São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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TRANSIÇÃO NO ESCURO

Candidatos, porém, recusam-se a assinar acordo com o Fundo

Lula e Ciro falam em cooperação

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

PATRÍCIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois candidatos que lideram as pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS), disseram ontem estar à disposição para "cooperar" para encontrar uma solução para a crise cambial do país. Ambos, porém, se negam a assinar um eventual acordo de transição com o FMI, o que, avaliam, é prerrogativa exclusiva do governo Fernando Henrique Cardoso.
"O governo não está sabendo o que fazer, está com dificuldade, quer conversar com a sociedade, quer chamar os partidos de oposição? Então convoque, convoque publicamente, porque aí as pessoas poderão dizer se vão ou não vão conversar. O que não dá é a gente tentar ficando fazer acordo via imprensa, porque isso desmoraliza o país, desmoraliza a todos nós", afirmou Lula, no Rio.
A piora nos indicadores externos do país colocou Lula e o partido em uma situação delicada. Por um lado, o PT está acompanhando com atenção as gestões do governo para renovar um acordo com o FMI e apóia as iniciativas para acalmar a situação.
Ao mesmo tempo, o PT recusa-se terminantemente a assinar qualquer tipo de acordo ou carta de intenções com o Fundo e não tenciona nem mesmo apoiar publicamente a movimentação da equipe econômica. O partido de Lula não quer dividir o ônus nesse momento.
Ciro, em São Paulo, seguiu linha parecida, afirmando ver "com muita preocupação" os indicadores do país.
"Denunciei muitas vezes a imprudência desse modelo, mas, tendo a responsabilidade que eu tenho, quero dizer que nós precisamos achar uma fórmula de cooperar. Porque uma crise cambial agora, que saia do controle, vai prejudicar e machucar muito o povo trabalhador", declarou.
Ele declarou ainda que o governo "passou na conta na irresponsabilidade fiscal". "O país tem um rombo de US$ 21 bilhões nas contas externas a cada ano", declarou.
Para ele, "há uma necessidade monstruosa no país por dólares". "A fonte desses recursos secou", disse.

Ingenuidade
Ontem, Lula disse acreditar que o Fundo não é "ingênuo" para exigir compromissos da oposição para a assinatura de um acordo antes da eleição.
"Não existe essa coisa, até porque na hora que eles [o FMI" exigirem isso, eles estarão decretando o final do governo FHC, que só se encerra dia 31 de dezembro de 2002. Gostemos ou não gostemos, qualquer acordo é da responsabilidade do governo", declarou o candidato petista.
As declarações foram feitas em entrevista à rádio do Saara, um complexo comercial de 1.250 lojas, no centro do Rio. Lula falou por 40 minutos.
Tanto na chegada quanto na saída, ele foi cercado por militantes e jornalistas. O presidenciável não escondeu a irritação com o tumulto.
Ao falar sobre segurança pública, Lula aproveitou para criticar o ex-governador do Rio e adversário na corrida eleitoral, Anthony Garotinho (PSB). Ele disse que Garotinho mente ao tentar impor à atual governadora, Benedita da Silva (PT), candidata à reeleição, a culpa pelo aumento da violência no Estado.
"O que me deixa magoado é que de vez em quando eu vejo nos jornais o ex-governador tentando culpar a Benedita pela questão da segurança do Estado, quando, na verdade, nós temos problemas desde o início da década de 90", afirmou Lula.


Colaborou a Reportagem Local


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