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CELSO PINTO
Privatização na retranca
A piora nas condições de
mercado e nos preços das ações
está batendo pesado na privatização brasileira.
Três exemplos: 1) as mudanças no custo real da Elektro, a
empresa de distribuição da
Cesp; 2) a perspectiva de adiar
para 99 a privatização da Bandeirante, distribuidora da Eletropaulo; e 3) uma reestimativa 21% menor, de US$ 64,2 bilhões para US$ 50,7 bilhões, da
receita de privatização do Brasil, pelo Citibank.
A Elektro finalmente teve o
sinal verde para ser vendida no
dia 16 de julho, depois de ter
sido obrigada a adiar o leilão
anterior, marcado para março.
O preço mínimo anterior foi
mantido: a parcela de ordinárias que vai a leilão valerá R$
743,6 milhões. O preço real,
contudo, caiu cerca de 14%.
A razão é que, em fevereiro, a
Elektro iria absorver R$ 700
milhões em dívidas da Cesp.
Em outros termos, quem comprasse pagaria R$ 743 milhões
e assumiria dívidas de R$ 700
milhões, um custo de R$ 1,443
milhões. Agora, a Cesp vai repassar R$ 492 milhões de dívidas para a Elektro. Na vida
real, o preço caiu R$ 200 milhões, um reflexo das condições
piores de mercado.
Outro indício de dificuldades
são informações de um grande
banco americano de que o governo paulista vai adiar para
99 a venda da Bandeirante, a
distribuidora que a Eletropaulo tentou vender, sem sucesso,
em abril.
A queda no valor das ações
das empresas elétricas foi muito expressiva. Em relação ao
pico de preço obtido em outubro, as ações da Cesp caíram
61%. O preço máximo da Eletrobrás foi em julho passado.
Hoje o preço é 46% mais baixo.
A Telebrás também caiu, mas
menos: em relação ao pico de
julho, a queda foi de 29%.
Um banco de investimentos
calcula o valor teoricamente
"justo" das empresas, a partir
de uma projeção do fluxo de
caixa que elas deverão gerar
nos próximos anos. Usando esse parâmetro, o preço das ações
da Cesp poderia subir 80% para chegar ao preço "justo", as
da Eletrobrás, 75%, e as da Eletropaulo, 150%.
Isso indica o potencial de valorização dessas empresas. No
entanto, o parâmetro para a
compra e para a obtenção de
financiamentos usados nas privatizações é o valor atual de
mercado.
Como são empresas de alto
custo, tipicamente os compradores têm de obter um empréstimo sindicalizado, para honrar o pagamento imediato da
privatização e depois refinanciá-lo através de uma emissão
de bônus de longo prazo. Um
banqueiro em Nova York comenta que os maiores bancos
continuam operando com empréstimos sindicalizados, mas
os bancos menores, que ajudam a distribuir os empréstimos, estão retraídos.
Em relação aos bônus, o mercado está virtualmente andando de lado desde o início de
abril. Nas últimas semanas aumentou a insegurança em relação aos países emergentes.
Além do custo ter subido significativamente, ficou muito difícil colocar novas emissões. Isso
complica a montagem financeira para algumas privatizações.
Todos esses complicadores estão refletidos na revisão da receita de privatização brasileira
feita pelo Citibank. Em março,
o banco calculava a receita de
privatização de 1998 ao ano
2001 em US$ 64,2 bilhões. Agora, a estimativa é US$ 50,7 bilhões. A estimativa oficial do
BNDES é de US$ 65 bilhões.
O Citi imagina uma receita
de US$ 25,9 bilhões este ano,
dos quais US$ 6,6 bilhões já
foram realizados. Restariam
US$ 31,4 bilhões para os três
anos seguintes. A privatização
tem ajudado tanto a evitar um
aumento da dívida interna (ao
recomprar dívida antiga),
quanto em atrair investimentos externos para financiar o
buraco em conta corrente.
Considerando o tamanho do
buraco externo (acima de US$
30 bilhões ao ano) e interno
(mais de R$ 55 bilhões/ano), os
US$ 31 bilhões estão longe de
garantir tranquilidade.
A previsão de receita com a
Eletrobrás caiu de US$ 20,4 bilhões para US$ 14,9 bilhões,
com as elétricas estaduais caiu
de US$ 15,3 bilhões para US$
9,1 bilhões, com telecomunicações, de US$ 16,8 bilhões para
US$ 13,9 bilhões. Agora, o Citi
imagina uma receita de US$
38,7 bilhões para o governo federal (e não US$ 46,4 bilhões) e
US$ 11,9 bilhões para os governos estaduais (em vez de US$
17,7 bilhões).
O Citi incluiu nas privatizações deste ano a Elektro e a
Bandeirante, mas jogou para
99 a venda das geradoras da
Cesp e da "holding" da empresa.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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