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JANIO DE FREITAS
Renúncia sem renúncia
"...Para voltar a esta casa ou, quem sabe,
além dela" é uma idealização
de futuro que não nega a renúncia, mas a define como intervalo
que não é pausa e, no empenho
de subjugar a derrota, retoma
um propósito já manifestado e
depois silenciado por Antonio
Carlos Magalhães: fazer, a partir da Bahia, uma campanha de
denúncia e cobrança em âmbito
nacional.
"Além dela", alusão à Presidência, tem uma amplitude que
alcança as várias pretensões à
sucessão presidencial, o PFL, a
aliança PSDB-PFL-PMDB e, sobretudo, Fernando Henrique
Cardoso e seus graves problemas sucessórios. Se esse alcance
tende a ter intensidade de fato
influente, não há como pressenti-lo em uma situação tão caótica e farta de variantes possíveis,
como a atual. E como a situação
do próprio Antonio Carlos Magalhães, cuja renúncia não parece abrandar as diversas disposições de acuá-lo política e judicialmente.
É na linha mesma da idealização insinuada sutilmente que se
encontra o trecho mais alto do
discurso de renúncia: "A minha
vida só tem sentido se eu continuar radicalizando cada vez
mais na direção do que é correto". Um frase voltada para
amanhã, porém com um sentido que lhe vem, não do futuro
pretendido, se não do passado
recente que só intenções baixas
podem negar.
A verdade é que Antonio Carlos Magalhães redimiu com seus
anos no Senado muito do que o
tornara difundidamente detestado. Trabalhou como raros trabalham ali, foi leal ao interesse
do país e a única voz na "aliança governista" a não se aninhar,
subserviente, no caráter anti-social da política econômica. É esse passado recente, seis anos e
tal, que pode dar sentido ao propósito de Antonio Carlos de seguir "na direção do é correto", e
cada vez mais radicalmente. No
Senado, aliás, só a oposição não
percebeu que a Bahia para lá
mandara um inesperado radical.
O discurso de renúncia não foi
linear. Perdeu-se com frequência em ressentimentos que dizia
inexistirem. Os anúncios de ataques criaram expectativas que
as ironias e as farpas não poderiam satisfazer. E havia ainda,
entre os senadores, o suspense
maior suscitado pela lista de votos na cassação de Luiz Estevão.
A referência de Antonio Carlos
tanto frustrou como aliviou, dependendo de cada senador:
"Cópias, podem existir algumas.
Não comigo".
Existem e assim mesmo, no
plural: cópias, algumas. Com
quem -eis a questão.
Apesar de tudo o que pode lhe
ser imputado por seu passado e
pelo presente onde exerce a sua
força prepotente, a verdade é
que a renúncia de Antonio Carlos Magalhães privou o Senado
de um senador. De muito poucos, entre os 81 senadores, se poderia dizer o mesmo.
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