São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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PAINEL

Estrutura abalada 1
A revelação, pela revista "Veja", de que Roberto Marques, "faz-tudo" de José Dirceu, era um dos autorizados a sacar das contas das agências de Marcos Valério enfraqueceu a linha-mestra da defesa que o ex-ministro prepara para seu depoimento no Conselho de Ética.

Estrutura abalada 2
Até então, a estratégia do deputado petista para o depoimento de terça era se dizer vítima de um processo político e sustentar que não existem elementos concretos contra ele.

Comitê da crise
Nas últimas semanas, Dirceu tem consultado o presidente do STF, Nelson Jobim. Também conta com a consultoria informal de Fernando Neves, presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República e ex-advogado de Collor.

Em todo caso
O ex-ministro tem descartado a renúncia e dito que lutará até o final. Já decidiu que recorrerá ao STF se perder o mandato.

Braçadeira 1
Do presidente Lula, em dezembro de 2003: "Não sei se teríamos conseguido fazer o que fizemos na nossa relação com o Congresso se a gente não tivesse a coordenação de um companheiro como o José Dirceu".

Braçadeira 2
Ainda Lula: "Não sei todos os acordos que ele faz no Congresso. O fato concreto é que, nos momentos difíceis, o Dirceu, o presidente Sarney, os nossos líderes e o João Paulo, depois de tanta choradeira, me comunicavam: "Olhe, foi feito o acordo, vai votar amanhã e vai passar'".

Casa de ferreiro
Lula tem comparado a crise à construção de uma casa. Diz que em dois anos e meio construiu o telhado e estava finalizando a pintura quando passou alguém e jogou um caminhão de lama nas paredes.

Sem fronteiras
Generoso na concessão de empréstimos ao PT avalizados por Marcos Valério, o BMG abocanhou, durante a gestão de Marta Suplicy, o crédito consignado do funcionalismo municipal paulistano. O banco mineiro também atua na linha de crédito para aposentados do INSS.

Bateu no teto
O governo avisou sua tropa na CPI dos Correios: não quer ver abordado o "adiantamento" do PT a Lula com dinheiro do fundo partidário. Nem os fundos de pensão que teriam beneficiado os bancos Rural e BMG.

Sincronia
Quando o assunto foi discutido na reunião fechada da quinta-feira, governistas chegaram a falar em "sinais negativos na economia" e "possível problema de governabilidade".

Calendário fechado
A pressão do Planalto sobre a CPI também será para que os parlamentares definam um prazo máximo para a duração das investigações. Auxiliares de Lula querem evitar que a comissão se estenda até a véspera da eleição.

Quebra-cabeça
Líderes do PP estão em campo atrás de notas fiscais frias que justifiquem os saques feitos pelo assessor do partido João Cláudio Genu nas contas das agências de Marcos Valério.

Máquinas na pista 1
A Força Sindical prepara ato contra a corrupção no dia 26 na praça da Sé, em São Paulo. A central espalhará outdoors pelo país e um milhão de panfletos cobrando rigor nas apurações.

Máquinas na pista 2
A palavra "impeachment" não está na pauta do ato da Força, mas no congresso da central, a partir de terça na Praia Grande, uma ala mais radical na oposição a Lula tentará aprovar campanha pela saída do presidente.

TIROTEIO

Do prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), sobre o enraizamento e a abrangência do "valerioduto" em Minas Gerais:
-Ouvi de um prócer da República que viu a lista nas mãos do presidente do Banco Rural que não sobra um político para contar a história. Exagero, mas quer dizer que a lista é ampla.

CONTRAPONTO

Palavras proféticas

Há pouco mais de um mês, quando a crise política já estava instalada mas ainda não atingira a temperatura atual, Heráclito Fortes (PFL-PI) participava de reunião de uma das comissões permanentes do Senado.
Pediu licença para fazer suas considerações antes dos colegas, sob o argumento de que precisava comparecer também ao Congresso de Refundação do PFL, realizado simultaneamente num auditório da Câmara.
Pedro Simon (PMDB-RS) achou graça e perguntou qual era o significado de "refundar".
-É recriar sem criar de novo-, respondeu Heráclito com simplicidade bem-humorada.
Ao que um gaiato retrucou: -Ah, então tem que dar o exemplo para o PT!
Coincidência ou não, foi esse o termo adotado pelos novos dirigentes do partido, uma vez derrubados José Genoino, Silvio Pereira e Delúbio Soares.


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