DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), comparou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao do presidente João Goulart (PTB), que assumiu em 1961 e foi deposto pelo regime militar em 1964.
"São as mesmas contradições internas, a mesma falta de comando e a mesma infelicidade na escolha de aliados, como o MST", disse Virgílio, que completou: "É um governo fraco, mas que mantém uma diferença em relação ao de Jango: é arrogante".
João Goulart foi herdeiro político de Getúlio Vargas. Além dos problemas econômicos, como a inflação e o desequilíbrio nas contas externas, o governo de Jango foi marcado por manifestações sociais e a perda de apoio político, principalmente em razão da promoção de uma ampla reforma agrária, considerada radical.
"Assim como Jango, Lula abandonou a condução da política econômica difícil e optou pela pregação fácil das reformas", disse Virgílio sobre a manutenção dos juros altos no atual governo.
Virgílio, secretário-geral da Presidência no governo de Fernando Henrique Cardoso, tem sido um dos principais porta-vozes do PSDB nas críticas ao governo e à relação dele com o MST.
"Lula pensa que o MST é massa de manobra dele, mas é o governo que é massa de manobra do MST. [João Pedro] Stedile [líder dos sem-terra] pensa que é Lênin, e Lula pensa que é Kerenski, assim como Jango pensava que era Kerenski", disse o tucano.
Virgílio referia-se à gestão do russo Kerenski, cujo governo, considerado frágil e reformista, foi derrubado pelos bolcheviques liderados por Lênin, em outubro de 1917, quando a Rússia se tornou um Estado comunista.
Para o senador, assim como Jango, Lula é uma figura "afetuosa" que tem um patrimônio político "ainda maior" que o do petebista, apesar de comandar um governo "passivo" diante das reformas. "As pessoas viram que rosnando, ele recua", disse, ao citar a pressão do Judiciário para alterar a reforma da Previdência.
O pai do senador, Arthur Virgílio Filho, foi líder do PTB no Senado durante o governo Jango e teve o mandato cassado em 1969.
"Mas o Brasil de hoje é diferente do de 64. Não temos mais a imaturidade de uma republiqueta. Não vemos lucro em ver o governo desmoronar como está acontecendo", disse o tucano.
(JULIA DUAILIBI)


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