São Paulo, quarta-feira, 31 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO / GUERRA DAS TELES

Dantas nega contratação da Kroll e se diz perseguido

Banqueiro depõe em SP e reafirma que não tinha ingerência na Brasil Telecom

Versão foi informada por procuradora e assistente de acusação, já que Dantas deixou prédio da Justiça Federal de SP pelos fundos


ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Em depoimento à Justiça Federal de São Paulo, o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, negou ter participado da contratação da empresa internacional de investigação Kroll e se disse vítima de perseguição pela imprensa e pelas autoridades que o investigam.
De acordo com o Ministério Público Federal, Dantas chegou a dizer ao juiz Silvio Luís Ferreira da Rocha que considerava todo o processo "um absurdo". "Ele se diz vítima de tudo isso", afirmou a procuradora Anamara Osório Silva de Sordi.
Em linha geral, ainda segundo a Procuradoria, Dantas praticamente repetiu ontem as explicações que havia dado à Polícia Federal: que a contratação da Kroll foi de total responsabilidade da Brasil Telecom e que ele não tinha ingerência na empresa de telefonia. "Ele não negou, porém, que tinha participação acionária na Brasil Telecom", disse Sordi.
Essa contratação da Kroll teria como objetivo investigar o suposto prejuízo causado à Brasil Telecom pela Parmalat, ligada à Telecom Italia. Para a assistência de acusação e Procuradoria, essa ligação entre Parmalat e a empresa italiana revela o interesse da investigação. "No fundo, ele [Dantas] desnudou o interesse de investigá-las [as pessoas ligadas à Telecom Italia]", afirmou a assistente de acusação, a advogada Maria Elizabeth Queijo.
O banqueiro, que ontem só aceitou responder perguntas do juiz, é acusado de participar de esquema de espionagem contra a concorrente Telecom Italia, em esquema montado pelo Opportunity e pela Brasil Telecom. Durante essas investigações, integrantes do governo chegaram a ser atingidos.
Nesse processo de São Paulo, Dantas é acusado de formação de quadrilha, violação e divulgação de sigilos, corrupção ativa e receptação. Outras 26 pessoas também foram denunciadas pelo Procuradoria, entre elas a ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cico.
De acordo com Sordi, questões sobre membros do governo federal ou a suposta participação da CIA nas investigações no Brasil não foram levantadas pelo juiz porque não há menção a esses fatos no processo.
A Folha revelou, no último domingo, a participação de Dantas nas investigações da Kroll e, também, a participação do serviço de inteligência americano em parte delas.
A Justiça deve ouvir agora quatro pessoas ligadas à Kroll fora do país. Empresários da Telecom Italia serão ouvidos no processo como vítimas.

Saída pelos fundos
A versão do banqueiro foi informada aos jornalistas pela procuradora e pela assistente de acusação, já que Dantas deixou o prédio da Justiça Federal sem ser visto. O banqueiro contou com a generosidade da Justiça, que autorizou sua saída pelo portão dos fundos.
Esse mesmo privilégio foi negado ao ex-governador Paulo Maluf em todas as vezes em que prestou depoimento naquele fórum. De acordo com a assessoria de imprensa do TRF-3 (Tribunal Regional Federal), a última pessoa a conseguir tal concessão foi o doleiro Toninho da Barcelona, em 2004.
Ainda segundo a assessoria do tribunal, o juiz Hélio Egydio de Matos Nogueira atendeu o pedido de Dantas para evitar eventual tumulto provocado pelos jornalistas e, com isso, garantir o acesso de outras pessoas ao prédio.


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