São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 2005

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QUESTÃO INDÍGENA

Polícia tenta combater extração ilegal de diamantes em Roosevelt

Polícia joga bomba em reserva em RO

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Durante investigação sobre o funcionamento de garimpo dentro da reserva indígena Roosevelt (RO), no último dia 5, a Polícia Federal jogou de seu helicóptero uma bomba de efeito moral para desmobilizar índios cintas-largas e garimpeiros que extraíam ilegalmente diamantes no local.
O explosivo gerou estrondo e fumaça no garimpo do Laje, dentro da reserva -que fica em Espigão d'Oeste (534 km de Porto Velho). Houve correria, mas ninguém saiu ferido, segundo a PF.
A ação, só revelada ontem pela PF, não conseguiu acabar com o garimpo. A PF informou que pelo menos cem pessoas, entre índios e garimpeiros, estão atuando na extração ilegal de diamantes. Todas as entradas da reserva foram bloqueadas para impedir a entrada de mantimentos e combustível.
A Associação Indígena Cinta-Larga Pamaré disse à Folha que fará reclamação formal ao Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, do Ministério da Justiça, contra o lançamento da bomba.
Chefe da força-tarefa que investiga o assassinato de 29 garimpeiros, em abril de 2004, e o contrabando de diamantes dentro da reserva, o delegado Mauro Sposito justificou o lançamento da bomba dizendo que índios e garimpeiros estavam armados.
"Lançamos a bomba de efeito moral, que é arma não letal, porque eles [índios e garimpeiros] estavam impedindo o pouso do helicóptero. Precisávamos dissolver a manifestação", disse o delegado, também coordenador de Operações Especiais de Fronteiras.
Sposito disse que antes do lançamento da bomba os agentes fizeram duas tentativas de pouso, sem sucesso. Na primeira, os policiais avistaram quatro índios com arcos e fechas. "Eles flecharam o helicóptero, impedindo o pouso."
Como não conseguiu pousar a aeronave no garimpo, o piloto aumentou a altitude. "Quando baixamos o helicóptero, os garimpeiros saíram [da mata] com espingardas nas mãos. Eles disparam contra nós", completou.
Sposito disse que o garimpo foi ativado pelos próprios índios em abril deste ano. Em 2004, eles haviam firmado com a PF e com a Funai um acordo de fechamento dos garimpos dentro da reserva e chegaram a entregar 302 resumidoras (máquinas usadas para sugar o cascalho do fundo do rio).
"Hoje, todos os caciques estão comandando o garimpo. A situação é mais crítica porque tem o apoio direto da Associação Pamaré. São eles [os caciques] que estão saindo da reserva para vender os diamantes aos contrabandistas."
Sposito disse que a associação facilita a entrada de garimpeiros na reserva. A associação negou ontem que esteja à frente da exploração ilegal de diamantes.
Segundo a Polícia Federal, no último fim de semana um grupo de 40 garimpeiros foi detido ao tentar entrar na reserva.
O procurador da República Reginaldo Pereira de Trindade, de Rondônia, disse ter participado de reunião com a PF, na semana passada, em que recomendou que não fossem usados explosivos em ações na reserva. "A polícia tem plena autonomia para agir, mas fica uma certa preocupação em razão do que significa essa bomba, pelo trauma que os índios têm do contato com o branco."
A Funai (Fundação Nacional do Índio) disse que enviou funcionário a Rondônia para acompanhar a situação na reserva.


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