisão. A interlocutores, Lula tem dito que manterá a decisão de confiar a Dirceu o comando das articulações para a sua eventual reeleição em 2006 e que não teve a intenção de ferir o ministro da Casa Civil.
Não é a primeira vez que Lula desautoriza uma articulação montada por Dirceu. No início do governo, o chefe da Casa Civil queria nomear ministros do PMDB, mas Lula acabou recusando a proposta. Depois, o próprio presidente reconheceu que foi um erro não colocar o partido em seu ministério, o que ocorreu depois com a nomeação de dois ministros peemedebistas.
A diferença entre o episódio atual e o anterior é que Lula, agora, chegou a concordar com as articulações de Dirceu, tendo até mesmo informado alguns ministros que eles deixariam o governo -como no caso de Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Ministros e membros da cúpula petista acham que Lula errou e continua errando ao desistir de reforma com a qual chegara a concordar. Para compensar, Lula disse que daria início a uma série de conversas com as cúpulas dos partidos aliados para ajudar Aldo Rebelo na Coordenação Política.
Anteontem, quando o governo começou a colher outra derrota no Congresso, Lula estava na Venezuela. E o governo não tinha forças nem para rejeitar uma MP editada por ele próprio.


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