São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Vou descansar", diz pefelista após discurso

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Vou descansar. Tenho um sentimento de liberdade. Eu não estava sendo eu mesmo, agora voltei a ser." Dita a última frase, às 19h30, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães entrou no carro -sem chapa oficial- e voltou a seu apartamento -ainda funcional- para jantar com o filho Júnior, que assume hoje a vaga deixada por ACM no Senado, dois netos e amigos de longa data, como o dono do colégio Objetivo, João Carlos Di Gênio.
Em seu último dia como senador pelo PFL da Bahia, ACM experimentou a excitação de um vereador em primeira campanha -ao comentar o retorno à terra natal-, a tristeza pela perda do mandato no Senado e a preocupação com o fim da imunidade parlamentar.
Feito o discurso, uma comitiva de 150 prefeitos baianos, liderada pelo governador do Estado, César Borges, esperava o ex-senador no gabinete. Na presença desse público, ACM reafirmou que o presidente Fernando Henrique Cardoso conheceu o conteúdo da lista com os votos da cassação de Luiz Estevão. "Ele [FHC" comentou comigo e com o [José Roberto" Arruda os nomes da lista. Isso ele não vai negar. Mas ele não tem responsabilidade nisso.'
As homenagens pós-renúncia foram três salvas de palma, dois ramalhetes de flores e abraços de autoridades e assessores.
Duas horas depois, com o quórum do gabinete mais baixo, ACM fez sua primeira reunião com os advogados para discutir providências com a Justiça.
Mais urgente, no entanto, era preparar a mala para viajar hoje de volta à Bahia. A expectativa de ser recebido por uma legião de taxistas no aeroporto Luís Eduardo Magalhães fez ACM experimentar, de véspera, a sensação de começar de novo.
O jingle da festa é do publicitário Nizan Guanaes: "Volta, cabeça branca, para a Bahia, volta, que a Bahia está te esperando. Volta para o nosso coração."
Na manhã de ontem, o pefelista só queria falar da Bahia. Recusou-se a mudar uma vírgula que fosse no discurso -não abriu exceção nem mesmo para o nome da mãe do senador José Sarney (PMDB-AP), dona Quiola, cuja grafia estava errada no texto distribuído. O correto é Quyola.
O escritor Fernando Moraes, que passou o dia com ACM e viaja com ele hoje para Salvador, registrou tudo para a biografia do pefelista na qual está trabalhando há quase cinco anos.
Durante a manhã de conversas e telefonemas de solidariedade, a lembrança do procurador Luiz Francisco de Souza, pivô do infortúnio de ACM. ""É um absurdo", comentou o pefelista, sobre o desafio que lhe foi feito pelo procurador de assinar o requerimento da CPI da corrupção no Senado.

Aliados
O clima provocado pela renúncia de ACM entre seus aliados na Bahia e no Congresso foi um misto de velório com início de campanha eleitoral. Lágrimas e silêncio de pesar se misturaram com frases de apoio de campanha, fotografias e pedidos de autógrafo.
Após o discurso de renúncia, uma fila se formou próximo ao gabinete do ex-senador para cumprimentos. Os correligionários de ACM cantavam o Hino do Senhor do Bonfim e a canção usada na campanha que o elegeu.
A deputada estadual Eliana Boaventura (PPB), empolgada, lançou ACM para o lugar de FHC. "Vamos devolver ACM [para Brasília" como presidente".
FHC era um dos alvos dos carlistas. "Fernando Henrique é um covarde", disse a deputada estadual Sônia Fontes (PFL).



Texto Anterior: FHC acha acusações 'fracas' e não vai responder
Próximo Texto: Pefelista se aliou a todos os governos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.