São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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HABITAÇÃO
Para comissão, houve superfaturamento
Sindicância vê rregularidade na CDHU

EMANUEL NERI
da Reportagem Local

Comissão da Secretaria da Habitação de São Paulo que investigou suspeita de irregularidade na compra de terrenos de empreiteiras pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) concluiu que esses imóveis estão "superfaturados".
Os terrenos destinam-se a casas populares. Segundo relatório da comissão, presidida pelo procurador do Estado Ricardo Gomes Corrêa, a CDHU "cometeu uma grave improbidade, que teve como consequência o repasse para as empresas construtoras de valores exorbitantes e indevidos".
Levantamento feito pela Folha em 97 constatou que, em pelo menos 13 terrenos comprados por empreiteiras e repassados à CDHU, o valor supostamente superfaturado foi de R$ 10,1 milhões. A diferença pode ser bem maior, pois o sistema envolve 83 projetos no valor total de R$ 300 milhões.
O primeiro caso revelado pelo jornal ocorreu em Garça (423 km a noroeste de São Paulo). Um terreno foi comprado por R$ 200 mil e repassado 11 dias depois à CDHU por R$ 761,7 mil. Há casos de sobrevalorização de até 1.955%.
Os terrenos foram comprados para a construção de habitações pelo programa "Chamamento Empresarial". Faz parte do plano habitacional do governo Mário Covas (PSDB), que pretende entregar 120 mil casas populares até o final de sua administração.
O caso também está sendo investigado pelo Ministério Público. No início deste mês, o procurador Nilo Spinola entrou com ação civil pública na Justiça pedindo o bloqueio de bens de Hama, amigo e homem de confiança de Covas.
A CDHU está subordinada hierarquicamente à Secretaria da Habitação, que fez a investigação.
Em seu relatório, o procurador coloca sob suspeição os valores de referência usados pela CDHU para avaliar os preços dos terrenos.
O procurador analisou 51 conjuntos habitacionais. O valor de referência da CDHU para os terrenos era de R$ 47,1 milhões.
Mas o valor oferecido pelas empreiteiras na compra dos imóveis foi de R$ 19,7 milhões -diferença de 138% sobre o preço previsto.
"Isso coloca sob grave suspeita o modelo de cálculo estatístico adotado para obtenção de tais valores", afirma o procurador.



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