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DATAFOLHA
Grupo palaciano passa rapidamente do "já ganhou" para o temor de 2º turno e até de derrota do presidente
Planalto já não vê reeleição assegurada
CLÓVIS ROSSI
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
O segundo
mandato para o
presidente Fernando Henrique Cardoso já
não está garantido. Essa avaliação está sendo feita pelos analistas de pesquisa
do próprio governo, conforme a
Folha apurou, e foi enormemente
reforçada pelo fato de pesquisa do
Datafolha, ontem divulgada, ter
mostrado um empate estatístico
entre FHC e Luiz Inácio Lula da
Silva.
É uma fortíssima inversão de
ambiente entre o grupo palaciano,
que, até há pouco, vivia um "já
ganhou" tão vigoroso que qualquer proposta para que a campanha de FHC fosse ao menos estruturada era descartada pelo próprio
presidente.
"É coisa para depois da Copa do
Mundo", chegou a dizer FHC,
quando pesquisadores como Antônio Lavareda apontavam o surgimento de algumas nuvens negras no horizonte da candidatura
de Fernando Henrique.
Sintoma eloquente da mudança
de humor no círculo palaciano:
em vez do "já ganhou", o ministro da Educação, Paulo Renato
Souza, comentou com amigos que
volta para Washington (onde trabalhava, antes de ser recrutado
por FHC), no caso da vitória de
Lula.
É uma brincadeira, claro, pois é
muito cedo para que qualquer
pessoa comece a pensar no dia seguinte a uma eleição que ainda está a quatro meses de distância.
Mas é uma brincadeira reveladora
de como foi arquivada, tanto no
PSDB, o partido do presidente,
como no Palácio, a idéia de que a
vitória viria já no primeiro turno.
Das análises feitas pelo círculo
íntimo do presidente, ganha ênfase "a maldição de maio", expressão ouvida pela Folha para designar dificuldades que o governo
FHC enfrentou em todos os meses
de maio, desde a posse.
A maior delas foi em 1996, com o
reflexo em sua popularidade provocado pelo massacre de um grupo de sem-terra em Eldorado do
Carajás (PA), ocorrido em 17 de
abril.
Foi esse fato que fez cair a popularidade do presidente a seu nível
mais baixo nas pesquisas de opinião pública feitas em maio de 96.
Mas ainda era o suficiente para lhe
assegurar a vitória no primeiro
turno, cenário que só a pesquisa
de maio do Datafolha desfaz, pelo
menos provisoriamente.
O possível e o sonho
O principal fator, apesar na queda de FHC, sempre segundo os
analistas palacianos de pesquisas,
seria a sua insistência em falar na
"utopia do possível", em vez de
propor um novo sonho ao eleitorado.
Propor apenas consolidar o Plano Real parece não mais bastar,
um dado que é confirmado por
outra pesquisa, conduzida pelo
Ibope, por encomenda da CNI
(Confederação Nacional da Indústria).
Em janeiro, 36% dos pesquisados apostavam em que o Real seria
um sucesso contra apenas 13%
que temiam um fracasso. Em
maio, subiu para 21% a porcentagem dos que receiam um fracasso
e caiu para 33% a dos francamente
otimistas.
Uma segunda pesquisa da CNI,
sobre a expectativa dos consumidores, vai na mesma direção: a expectativa negativa atingiu, em
maio, seu ponto mais alto desde
que os dados são compilados
(1996).
As razões para esse desconforto,
voltando aos analistas palacianos,
vão desde os reajustes reduzidos
para o salário mínimo e para as
aposentadorias (sempre em maio)
até a imagem de que o presidente
fica tomando champanhe no exterior enquanto Roraima pega fogo
ou o Nordeste verga sob a seca.
Há até, no círculo íntimo do presidente, quem culpe a burguesia,
que estaria brincando, conforme
análise ouvida pela Folha. Parte da
suposta brincadeira seria a desatenção para com a exacerbação de
demandas sociais, maximizadas
pela mídia, que, sempre por essa
análise, seria parte da burguesia.
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