São Paulo, domingo, 31 de maio de 1998

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NORDESTE
Região não atingida pela seca é novo alvo
MST fará saques em área "verde" de PE

VANDECK SANTIAGO
da Agência Folha, em Recife

A Zona da Mata de Pernambuco, região que não está na área atingida pela seca, é o novo alvo dos saques comandados pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Na última semana, houve um saque na região e pelo menos outros quatro foram evitados depois que os prefeitos dos municípios ameaçados distribuíram cestas para acampamentos de sem-terra.
O MST promete que novos saques acontecerão nesta semana. "A cesta básica não mata a fome para sempre. Quando a fome volta, o pessoal precisa comer de novo", disse Luíza Ferreira da Silva, uma ex-professora primária que é a líder do MST na região.
Dos 184 municípios de Pernambuco, 127 (no sertão e agreste) foram considerados em "situação crítica" por conta da seca, segundo a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). Nenhuma das 52 cidades da Zona da Mata está incluída na lista.
"Aqui não tem flagelado da seca, mas tem flagelado da fome", disse Luíza da Silva.
Nos acampamentos da Zona da Mata não há como produzir porque a terra é ocupada pela cultura da cana-de-açúcar, avalia o MST.
Os acampados dizem também que não recebem ajuda dos prefeitos e, por isso, decidiram saquear.
Há pelo menos dez dias, comissões representando os sem-terra estão indo às prefeituras para reivindicar cestas básicas, lonas para os acampamentos e remédios. "Quem não atende a gente não pode depois acusar o MST de ser radical. Radical é a fome", disse Edmário José da Silva, outro dirigente do movimento na região.
Políticos e comerciantes dizem que as cidades estão sob tensão permanente, temendo que a qualquer momento possa acontecer um saque.
"Quando vejo um ajuntamento de gente ou qualquer correria, não quero nem saber o que é: vou logo fechando as portas", disse o proprietário de uma mercearia em Aliança (82 km de Recife), Marcelo Costa da Silva.
O prefeito da cidade, Carlos Freitas (PSB), também reclama: "Eu não sou presidente, meu Deus. Os sem-terra precisam entender que um prefeito não pode resolver o problema deles".



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