São Paulo, quinta-feira, 31 de maio de 2001

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Clima de velório deprime carlistas

DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um misto de velório com início de campanha eleitoral. Esse foi o clima provocado pela renúncia do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) entre seus aliados na Bahia e no Congresso. Lágrimas e silêncio de pesar se misturaram com frases de apoio de campanha, fotografias e pedidos de autógrafo. Desta vez, não houve manifestação de cara-pintadas.
Após o discurso de renúncia, uma fila se formou próximo ao gabinete do ex-senador para cumprimentos. Uma hora e 26 minutos mais cedo, também uma fila formada por deputados estaduais da Bahia e prefeitos do Estado foi formada para recepcionar ACM na entrada do Congresso.
Mais barulhenta, a fila na chegada de ACM ao Senado era de exaltação. Os correligionários do senador cantavam o Hino do Senhor do Bonfim e a canção usada na campanha que o elegeu. A frase mais gritada, porém, era "um, dois, três, ACM é nosso rei".
A deputada estadual Eliana Boaventura (PPB), empolgada, lançou ACM para o lugar do presidente Fernando Henrique Cardoso. "Vamos devolver ACM [para Brasília" como presidente".
FHC era um dos alvos dos carlistas. "Fernando Henrique é um covarde. Ele está assinando o seu calvário com a pressão para que ACM renuncie", afirmou a deputada estadual Sônia Fontes (PFL).
Os prefeitos disseram que somavam 200 ou, em outra medida, 4 milhões de votos. Misturados com deputados federais e amigos do senador, a fila foi aumentada às 16h16, após a renúncia.
Nos primeiros 54 minutos da chegada de ACM ao seu gabinete após ter deixado o plenário, pelo menos 240 pessoas foram cumprimentá-lo. Para evitar congestionamentos no corredor, seguranças formaram duas filas, uma para entrar e outra para sair.
"Parabéns, sua dignidade nos acompanha", "Santa Rita não lhe faltará", foram algumas das frases ditas pelos correligionários de ACM. Alguns chegavam com papel pedindo autógrafos.
Os primeiros, no entanto, a estarem com o senador após a renúncia foram os pefelistas. "O fato é tão triste que não merece comentários", disse o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), ao deixar o gabinete.
O líder do PFL no Senado, Hugo Napoleão (PI), defendeu o discurso de ACM. "Foi inteiramente adequado". O senador Agripino Maia (RN), vice-presidente do partido, disse que ACM seria mais ácido no discurso, mas considerou os pedidos feitos por amigos.
"O discurso foi a cara dele [ACM". O que se podia esperar depois do calvário longo pelo qual passou? Palavras amáveis para seus algozes?", disse Agripino.
O filho de ACM, que toma posse hoje em sua vaga, assistiu ao discurso no plenário já sentado na cadeira de senador. Antonio Carlos Magalhães Júnior (PFL-BA) chorou quando o pai citou o deputado Luís Eduardo Magalhães, seu filho morto em abril de 1998.
Além de ACM Júnior, também choraram os netos de ACM, Antonio Carlos Magalhães Neto e Luís Eduardo Magalhães Filho, e os deputados Cláudio Cajado (PFL-BA) e Paulo Magalhães (PFL-BA), sobrinho de ACM.


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