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DATAFOLHA
Presidente perde sete pontos; petista ganha seis
Eleitor insatisfeito de FHC vai para Lula
MAURO FRANCISCO PAULINO
gerente de pesquisas do Datafolha
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
A pesquisa nacional Datafolha
feita em 27 e 28 de maio mostra
que houve uma transferência direta de votos do presidente Fernando Henrique Cardoso para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da
Silva.
Em outras palavras, eleitores que
antes manifestavam intenção de
votar em FHC mudaram sua opção porque seu descontentamento
com o atual governo aumentou
devido a problemas como o desemprego, a seca e os saques no
Nordeste e ao fato de o presidente
ter chamado os aposentados com
menos de 50 anos de vagabundos.
Não houve um aumento significativo do percentual de eleitores
que pretendem votar em branco,
anular o voto ou que se dizem indecisos. Os sem-candidato somavam 19% em março e abril, e passaram a 21% em maio.
Já a intenção de voto em FHC
caiu praticamente na mesma medida do aumento dos votos declarados ao candidato do PT. O presidente perdeu sete pontos percentuais entre abril e maio, enquanto
Lula cresceu seis pontos.
Na pesquisa feita em 119 municípios de todos os Estados brasileiros, Fernando Henrique caiu de
41% para 34%, e Lula subiu de 24%
para 30%, chegando ao limite do
empate técnico (a margem de erro
é de dois pontos percentuais, para
mais ou para menos).
Os percentuais dos outros presidenciáveis ficaram estabilizados.
Normalmente, quando há migração de votos, esses eleitores que
abandonam um candidato vão
primeiro para o grupo dos indecisos ou dos que anulam ou votam
em branco. Só então migram para
um outro candidato.
O que pode ter levado a essa mudança de comportamento do eleitorado é a vontade de demonstrar
insatisfação com o presidente
-seja por causa de questões persistentes, como o desemprego e a
seca, seja por ele ter chamado os
que se aposentam antes dos 50
anos de idade de vagabundos.
Nesse último caso, isso fica evidenciado pelo salto dado por Lula
no eleitorado com 60 anos ou
mais. Ele cresceu 13 pontos percentuais, chegando a 29% e empatando tecnicamente com FHC,
que caiu de 37% para 32%.
O candidato petista foi beneficiado pela migração dos eleitores
mais velhos que optavam por votar em branco ou anular o voto.
Tudo leva a crer que esses idosos
reforçaram seu voto de protesto ao
dá-lo para o principal adversário
do presidente.
A preocupação com o desemprego está clara na perda de votos de
FHC nas regiões metropolitanas,
onde o alto grau de industrialização torna o fenômeno da perda do
emprego mais dramático.
Nessas áreas, FHC foi ultrapassado por Lula. Fernando Henrique
tem agora 26% das intenções de
voto, contra 37% um mês antes.
Lula pulou de 25% para 37%.
Os dados de avaliação do governo FHC reforçam essa tendência:
nas principais capitais e nas cidades em seu entorno o percentual
dos que acham sua administração
boa ou ótima (23%) foi suplantado
pelos que consideram o governo
ruim ou péssimo (31%).
A pesquisa mostra ainda uma insatisfação do eleitorado com as
atitudes tomadas até agora pelo
presidente em relação à seca no
Nordeste. Apenas 8% consideram
a ação do governo contra esse problema "muito eficiente".
Mesmo entre os eleitores de FHC
essa taxa é baixa: 12%. Por outro
lado, 39% dos brasileiros acham
que o governo não está demonstrando nenhuma eficiência no
combate à seca.
A preocupação com a seca se reflete em outro dado: 67% acham
que os saques de alimentos que
vêm ocorrendo no Nordeste atrapalham a candidatura de FHC.
A soma de todos esses problemas
levou o presidente Fernando Henrique a um grau de impopularidade que só havia registrado logo
após o massacre dos sem-terra no
sul do Pará em 1996.
Dessa vez, porém, as circunstâncias são diferentes e, em certa medida, mais preocupantes para o
presidente. As quedas de sua aprovação e de sua intenção de voto
ocorreram em todas as regiões do
país e em todos os segmentos sociais, mas, desta feita, num ritmo
mais lento e persistente.
Há sinais de que parte do eleitorado cansou de esperar uma atitude mais eficiente do governo em
relação aos problemas sociais.
A população acha que FHC dá,
atualmente, uma importância demasiada ao combate à inflação.
Para 54%, ele deveria dar a mesma
prioridade aos demais problemas
do país. Porém, 49% têm a percepção de que ele está mais preocupado com segurar os aumentos de
preços do que com o resto.
Essa pesquisa levanta uma questão: o presidente passa por uma
crise mais grave do que a provocada pelo massacre dos sem-terra
que pode levá-lo a romper seu patamar mais baixo? Ou, a exemplo
do que ocorreu em 1996, ele vai se
recuperar? A resposta dependerá
da reação do governo a problemas
como a seca e o desemprego. Só as
próximas pesquisas poderão dizer.
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