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Crise não mobiliza massas, vê analista
DA REPORTAGEM LOCAL
Os amplos tentáculos da atual
crise -que a amarram a diversos
e até antagônicos setores da sociedade- são o principal elemento
que a separa do momento vivido
pelo país em 1992, quando o então
presidente Fernando Collor de
Mello foi obrigado a renunciar.
"Collor era a crise. Era o coração
da crise. Lula, não. Lula pode até
ser engolido por ela, mas não há
nada até agora contra ele. O que
há é um esquema que não se sabe
ainda onde começa e onde termina", diz o professor da UFMG, o
cientista político Carlos Ranulfo.
Circunscritas a Collor e ao universo palaciano, as investigações
de 92 chegaram a sinais exteriores
de riqueza da Casa da Dinda e, rápido, pintaram um retrato frívolo
e repulsivo do casal oficial. Estudantes foram para as ruas, deputados, na TV, capitalizavam simpatias defendendo a ética.
Em contraste, o presidente Lula
faz discursos contra a corrupção
-apesar de argumentar, até em
rede nacional de televisão que seu
partido comete erros que sistematicamente, todos cometem- e
goza de popularidade e de apoio
entre os movimentos sociais.
O Congresso, por sua vez, está
tão ou mais fragilizado do que o
governo. E o principal partido da
oposição, o PSDB, também não
está absolutamente livre para atacá-lo, depois dos respingos do escândalo no tucanato mineiro.
Professor aposentado da Unicamp, Leôncio Martins Rodrigues explica a ausência de mobilização de massa contra Lula."Em
geral, quem tem mais controle da
rua é a esquerda, sempre foi o PT.
E parte desses movimentos está
desorientado, mas ainda simpático ao governo." Estudantes, sem-terra e sindicalistas vêem no governo um aliado contra "as elites". Prometem manifestação de
apoio no próximo dia 16, apesar
de cobrarem mudanças na política econômica.
Mas é justamente a seqüência
da política econômica que mantém, do mesmo lado dos movimentos sociais, o mercado e a
"elite" ligada a ele. "Não acreditem em uma palavra do discurso
cívico deles em nome do governo", diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, em referência aos
lucros obtidos no setor com as altas taxas de juros .
Se no centro do escândalo Collor estava um partido fabricado
para abrigá-lo, o PRN, temos no
foco desta crise a mais estruturada sigla do país até então. Para
Martins Rodrigues, o fato demonstra a escala do esquema de
corrupção: "[No caso de Collor]
era um esquema pessoal. Agora, é
um projeto de colonização do Estado por um partido, um plano de
uso do Estado, de antes até da
posse da Lula, para a ocupação de
postos fundamentais de aparelho
do Estado, das instituições".
Na organização partidária em
que Rodrigues vê o foco da corrupção sistêmica, Ranulfo enxerga elementos que credenciam os
petistas a superarem os problemas: "O Collor tinha partido? O
que estava em jogo? Eram um
bando de aventureiros... O PT que
tem projeto, tem também um
projeto de poder, mas quando
chega lá, se perde no processo. O
partido tem quadros, laços para
superar um momento com esse".
Para Ranulfo há, entre 1992 e
hoje, um aperfeiçoamento institucional que possibilita prever
punições tanto políticas quanto
jurídicas -diferentemente do
que aconteceu com Collor, que foi
absolvido no Supremo Tribunal
Federal, por falta de provas.
Além da sofisticação e rapidez
nas investigações, o professor da
UFMG aponta a nova musculatura da Polícia Federal a favor: "Sob
Collor, a polícia foi desbaratada.
Eles atrapalhavam a investigação".
(FLÁVIA MARREIRO)
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