São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2001

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TROMBONE FINAL

Pefelista se aliou a todos os governos

Trajetória política de Antonio Carlos Magalhães contou com indicações por parte de militares; baiano defendeu Collor até o fim

DO BANCO DE DADOS

DA REDAÇÃO

Presença constante na cena política brasileira nas últimas quatro décadas, Antonio Carlos Magalhães construiu uma imagem de aliado de governos dos mais variados matizes ideológicos, do regime militar pós-64 à era tucana de Fernando Henrique Cardoso, passando pela Presidência de Fernando Collor de Mello.
É formado em medicina, como seu pai, mas encontrou na política a sua profissão. Nascido em Salvador (BA), em 4 de setembro de 1927, ACM iniciou sua vida política como presidente do grêmio do Ginásio da Bahia. Na universidade, foi presidente do Diretório Central de Estudantes.
Foi também redator de debates da Assembléia Legislativa da Bahia e redator do jornal "Estado da Bahia" (dos "Diários Associados"). Em 1979, começou a circular o "Correio da Bahia", jornal de sua propriedade. Suas empresas de comunicação incluem a TV Bahia, afiliada à Rede Globo.
ACM foi ainda professor-assistente e, depois, professor-adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia.
Integrou a Academia de Letras da Bahia, mas a abandonou em 1998, dizendo-se revoltado com a entrada de um jornalista, seu desafeto, na entidade.
Em 1954, foi eleito deputado estadual pela UDN (União Democrática Nacional). Quatro anos depois, começou a alcançar projeção nacional quando se elegeu, ainda pela UDN, deputado federal, cargo para o qual foi reeleito duas vezes, em 1962 e 1966.
O círculo de amigos que fez nesses primeiros anos de vida pública levou à sua nomeação como prefeito de Salvador pelo então governador da Bahia, Luís Viana Filho, durante o governo militar.
Para ocupar a prefeitura, licenciou-se da Câmara em janeiro de 1967. Na ocasião, ACM já estava filiado à Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido que dava sustentação aos militares e que fora criado no ano anterior.
Ao fim do mandato de prefeito, em 1970, reassumiu seu papel de deputado federal, cargo que exerceria por menos de um ano, já que, em 1971, foi indicado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici para governar a Bahia.
Durante o mandato de governador, entre 1971 e 1975, ACM iniciaria a consolidação da Bahia como pólo turístico, com a implantação de hotéis e a construção de estradas e museus em Salvador e Porto Seguro (litoral da Bahia).
Em 1975, o presidente Ernesto Geisel nomeou o baiano presidente da Eletrobrás e membro do Conselho de Administração da Itaipu Binacional.
Esse afastamento do primeiro plano da vida pública duraria até 1979, quando teve início o seu segundo mandato como governador da Bahia, novamente indicado pelo governo militar.
Com o fim do bipartidarismo, ACM filiou-se ao PDS (Partido Democrático Social) e, em 1982, elegeu seu sucessor, João Durval Carneiro, com quem romperia tempos mais tarde.
Em 1984, com o aumento da pressão da população pela redemocratização do país, ACM opôs-se a candidatura à Presidência da República de Paulo Maluf, do PDS, e declarou apoio a Tancredo Neves. Mais tarde, deixou o PDS e se filiou ao PFL (Partido da Frente Liberal), no qual está até hoje.

Concessões de TV
Com a morte de Tancredo e a posse de José Sarney, em 1985, assumiu o Ministério das Comunicações, nele permanecendo até março de 1990. Sua gestão foi marcada por várias denúncias de distribuição de concessões de rádio e TV em troca de apoio aos interesses do governo, em especial à aprovação do mandato de cinco anos para José Sarney.
Em 1986, Antonio Carlos Magalhães enfrentou uma de suas raras derrotas políticas, com a eleição de Waldir Pires (PMDB) para o governo da Bahia, em detrimento de seu aliado Josaphat Marinho.
Ao deixar o Ministério das Comunicações, assumiu em março de 1991, pela terceira vez, o governo da Bahia, do qual saiu para assumir o cargo de senador da República, em 1994.
Três anos depois, foi eleito presidente do Senado e, como tal, continuaria angariando opositores, graças ao seu estilo temperamental e centralizador.
Sua saída da presidência do Senado, em fevereiro de 2001, impôs-lhe uma das suas piores derrotas políticas, com a eleição do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) para sucedê-lo.
Sua reação ao que considerou uma traição por parte do presidente Fernando Henrique foi uma série de acusações contra o governo, que custaram ao então senador a demissão dos dois ministros indicados por ele, Rodolpho Tourinho (Minas e Energia) e Waldeck Ornélas (Previdência). A partir de então, uma série de erros estratégicos levou à derrocada política de ACM, que culminou em sua renúncia.
Para muitos, sua decadência política começou em abril de 1998, quando ACM viveu um de seus maiores dramas pessoais: a morte de seu filho Luís Eduardo Magalhães, escolhido por ele como seu sucessor político, vítima de infarto, aos 43 anos. Foi o segundo dos quatro filhos de ACM que morreu. Ana Lúcia Magalhães, sua filha, que era diretora do "Correio da Bahia", suicidou-se aos 28 anos, cerca de dez anos antes da morte do irmão.
Luís Eduardo costumava dizer que o risco que seu pai corria era o de tentar fazer política em Brasília como sempre fez na Bahia. Ou seja: mandando em tudo e todos.
A trajetória de ACM desde então, da troca de acusações com Jader Barbalho à "indiscrição" cometida durante a conversa com os procuradores da República -quando falou que conhecia os votos da sessão que cassou o mandato de Luiz Estevão (PMDB-DF), iniciando todo o processo que levou à investigação do painel do Senado-, mostra que o filho de ACM estava certo.
Em 1989, ACM sofreu um infarto. Operado pelo cardiologista Adib Jatene, recebeu duas pontes de safena e duas mamárias. Em 1991, foi operado para a retirada de cálculos renais. Em março de 2001 passou por exames em razão de problemas pulmonares.


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