São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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CAMPANHA

Para candidato, tema é manipulado para atribuir a ele atual crise

Ciro fala em mudar envio de dinheiro ao exterior e recua

PATRICIA ZORZAN
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem, em São Paulo, que, em seu eventual governo, as contas CC-5 receberão tratamento diferenciado em relação ao que chamou de ""fluxo de financiamento regular".
""Um governo que eu presida não vai tratar fluxo de financiamento regular com a mesma regra que trata de [financiamento" narcotráfico, contrabando de armas, dinheiro de superfaturamento de obra pública roubada por político. Passa tudo pelo Banco Central. Pode um negócio desses?", disse em palestra para entidades ligadas à construção civil.
Mas ele se negou a explicar sobre as alterações e depois recuou. Demonstrando muita irritação, recusou-se a responder sobre o assunto. ""Faça a intriga que quiser. Toque fogo no país, mas não com a minha colaboração."
Criadas em 1969, as contas CC-5 permitem que empresas multinacionais, firmas brasileiras e pessoas físicas com interesses no exterior transfiram dinheiro para fora do país. São utilizadas ainda para o envio de recursos a brasileiros que vivem no exterior. Com o tempo, acabaram também sendo usadas para remessas ilegais.
Segundo Ciro, o tema está sendo manipulado com o objetivo de atribuir a ele a crise no sistema financeiro nacional. ""Vão levantar o negócio de que estou causando a crise cambial porque disse que não vou aceitar que narcotráfico mande dinheiro para fora pelo Banco Central. Então elejam outro. Democracia é bom por isso. Medo não vão fazer. Não vão me enquadrar porque não aceito ser enquadrado", afirmou, exaltado.
Pouco mais tarde, tentando demonstrar tranquilidade, voltou a tratar do tema em outro evento.
"Não tenho nenhuma opinião sobre nada que se refira à CC-5. A não ser no contexto da segurança pública. E, nessa ambiência, a única hora em que eu mencionei, foi na de que, no meu governo, entre os crimes federais, haverá uma atenção especial com o crime financeiro, a lavagem de dinheiro do narcotráfico e do contrabando de armas", explicou. "E mais não disse. Por favor, cuidem de não espalhar boatos porque isso arrebenta o nosso país."
O recuo no comportamento do presidenciável demonstra sua preocupação com declarações que desestabilizem ainda mais o mercado e que possam ser vinculadas à sua candidatura.
De acordo com Ciro, ao tratar das CC-5, a imprensa pode estar à serviço da ""máquina de boatos e de intrigas" do tucano José Serra. O tema, entretanto, foi sugerido a ele, da platéia, por um de seus correligionários, o deputado Emerson Kapaz (PPS).
Antes da palestra, o presidenciável se disse ""muito preocupado" com o dólar e, embora tenha repetido que ""em nenhuma hipótese" assinaria um novo acordo com o FMI, declarou estar disposto a ""cooperar" para que o país supere a atual crise. ""Sou oposição, mas, tendo a responsabilidade que tenho, quero dizer que nós precisamos achar uma fórmula de cooperar, todos nós, para que o país tome controle dessa questão. Porque uma crise cambial agora, que saia do controle, vai prejudicar e machucar muito o povo."
Em discurso para cerca de 300 empresários da construção civil, prometeu a criação de um ministério da habitação e desenvolvimento urbano e previu que o país passará, em 2004, por um ""colapso certo" de energia.
Também referiu-se de modo elogioso ao tucano Tasso Jereissati, seu padrinho político e desafeto de Serra, ao falar sobre o aumento da renda per capita no Ceará. ""Nós a dobramos, eu e Tasso. Dei minha modesta colaboração."
Na platéia, a presença ainda de dois malufistas, o vereador Erasmo Dias e o deputado estadual Wadih Helu, fundador da Arena. ""Vim conhecê-lo e ele me impressionou bem. Vou votar nele. O Erasmo também", disse Helu.


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