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TRANSIÇÃO NO ESCURO
Herrmann faz alusão a episódio em que presidente teve de entregar cargo a sucessor antes do final do mandato
Líder de Ciro vê "alfonsinização" de FHC
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O deputado João Herrmann
Neto, vice-presidente nacional do
PPS, partido de Ciro Gomes, disse
anteontem ao ouvido do presidente Fernando Henrique Cardoso que ele corre o risco de "alfonsinização".
É uma alusão ao fato de que o
então presidente argentino Raúl
Alfonsín, eleito em 1983, viu-se
obrigado, em 1989, a antecipar em
seis meses a entrega da faixa presidencial (a Carlos Saúl Menem)
porque o país tornara-se ingovernável. A posse de Menem deveria
ser em dezembro mas foi antecipada para julho.
"Há claramente essa hipótese
no Brasil", disse Herrmann ontem à Folha, ao comentar sua
conversa de segunda-feira com
FHC, à margem do almoço oferecido ao presidente de Timor Leste, Xanana Gusmão, no Palácio da
Alvorada.
É a primeira vez que um dirigente político de um dos partidos
com chances de assumir a Presidência a partir de 1º de janeiro
acena com a contaminação do cenário institucional pelas turbulências na área financeira -ainda
mais falando diretamente com o
presidente.
Recado
Herrmann puxou Fernando
Henrique de lado para transmitir
uma espécie de recado da candidatura Ciro Gomes: o presidente
tem que conduzir democraticamente a transição, sob pena de
perder o respeito da oposição.
O que quer dizer "conduzir democraticamente a transição"? Na
prática, significa não ajudar além
de certos limites a candidatura situacionista, a do senador tucano
José Serra (SP).
Exemplo microeconômico: não
controlar o preço do gás, ao contrário do que Serra pediu expressamente a Fernando Henrique. O
caso do gás, no relato de Herrmann, foi citado diretamente ao
presidente FHC.
Mas há elementos macroeconômicos mais relevantes, como não
aumentar o déficit fiscal para empurrar o candidato do governo
nem deixar que o câmbio escape
inteiramente do controle, o que
exigiria torrar reservas.
O raciocínio que Herrmann
transmitiu ao presidente (e repassou ontem para Ciro Gomes) é o
seguinte: nenhum dos candidatos
de oposição pode ser avalista de
um acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), que está sendo colocado como a única
maneira de conter eventualmente
a crise financeira.
O único que pode fazê-lo é o
próprio Fernando Henrique, desde que, sempre no raciocínio do
deputado do PPS, não prefira
adotar "mensagens eleitoreiras"
que minem a possibilidade de
acordo.
Acordo com o FMI
Nessa hipótese, acha Herrmann, o próprio FMI preferiria
negociar o acordo com o futuro
presidente, a partir de 28 de outubro, o dia seguinte ao segundo
turno. É nesse caminho que viria a
"alfonsinização" (Alfonsín também entregou o poder antecipadamente a um presidente que já
estava eleito).
No fundo, o que o PPS cobrou
de Fernando Henrique equivale a
uma "alfonsinização" branca:
continua presidente, mas delega a
gestão econômica inteiramente a
Pedro Malan, o ministro da Fazenda, e a Armínio Fraga, presidente do Banco Central, no pressuposto de que ambos seguiriam
uma linha eminentemente técnica e não ajudariam o candidato
do governo.
Já o presidente Fernando Henrique parece disposto a fazer todo
o necessário para eleger Serra.
A Folha perguntou a João Herrmann Neto se não vê a hipótese de
uma "alfonsinização" mesmo que
FHC tenha o melhor dos comportamentos, por força da pressão
dos mercados, que pode se tornar
incontrolável.
"Profeta do caos eu não sou",
escapou o líder do PPS na Câmara
Federal.
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