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TRANSIÇÃO NO ESCURO
Para economista do PT, recurso só deve ser usado em última instância
Ida ao FMI não é necessária, diz Mantega
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
O Brasil não precisa ir ao Fundo
Monetário Internacional buscar
mais dinheiro para enfrentar a
atual crise. A avaliação é de um
dos principais economistas do PT
Guido Mantega, que está na Europa para acalmar investidores com
relação à atual situação do país e
buscar apoio para o programa
econômico do seu partido.
Segundo ele, o FMI é um recurso que só deve ser usado em última instância. "O Fundo não tem
um histórico muito recomendável. Já sugeriu programas que prejudicaram países", disse Mantega.
De acordo com o assessor do PT,
a Rússia, a Argentina e os países
asiáticos são exemplos de intervenções mal sucedidas do FMI.
"O governo, em vez de ficar desesperado, tem que tomar medidas de curto prazo para aumentar
o superávit comercial", disse. Ele
fez três sugestões para ajudar o
país a sair da crise: baixar a taxa de
juros para empréstimos do
BNDES, aumentar os recursos para o Proex (programa para o financiamento de exportações) e
fazer uma minirreforma tributária para diminuir os impostos sobre os produtos exportados. Segundo ele, o governo FHC contaria com o apoio do PT para a minirreforma tributária.
Mantega, no entanto, disse que
apoiaria a ida da equipe econômica do presidente Fernando Henrique Cardoso ao FMI, se o objetivo
fosse pedir a diminuição do piso
das reservas internacionais brasileiras. Atualmente o Banco Central só pode usar parte das reservas estrangeiras para alimentar o
mercado de dólares. Mantega disse achar prudente negociar com o
FMI um aumento do volume das
reservas que poderia ser usado
para acalmar os mercados.
Ontem, o economista do PT se
encontrou com investidores internacionais em Londres. "Procurei mostrar o exagero que está havendo, o nervosismo, que não
combina com os números da economia brasileira", disse. Segundo
Mantega, a dívida interna brasileira é administrável e a dívida externa é relativamente pequena.
"O buraco não é tão grande, o
problema é de confiança", resumiu. Para ele, a situação da economia mundial, especialmente a dos
EUA, também colabora para o
nervosismo com relação ao Brasil.
Mas o fato de o "buraco não ser
grande" não significa, na opinião
do economista, que a equipe do
ministro da Fazenda, Pedro Malan, fez boa gestão. "O governo
perdeu uma grande oportunidade. Perdemos mercado para nossos produtos quando os mercados cresciam no mundo inteiro."
Mantega saiu de sua primeira
reunião com os investidores internacionais otimista. "Não senti
medo com relação ao PT por parte dos investidores."
Hoje Mantega se reúne com investidores de 20 bancos internacionais e autoridades do Banco
Central do Reino Unido. Amanhã
participa de encontro com investidores em Frankfurt.
Lula
Ontem Lula disse estar à disposição para "cooperar" e encontrar
uma solução para a crise cambial
do país. O petista, porém, se nega
a assinar um eventual acordo de
transição com o FMI, o que, na
sua avaliação, é prerrogativa exclusiva do governo FHC.
"O governo não está sabendo o
que fazer, está com dificuldade,
quer conversar com a sociedade,
quer chamar os partidos de oposição? Então convoque publicamente, porque aí as pessoas poderão dizer se vão ou não vão conversar. O que não dá é a gente tentar ficando fazer acordo via imprensa, porque isso desmoraliza a
todos nós", afirmou Lula, em entrevista à rádio do Saara, um complexo comercial de 1.250 lojas, no
centro do Rio.
(ANDRÉ SOLIANI)
Colaborou a Sucursal do Rio
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