São Paulo, domingo, 31 de maio de 1998

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DATAFOLHA
Presidente perde sete pontos; petista ganha seis
Eleitor insatisfeito de FHC vai para Lula

MAURO FRANCISCO PAULINO
gerente de pesquisas do Datafolha

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

A pesquisa nacional Datafolha feita em 27 e 28 de maio mostra que houve uma transferência direta de votos do presidente Fernando Henrique Cardoso para o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em outras palavras, eleitores que antes manifestavam intenção de votar em FHC mudaram sua opção porque seu descontentamento com o atual governo aumentou devido a problemas como o desemprego, a seca e os saques no Nordeste e ao fato de o presidente ter chamado os aposentados com menos de 50 anos de vagabundos.
Não houve um aumento significativo do percentual de eleitores que pretendem votar em branco, anular o voto ou que se dizem indecisos. Os sem-candidato somavam 19% em março e abril, e passaram a 21% em maio.
Já a intenção de voto em FHC caiu praticamente na mesma medida do aumento dos votos declarados ao candidato do PT. O presidente perdeu sete pontos percentuais entre abril e maio, enquanto Lula cresceu seis pontos.
Na pesquisa feita em 119 municípios de todos os Estados brasileiros, Fernando Henrique caiu de 41% para 34%, e Lula subiu de 24% para 30%, chegando ao limite do empate técnico (a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos).
Os percentuais dos outros presidenciáveis ficaram estabilizados.
Normalmente, quando há migração de votos, esses eleitores que abandonam um candidato vão primeiro para o grupo dos indecisos ou dos que anulam ou votam em branco. Só então migram para um outro candidato.
O que pode ter levado a essa mudança de comportamento do eleitorado é a vontade de demonstrar insatisfação com o presidente -seja por causa de questões persistentes, como o desemprego e a seca, seja por ele ter chamado os que se aposentam antes dos 50 anos de idade de vagabundos.
Nesse último caso, isso fica evidenciado pelo salto dado por Lula no eleitorado com 60 anos ou mais. Ele cresceu 13 pontos percentuais, chegando a 29% e empatando tecnicamente com FHC, que caiu de 37% para 32%.
O candidato petista foi beneficiado pela migração dos eleitores mais velhos que optavam por votar em branco ou anular o voto. Tudo leva a crer que esses idosos reforçaram seu voto de protesto ao dá-lo para o principal adversário do presidente.
A preocupação com o desemprego está clara na perda de votos de FHC nas regiões metropolitanas, onde o alto grau de industrialização torna o fenômeno da perda do emprego mais dramático.
Nessas áreas, FHC foi ultrapassado por Lula. Fernando Henrique tem agora 26% das intenções de voto, contra 37% um mês antes. Lula pulou de 25% para 37%.
Os dados de avaliação do governo FHC reforçam essa tendência: nas principais capitais e nas cidades em seu entorno o percentual dos que acham sua administração boa ou ótima (23%) foi suplantado pelos que consideram o governo ruim ou péssimo (31%).
A pesquisa mostra ainda uma insatisfação do eleitorado com as atitudes tomadas até agora pelo presidente em relação à seca no Nordeste. Apenas 8% consideram a ação do governo contra esse problema "muito eficiente".
Mesmo entre os eleitores de FHC essa taxa é baixa: 12%. Por outro lado, 39% dos brasileiros acham que o governo não está demonstrando nenhuma eficiência no combate à seca.
A preocupação com a seca se reflete em outro dado: 67% acham que os saques de alimentos que vêm ocorrendo no Nordeste atrapalham a candidatura de FHC.
A soma de todos esses problemas levou o presidente Fernando Henrique a um grau de impopularidade que só havia registrado logo após o massacre dos sem-terra no sul do Pará em 1996.
Dessa vez, porém, as circunstâncias são diferentes e, em certa medida, mais preocupantes para o presidente. As quedas de sua aprovação e de sua intenção de voto ocorreram em todas as regiões do país e em todos os segmentos sociais, mas, desta feita, num ritmo mais lento e persistente.
Há sinais de que parte do eleitorado cansou de esperar uma atitude mais eficiente do governo em relação aos problemas sociais.
A população acha que FHC dá, atualmente, uma importância demasiada ao combate à inflação. Para 54%, ele deveria dar a mesma prioridade aos demais problemas do país. Porém, 49% têm a percepção de que ele está mais preocupado com segurar os aumentos de preços do que com o resto.
Essa pesquisa levanta uma questão: o presidente passa por uma crise mais grave do que a provocada pelo massacre dos sem-terra que pode levá-lo a romper seu patamar mais baixo? Ou, a exemplo do que ocorreu em 1996, ele vai se recuperar? A resposta dependerá da reação do governo a problemas como a seca e o desemprego. Só as próximas pesquisas poderão dizer.



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