São Paulo, domingo, 31 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O CONFRONTO

Ex-ministro falará ao Conselho de Ética na terça, em seu primeiro depoimento público após ter sido acusado e ter saído do governo

Dirceu faz plano de ataque para primeiro "duelo" com Jefferson

FÁBIO ZANINI
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro José Dirceu promete partir para a ofensiva em sua primeira sabatina pública sobre sua possível participação no suposto esquema do "mensalão".
Acuado, enfraquecido e sob suspeita, o deputado petista passou os últimos dias reunido com assessores, advogados e aliados como forma de se municiar para o que promete ser um duelo entre ele e o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que o acusa de ser o "chefe" do suposto esquema.
Será o primeiro encontro entre os dois desde que Jefferson, presidente licenciado do PTB, denunciou a prática do "mensalão" em entrevista à Folha, no dia 6 de junho. Além do petebista, Dirceu vem reunindo munição contra PSDB e PFL. O ex-ministro sentará na cadeira de depoente do Conselho de Ética da Câmara às 15h.
Na primeira fileira do plenário, a cerca de dois metros de distância, Dirceu deverá ter de encarar o petebista, que promete sentar próximo ao ex-ministro e interpelar o depoente logo após as palavras do relator, Jairo Carneiro (PFL-BA). O presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), já disse que será "liberal" e dará a Jefferson o tempo que quiser.
"Se José Dirceu passar para a ofensiva, será um debate muito interessante", diz Itapuã Messias, advogado de Jefferson, em ameaça velada. O petebista pretende confrontar o petista dando detalhes a respeito de reuniões, conversas e decisões que teriam levado ao suposto "mensalão".
Entre os interlocutores de Dirceu estão os ministros Dilma Rousseff (que o sucedeu na Casa Civil), Jaques Wagner (coordenador político do governo) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça).

Embate
Dirceu tem recorrido também a ex-assessores da Casa Civil como forma de se certificar com detalhes sobre horários, datas e circunstâncias de encontros.
Na opinião generalizada da Câmara, será um grande embate político. Jefferson será apenas um dos grandes adversários que Dirceu deverá encontrar. Tucanos e pefelistas querem sangrar o ex-homem forte do governo.
Petistas da esquerda partidária, que têm dois representantes no Conselho -Chico Alencar (RJ) e Orlando Fantazzini (SP)-, dizem que pedirão explicações sobre atos que jogaram o partido na mais grave crise de sua história.
Além das conversas com ex-assessores, Dirceu tem dado especial atenção à parte jurídica. Conversa com Márcio Thomaz Bastos e busca orientação com o criminalista José Luis Oliveira Lima e com o especialista em direito eleitoral Fernando Neves. Ensaia estratégias e respostas ao que prevê como uma "dura inquisição".
Dirceu relata, aos que conversam com ele, que não se deixará intimidar. Considera que seus opositores têm "telhado de vidro" quanto ao financiamento de campanha: PSDB e PFL estão envolvidos com as agências do publicitário Marcos Valério de Souza.

"Cartada"
Publicamente, ele diz estar "tranqüilo". "O Zé tem a certeza de que seu depoimento vai esclarecer dúvidas", diz o deputado José Mentor (SP), que esteve com ele na semana passada e, ele próprio, é acusado de envolvimento com o esquema de Valério. "A linha do depoimento dele é a linha da verdade", diz Oliveira Lima.
Reservadamente, no entanto, o deputado admite que está jogando uma cartada decisiva para salvar seu mandato. Afirma ter a missão de reverter um clima de "perseguição política" contra ele.
Para o deputado Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), membro do Conselho de Ética da Câmara, possíveis ataques de José Dirceu não amedrontam.
"Vamos mostrar que as irregularidades cometidas não foram cometidas apenas na sede do partido, mas tinham uma conexão com o Planalto", afirma o tucano.


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