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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT
Secretário-geral do PT diz que líderes do PSDB e do PFL que defendem o impeachment de Lula "estão no limite do golpismo"
Berzoini culpa Delúbio e Genoino pela crise
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Deputado federal pelo segundo
mandato consecutivo, ex-ministro da Previdência e do Trabalho,
Ricardo Berzoini, 45, foi escolhido para substituir Silvio Pereira
como secretário-geral do PT para
recuperar a imagem do partido.
Para Berzoini, o maior culpado
pelos problemas vividos pelo PT é
o ex-tesoureiro Delúbio Soares. O
excesso de poder concentrado nas
mãos de Delúbio tornou o "partido refém de uma onda de erros e
decisões irresponsáveis", afirma.
Ele não isenta também o ex-presidente da legenda José Genoino,
que assinou empréstimos tomados pelo PT nos bancos Rural e
BMG, em que o publicitário Marcos Valério foi avalista. Para Berzoini, no mínimo, Genoino "se
omitiu de suas responsabilidades" por não ter informado os demais integrantes da direção do
partido sobre as operações.
Apesar de reconhecer a gravidade da situação, o deputado acredita que o PT vai superar a crise e
que o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva tem grandes chances de
se reeleger em 2006. Em sua opinião, parlamentares do PFL e do
PSDB que hoje falam em impeachment do presidente Lula estão "no limite do golpismo".
Folha - O que ocorreu com o PT?
Ricardo Berzoini - Eu acho que
houve um excesso de concentração de poder e falta de um sistema
básico de gerenciamento de riscos. Todo partido corre riscos políticos e administrativos. Um partido que cresce rapidamente como o PT, que chega ao governo
federal, precisa administrar um
complexo sistemas de alianças
políticas com outros partidos. O
PT cresceu sem se dar conta da
necessidade de um gerenciamento de riscos que evitasse, por
exemplo, que o tesoureiro tivesse
essa concentração de responsabilidades que acabou tornando o
partido refém de uma onda de erros e decisões irresponsáveis.
Folha - O poder subiu à cabeça
dos dirigentes do partido?
Berzoini - Acho que o PT mudou
de padrão. Passou a ter uma estratégia de gastos dissociada da realidade partidária. Isso se revela, por
exemplo, no leasing de computadores, no processo de crescimento do número de funcionários, da
frota de carros, da sede de Brasília. Sem falar nessas negociações
não contabilizadas que hoje são
reveladas ao país e que colocam o
PT em situação constrangedora.
Folha - É possível responsabilizar
só Delúbio por tudo o que ocorreu?
Berzoini - Eu disse na semana
anterior à saída do companheiro
Genoino, pessoa pela qual tenho o
maior apreço, que tendo assinado
uma operação de crédito daquele
montante sem compartilhar a informação com a Executiva do
partido, ele teria, no mínimo, se
omitido de suas responsabilidades. Ninguém está colocando em
questão sua trajetória, seu desempenho brilhante como parlamentar. Mas, evidentemente, quem
assume a presidência de um partido como o PT tem responsabilidades. Acho que toda a direção
errou, porque, de certa forma, foi
complacente com o comportamento de alguns membros da
Executiva. Para mim, é impensável que alguns dos dirigentes do
partido se deslocassem em carros
blindados, salvo se houvesse
ameaça, o que deveria ser levado
ao conhecimento do partido.
Folha - Como o sr. avalia essa movimentação financeira das empresas de Marcos Valério ligada ao PT?
Berzoini - As contas do PT não
têm dinheiro do Marcos Valério.
Com exceção daquelas duas operações de crédito com os bancos,
não detectamos nenhum tipo de
integração, o que é preocupante.
Quem faz algo que não pode passar pelas contas do partido está fazendo algo que não pretende revelar. Parece-me que houve algum tipo de negociação para o
pagamento a parlamentares e a
outras pessoas com vínculos políticos. Se esse pagamento é para
quitar dívidas de campanhas ou
se envolveu algum tipo de benefício pessoal, só a CPI pode apurar.
Folha - Ou seja, no mínimo, houve
financiamento de campanha por
meio de caixa dois?
Berzoini - Isso está claro, a CPI já
apurou que houve movimentação
[financeira] muito estranha.
Quando há revelações pelo tesoureiro e pelo Marcos Valério de que
havia dinheiro não contabilizado
de campanha, evidentemente está
claro que no, mínimo, isso ocorreu. Outro tipo de movimentação,
com certeza, é mais grave porque,
mesmo sem "mensalão", pode
dar margem ao entendimento de
que houve aquisição de opinião.
Folha - Por que o PT chegou ao
Marcos Valério?
Berzoini - O PT não chegou, o
Delúbio chegou. Através do Delúbio, outras pessoas se relacionaram.
Folha - Parlamentares que receberam recursos de caixa dois devem prestar esclarecimentos?
Berzoini - É preciso responsabilizar proporcionalmente à irregularidade. Um parlamentar que foi
pessoalmente ou mandou alguém
buscar recursos não contabilizados para pagar dívidas de campanha não deve ser tratado da mesma maneira que uma pessoa que
tenha organizado esse esquema,
desde que tenha como comprovar ou convencer as instâncias da
Casa que de fato o dinheiro foi
gasto com dívidas de campanha.
Folha - O PT vai tomar medidas
contra esses parlamentares?
Berzoini - Esse assunto depende
fundamentalmente da Comissão
de Ética do partido. Mas diria que
alguma sanção pode ser tomada,
mas tem de ser proporcional. Por
exemplo, o deputado Paulo Rocha (PA) explicou de maneira
cristalina seu procedimento. Sou
solidário ao deputado.
Folha - Como esse episódio vai
afetar o desempenho dos candidatos do PT nas eleições de 2006?
Berzoini - Vai depender muito
de como o partido sairá da crise.
O PT já demonstrou, em outros
momentos, uma capacidade de
recuperação muito grande.
Folha - Mas essa é a mais grave
crise já enfrentada pelo partido.
Berzoini - Sem dúvida, não estou
querendo minimizar a crise, não
há como negar que a imagem do
partido sofre um ataque muito
grande. Mas vamos trabalhar para fazer desse episódio um aprendizado coletivo do partido e da
sociedade para chegar em 2006
com condições competitivas tanto para a reeleição do presidente
quanto nos governos estaduais e
para eleger boas bancadas.
Folha - O sr. teme redução da
bancada no Congresso?
Berzoini - Acho prematuro dizer
isso, até porque as apurações estão mostrando que esse não é um
episódio do PT, atinge políticos
do PSDB, PP, PL, PFL. Não é porque num determinado partido
havia um cidadão vinculado ao
tráfico de drogas que nós vamos
acusar esse partido de ser uma
quadrilha de traficantes.
Folha - O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse
que não se pode afastar a possibilidade de impeachment do Lula.
Berzoini - Acho que há um açodamento, porque ele parte do
pressuposto de que o Lula teria
responsabilidade por essas decisões do ex-tesoureiro do PT. Isso
está muito longe até agora de se
configurar, e acredito, sinceramente, que não se verificará.
Folha - Falar em impeachment
hoje é uma atitude golpista?
Berzoini - Eu acredito que aqueles que chegam a verbalizar isso
estão no limite do golpismo.
Folha - O presidente está frustrado com o partido?
Berzoini - Acho que ele está frustrado com quem errou. Ele não
está frustrado com o partido.
Folha - Lula disse que não sabe se
vai se candidatar à reeleição. Qual
a probabilidade de sua reeleição?
Berzoini - Acho que ele deve se
candidatar porque é a liderança
mais importante que temos no
Brasil no campo democrático popular. As pesquisas de opinião demonstram isso, inclusive que o
grau de desgaste do presidente e
do partido em decorrência da crise ainda é bastante limitado.
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