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CAMPANHA
Para candidato, tema é manipulado para atribuir a ele atual crise
Ciro fala em mudar envio de dinheiro ao exterior e recua
PATRICIA ZORZAN
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem,
em São Paulo, que, em seu eventual governo, as contas CC-5 receberão tratamento diferenciado
em relação ao que chamou de
""fluxo de financiamento regular".
""Um governo que eu presida
não vai tratar fluxo de financiamento regular com a mesma regra que trata de [financiamento"
narcotráfico, contrabando de armas, dinheiro de superfaturamento de obra pública roubada
por político. Passa tudo pelo Banco Central. Pode um negócio desses?", disse em palestra para entidades ligadas à construção civil.
Mas ele se negou a explicar sobre as alterações e depois recuou.
Demonstrando muita irritação,
recusou-se a responder sobre o
assunto. ""Faça a intriga que quiser. Toque fogo no país, mas não
com a minha colaboração."
Criadas em 1969, as contas CC-5
permitem que empresas multinacionais, firmas brasileiras e pessoas físicas com interesses no exterior transfiram dinheiro para
fora do país. São utilizadas ainda
para o envio de recursos a brasileiros que vivem no exterior. Com
o tempo, acabaram também sendo usadas para remessas ilegais.
Segundo Ciro, o tema está sendo manipulado com o objetivo de
atribuir a ele a crise no sistema financeiro nacional. ""Vão levantar
o negócio de que estou causando
a crise cambial porque disse que
não vou aceitar que narcotráfico
mande dinheiro para fora pelo
Banco Central. Então elejam outro. Democracia é bom por isso.
Medo não vão fazer. Não vão me
enquadrar porque não aceito ser
enquadrado", afirmou, exaltado.
Pouco mais tarde, tentando demonstrar tranquilidade, voltou a
tratar do tema em outro evento.
"Não tenho nenhuma opinião
sobre nada que se refira à CC-5. A
não ser no contexto da segurança
pública. E, nessa ambiência, a
única hora em que eu mencionei,
foi na de que, no meu governo,
entre os crimes federais, haverá
uma atenção especial com o crime financeiro, a lavagem de dinheiro do narcotráfico e do contrabando de armas", explicou. "E
mais não disse. Por favor, cuidem
de não espalhar boatos porque isso arrebenta o nosso país."
O recuo no comportamento do
presidenciável demonstra sua
preocupação com declarações
que desestabilizem ainda mais o
mercado e que possam ser vinculadas à sua candidatura.
De acordo com Ciro, ao tratar
das CC-5, a imprensa pode estar à
serviço da ""máquina de boatos e
de intrigas" do tucano José Serra.
O tema, entretanto, foi sugerido a
ele, da platéia, por um de seus correligionários, o deputado Emerson Kapaz (PPS).
Antes da palestra, o presidenciável se disse ""muito preocupado" com o dólar e, embora tenha
repetido que ""em nenhuma hipótese" assinaria um novo acordo
com o FMI, declarou estar disposto a ""cooperar" para que o país
supere a atual crise. ""Sou oposição, mas, tendo a responsabilidade que tenho, quero dizer que nós
precisamos achar uma fórmula de
cooperar, todos nós, para que o
país tome controle dessa questão.
Porque uma crise cambial agora,
que saia do controle, vai prejudicar e machucar muito o povo."
Em discurso para cerca de 300
empresários da construção civil,
prometeu a criação de um ministério da habitação e desenvolvimento urbano e previu que o país
passará, em 2004, por um ""colapso certo" de energia.
Também referiu-se de modo
elogioso ao tucano Tasso Jereissati, seu padrinho político e desafeto
de Serra, ao falar sobre o aumento
da renda per capita no Ceará.
""Nós a dobramos, eu e Tasso. Dei
minha modesta colaboração."
Na platéia, a presença ainda de
dois malufistas, o vereador Erasmo Dias e o deputado estadual
Wadih Helu, fundador da Arena.
""Vim conhecê-lo e ele me impressionou bem. Vou votar nele. O
Erasmo também", disse Helu.
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