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ESCÂNDALO DO MENSALÃO / GUERRA DAS TELES
Dantas nega contratação da Kroll e se diz perseguido
Banqueiro depõe em SP e reafirma que não tinha ingerência na Brasil Telecom
Versão foi informada por procuradora e assistente de acusação, já que Dantas deixou prédio da Justiça Federal de SP pelos fundos
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Em depoimento à Justiça Federal de São Paulo, o banqueiro
Daniel Dantas, do Opportunity,
negou ter participado da contratação da empresa internacional de investigação Kroll e se
disse vítima de perseguição pela imprensa e pelas autoridades
que o investigam.
De acordo com o Ministério
Público Federal, Dantas chegou a dizer ao juiz Silvio Luís
Ferreira da Rocha que considerava todo o processo "um absurdo". "Ele se diz vítima de tudo isso", afirmou a procuradora
Anamara Osório Silva de Sordi.
Em linha geral, ainda segundo a Procuradoria, Dantas praticamente repetiu ontem as explicações que havia dado à Polícia Federal: que a contratação
da Kroll foi de total responsabilidade da Brasil Telecom e que
ele não tinha ingerência na empresa de telefonia. "Ele não negou, porém, que tinha participação acionária na Brasil Telecom", disse Sordi.
Essa contratação da Kroll teria como objetivo investigar o
suposto prejuízo causado à
Brasil Telecom pela Parmalat,
ligada à Telecom Italia. Para a
assistência de acusação e Procuradoria, essa ligação entre
Parmalat e a empresa italiana
revela o interesse da investigação. "No fundo, ele [Dantas]
desnudou o interesse de investigá-las [as pessoas ligadas à
Telecom Italia]", afirmou a assistente de acusação, a advogada Maria Elizabeth Queijo.
O banqueiro, que ontem só
aceitou responder perguntas
do juiz, é acusado de participar
de esquema de espionagem
contra a concorrente Telecom
Italia, em esquema montado
pelo Opportunity e pela Brasil
Telecom. Durante essas investigações, integrantes do governo chegaram a ser atingidos.
Nesse processo de São Paulo,
Dantas é acusado de formação
de quadrilha, violação e divulgação de sigilos, corrupção ativa e receptação. Outras 26 pessoas também foram denunciadas pelo Procuradoria, entre
elas a ex-presidente da Brasil
Telecom Carla Cico.
De acordo com Sordi, questões sobre membros do governo federal ou a suposta participação da CIA nas investigações
no Brasil não foram levantadas
pelo juiz porque não há menção
a esses fatos no processo.
A Folha revelou, no último
domingo, a participação de
Dantas nas investigações da
Kroll e, também, a participação
do serviço de inteligência americano em parte delas.
A Justiça deve ouvir agora
quatro pessoas ligadas à Kroll
fora do país. Empresários da
Telecom Italia serão ouvidos
no processo como vítimas.
Saída pelos fundos
A versão do banqueiro foi informada aos jornalistas pela
procuradora e pela assistente
de acusação, já que Dantas deixou o prédio da Justiça Federal
sem ser visto. O banqueiro contou com a generosidade da Justiça, que autorizou sua saída
pelo portão dos fundos.
Esse mesmo privilégio foi negado ao ex-governador Paulo
Maluf em todas as vezes em que
prestou depoimento naquele
fórum. De acordo com a assessoria de imprensa do TRF-3
(Tribunal Regional Federal), a
última pessoa a conseguir tal
concessão foi o doleiro Toninho da Barcelona, em 2004.
Ainda segundo a assessoria
do tribunal, o juiz Hélio Egydio
de Matos Nogueira atendeu o
pedido de Dantas para evitar
eventual tumulto provocado
pelos jornalistas e, com isso, garantir o acesso de outras pessoas ao prédio.
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