|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NOVELA MINISTERIAL
Segundo ministro, presidente desautorizou suas articulações ao engavetar mudança ampla na Esplanada
Reforma tímida deixa Dirceu desconfortável
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) voltou a dizer em conversas
reservadas que se sente desconfortável no governo e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
mais uma vez desautorizou articulações políticas feitas por ele ao
engavetar na semana passada
uma reforma ministerial ampla.
Segundo Dirceu, o resultado da
decisão de Lula, que reagiu a um
ultimato do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), é
a manutenção de problemas na
base de apoio ao governo no Congresso, sobretudo na Câmara.
Outros ministros e membros da
cúpula do PT concordam com
Dirceu e responsabilizam Lula pelo desarranjo político do governo.
Todos disseram, reservadamente,
que fizeram as ponderações que
podiam a Lula e que agora cabe
obedecer ao presidente porque foi
ele o eleito em 2002.
As articulações sobre a ampla
reforma ministerial serviriam para ampliar o espaço de aliados no
PMDB e incluir o PP no primeiro
escalão, reorganizando, assim, a
base de sustentação no Congresso
e selando acordo para a eventual
candidatura do presidente Lula à
reeleição em 2006.
Nessas articulações, Lula pediu
a Dirceu que retomasse o papel de
articulador político e tivesse conversas com partidos aliados para
que fosse realizada a ampla reforma ministerial. O ministro da Casa Civil negociou com o PP, mas,
quando Severino fez o ultimato
para Lula nomear o partido para
evitar aliança da sigla com a oposição, ele próprio avaliou que não
daria mais para um pepista receber uma pasta naquele contexto.
Dirceu e outros petistas achavam, porém, que outros acertos
deveriam ser levados a cabo.
Exemplos: já convidada, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA)
deveria virar ministra, o PT deveria tomar de Aldo Rebelo (PC do
B-SP) a pasta da Coordenação Política, o ministro Humberto Costa
(Saúde) deveria ser substituído
por Ciro Gomes (Integração Nacional) e o ministro Olívio Dutra
(Cidades) deveria ser demitido ou
alojado noutra pasta.
Lula, porém, usou o ultimato de
Severino para sepultar essas articulações. Dirceu, que se fortalecera no processo de negociação da
ampla reforma ministerial, ficou
contrariado com a decisão. A interlocutores, Lula tem dito que
manterá a decisão de confiar a
Dirceu o comando das articulações para a sua eventual reeleição
em 2006 e que não teve a intenção
de ferir o ministro da Casa Civil.
Não é a primeira vez que Lula
desautoriza uma articulação
montada por Dirceu. No início do
governo, o chefe da Casa Civil
queria nomear ministros do
PMDB, mas Lula acabou recusando a proposta. Depois, o próprio
presidente reconheceu que foi um
erro não colocar o partido em seu
ministério, o que ocorreu depois
com a nomeação de dois ministros peemedebistas.
A diferença entre o episódio
atual e o anterior é que Lula, agora, chegou a concordar com as articulações de Dirceu, tendo até
mesmo informado alguns ministros que eles deixariam o governo
-como no caso de Aldo Rebelo
(Coordenação Política).
Ministros e membros da cúpula
petista acham que Lula errou e
continua errando ao desistir de
reforma com a qual chegara a
concordar. Para compensar, Lula
disse que daria início a uma série
de conversas com as cúpulas dos
partidos aliados para ajudar Aldo
Rebelo na Coordenação Política.
Anteontem, quando o governo
começou a colher outra derrota
no Congresso, Lula estava na Venezuela. E o governo não tinha
forças nem para rejeitar uma MP
editada por ele próprio.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Governantes sem correção Próximo Texto: Angústia parlamentar: Exame de próstata faz petista "ver estrelas" Índice
|