São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Roberto Marques, amigo do ex-ministro da Casa Civil, procurou CPI e negou envolvimento

Funcionária de Valério liga assessor de Dirceu a saques

Eduardo Knapp - 08.jul.2005/Folha Imagem
O ex-ministro e deputado José Dirceu com Roberto Marques (ao fundo), de quem é amigo há 20 anos


HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A SMPB, uma das agências de publicidade das quais Marcos Valério de Souza é sócio, ligou ontem um assessor pessoal do deputado José Dirceu (PT-SP) ao esquema de distribuição de recursos para políticos aliados do governo.
Simone Vasconcelos, diretora financeira da SMPB, informou ter autorizado Roberto Marques, assessor de Dirceu em São Paulo, a sacar R$ 50 mil de uma das contas da empresa no Banco Rural, no ano passado. Marques, conhecido como Bob, é uma espécie de ajudante-de-ordens de Dirceu, amigo dele há 20 anos.
Vasconcelos disse que irá confirmar a versão em depoimento à Polícia Federal, amanhã, e à CPI dos Correios, na quarta-feira.
Segundo a SMPB, Marques pode não ter sacado a quantia. O dinheiro foi destinado a ele no dia 15 de junho de 2004. Os R$ 50 mil teriam sido sacados no dia seguinte por Luiz Carlos Mazano, conforme documento em poder da CPI dos Correios. Uma pessoa com esse nome trabalha na corretora Bonus-Banval, mas o advogado da empresa diz que se trata de um homônimo do sacador.
Em depoimento à Procuradoria Geral da República, Marcos Valério havia dito que Mazano foi uma das pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para sacar o dinheiro.
Roberto Marques negou, na semana passada, que tenha envolvimento com qualquer ordem de saque de contas de Marcos Valério. Disse que o nome completo que consta de um documento em poder da CPI não é o seu. Afirmou também que seu CPF não confere com o do documento do Banco Rural. Ontem, a reportagem tentou localizá-lo pelo celular, mas não conseguiu.
O advogado de Dirceu, José Luis Oliveira Lima, nega que Marques tenha recebido a autorização. Questionado sobre o papel com a ordem, que está em análise pela CPI e foi divulgado ontem pela revista "Veja", Lima afirmou que o documento é "inconsistente".
O papel é um fax com uma autorização dada por um funcionário de uma agência mineira do Rural a uma unidade da avenida Paulista para o saque do "sr. Roberto Marques".
A informação surge em momento delicado. Dirceu irá depor na terça-feira ao Conselho de Ética da Câmara, no processo que o PL move para tentar cassar o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que acusa Dirceu de ser o mentor do chamado "mensalão".
A autorização de saque espalhou nervosismo entre os membros da CPI, em especial os governistas. O documento foi citado inicialmente na reportagem da "Veja", que não continha a confirmação dada à Folha pela diretora da SMPB. Dirceu contestou a reportagem.

Dúvidas
Segundo o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), membro da CPI, o número da carteira de identidade no documento é o mesmo de Marques, mas os indícios são de que o saque foi feito por outra pessoa. O documento reproduzido ontem pela revista "Veja" não traz nenhum número de identidade, cita apenas o nome de Roberto Marques.
Além disso, diz o deputado, há dúvidas sobre a autenticidade do papel. "A assinatura de autorização não é a mesma que consta de outros documentos semelhantes", disse Abicalil, ao ser procurado na manhã de ontem, antes de a SMPB confirmar ter dado a autorização. Ele não atendeu telefonemas posteriores para fazer novos comentários.
O PT divulgou uma nota de Abicalil em que ele afirma que o documento está "sob suspeição".
O nome de Roberto Marques já havia aparecido em uma lista de pessoas autorizadas a fazer retiradas no Rural, mas havia dúvida se era o assessor de Dirceu ou um homônimo. "Ele não é sacador", afirmou Abicalil.
O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), disse que a comissão irá investigar o fato. "Não vamos deixar de investigar porque é A ou B. Se há indícios contra alguém, quem quer que seja, será apurado."
Serraglio afirmou que não tinha conhecimento da autorização. A exemplo dele, outro membro da CPI, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que desconhecia a existência do documento.
Para Serraglio, o fato de o saque não ter sido efetivado por Marques pode servir para a defesa dele. O relator também disse que a CPI terá de apurar a autenticidade do documento.
Quando a CPI divulgou listas de pessoas autorizadas a fazer saques de recursos das empresas de Valério, Marques procurou Abicalil para prestar esclarecimentos e forneceu os números da carteira de identidade e do CPF.


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