São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO NO ESCURO

Para economista do PT, recurso só deve ser usado em última instância

Ida ao FMI não é necessária, diz Mantega

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

O Brasil não precisa ir ao Fundo Monetário Internacional buscar mais dinheiro para enfrentar a atual crise. A avaliação é de um dos principais economistas do PT Guido Mantega, que está na Europa para acalmar investidores com relação à atual situação do país e buscar apoio para o programa econômico do seu partido.
Segundo ele, o FMI é um recurso que só deve ser usado em última instância. "O Fundo não tem um histórico muito recomendável. Já sugeriu programas que prejudicaram países", disse Mantega. De acordo com o assessor do PT, a Rússia, a Argentina e os países asiáticos são exemplos de intervenções mal sucedidas do FMI.
"O governo, em vez de ficar desesperado, tem que tomar medidas de curto prazo para aumentar o superávit comercial", disse. Ele fez três sugestões para ajudar o país a sair da crise: baixar a taxa de juros para empréstimos do BNDES, aumentar os recursos para o Proex (programa para o financiamento de exportações) e fazer uma minirreforma tributária para diminuir os impostos sobre os produtos exportados. Segundo ele, o governo FHC contaria com o apoio do PT para a minirreforma tributária.
Mantega, no entanto, disse que apoiaria a ida da equipe econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso ao FMI, se o objetivo fosse pedir a diminuição do piso das reservas internacionais brasileiras. Atualmente o Banco Central só pode usar parte das reservas estrangeiras para alimentar o mercado de dólares. Mantega disse achar prudente negociar com o FMI um aumento do volume das reservas que poderia ser usado para acalmar os mercados.
Ontem, o economista do PT se encontrou com investidores internacionais em Londres. "Procurei mostrar o exagero que está havendo, o nervosismo, que não combina com os números da economia brasileira", disse. Segundo Mantega, a dívida interna brasileira é administrável e a dívida externa é relativamente pequena. "O buraco não é tão grande, o problema é de confiança", resumiu. Para ele, a situação da economia mundial, especialmente a dos EUA, também colabora para o nervosismo com relação ao Brasil.
Mas o fato de o "buraco não ser grande" não significa, na opinião do economista, que a equipe do ministro da Fazenda, Pedro Malan, fez boa gestão. "O governo perdeu uma grande oportunidade. Perdemos mercado para nossos produtos quando os mercados cresciam no mundo inteiro."
Mantega saiu de sua primeira reunião com os investidores internacionais otimista. "Não senti medo com relação ao PT por parte dos investidores."
Hoje Mantega se reúne com investidores de 20 bancos internacionais e autoridades do Banco Central do Reino Unido. Amanhã participa de encontro com investidores em Frankfurt.

Lula
Ontem Lula disse estar à disposição para "cooperar" e encontrar uma solução para a crise cambial do país. O petista, porém, se nega a assinar um eventual acordo de transição com o FMI, o que, na sua avaliação, é prerrogativa exclusiva do governo FHC.
"O governo não está sabendo o que fazer, está com dificuldade, quer conversar com a sociedade, quer chamar os partidos de oposição? Então convoque publicamente, porque aí as pessoas poderão dizer se vão ou não vão conversar. O que não dá é a gente tentar ficando fazer acordo via imprensa, porque isso desmoraliza a todos nós", afirmou Lula, em entrevista à rádio do Saara, um complexo comercial de 1.250 lojas, no centro do Rio. (ANDRÉ SOLIANI)


Colaborou a Sucursal do Rio



Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Lula e Ciro falam em cooperação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.