São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Ministro diz que governo vai agir contra grupo paramilitar de fazendeiros paulistas e contra o MST
Jungmann quer usar PF contra milícias

e da Sucursal de Brasília


O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) disse em São Luís (MA) que o governo vai usar o Ministério da Justiça e a Polícia Federal para acabar com a milícia criada por um grupo de fazendeiros paulistas e coibir invasões de prédios públicos feitas pelo MST.
"Já reportei ao ministro da Justiça, e a Polícia Federal vai tomar as providências chamando à satisfação quem está promovendo isso, que é ilegal e inaceitável", afirmou Jungmann.
Fazendeiros de São Paulo criaram um grupo com cerca de 500 pessoas para combater, sempre que necessário, as invasões feitas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Sobre as declarações do líder do MST José Rainha Jr., de que os sem-terra vão intensificar as invasões a prédios públicos, Jungmann afirmou que "os prédios serão evacuados e quem tomará conta é a Polícia Federal".
Para ele, o último conflito no sul do Pará, que resultou na morte de dois líderes do MST na região, é um problema de "impunidade" e não de "reforma agrária".
"O que falta é administração da Justiça e o fim da impunidade, pondo na cadeia os responsáveis por aquela violência, o que eu espero que seja feito nas próximas horas", disse ele, que foi a São Luís assinar decreto de desapropriação de seis áreas no Estado, num total de 13.905 hectares.
A assessoria de Jungmann disse que os líderes do MST, mortos no Pará, eram com-terra. Tinham sido assentados no projeto Palmares e haviam recebido R$ 6.523 em créditos de reforma agrária.
Apesar das declarações de Jungmann, o ministro Iris Rezende (Justiça) negou o uso imediato da PF. "Vamos solicitar explicações dos possíveis organizadores", disse Rezende, que considera crime a formação de milícias particulares. "Não iremos envolver a Polícia Federal por enquanto."
Para o ministro, a ameaça do MST de mobilizar 56,8 mil famílias para promover novas invasões não serve de argumento para a contratação de milícias.
"É uma função exclusiva do poder público garantir a Justiça. Isso é uma intromissão indevida da iniciativa privada nas decisões do Estado", disse Rezende.
O presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Milton Seligman, afirmou que está preocupado com a radicalização de sem-terra e fazendeiros.
"Do jeito que estão atuando, transformaram-se em matrizes de violência e podem vir a colocar em risco as regras democráticas", afirmou.



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