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CELSO PINTO
Uma ponte para a
eleição
O sucesso além do esperado
no leilão da Telebrás ajudou a
tranquilizar o cenário das reservas externas até a eleição
presidencial. Salvo uma crise
surpresa, vinda da bolsa americana ou da Ásia, não deverá
haver sobressaltos.
O potencial de saída de recursos de curto prazo é enorme, algo como US$ 13 bilhões,
o que poderia causar alguma
turbulência em agosto e setembro. Em contrapartida,
entrarão os mais de US$ 5 bilhões gerados pela Telebrás,
mais os US$ 2,5 bilhões a US$
3 bilhões da venda do Excel-Econômico para o BBV e
do Real para o ABN.
Outro fator positivo é que
não tem havido saídas tão
fortes de dólares especulativos
pelo câmbio flutuante. E a nova redução dos juros, para
19,75%, não deve ter um impacto negativo, porque o cupom cambial de longo prazo,
que mede a remuneração do
investidor externo, se manteve em torno de 11%.
A razão para esta mágica é
que, ao mesmo tempo em que
caiu o juro, também caiu a
cotação do dólar no mercado
futuro. O cupom é formado
pelos juros menos o custo da
desvalorização projetada.
Outro ponto positivo poderá
ser o mercado de ações, se a
venda da Telebrás gerar um
clima de otimismo que volte a
atrair dólares. Ontem, foi dia
de euforia nas bolsas e não
faltava quem concluísse que o
Brasil se distanciou, de vez,
dos outros emergentes problemáticos. As inconsistências
fiscais e das contas externas
brasileiras, contudo, persistem e é cedo para falar em
mudança mais profunda de
humor.
Não há dúvida, contudo,
que o sucesso da Telebrás veio
em hora estratégica para o governo. O mercado calcula que
existem US$ 5 bilhões em "notes" (títulos externos de curto
prazo) vencendo neste segundo semestre. Além disso, da
famosa "63 caipira" (usada
para aplicações especulativas
de curto prazo), existem US$
5 bilhões vencendo em agosto/setembro e mais US$ 3 bilhões vencidas, que estão sendo roladas no "overnight".
Portanto, são cerca de US$
13 bilhões que podem sumir
rapidamente. Em julho, antes
da Telebrás, as contas das reservas caminhavam para uma
perda em torno de US$ 1 bilhão. Já na quarta-feira, contudo, entrou mais de US$ 1
bilhão pelo câmbio livre financeiro (da Usinor, ou de
consórcios da Telebrás). E
mais de US$ 5 bilhões virão
para a Telebrás nos próximos
dias, ajudando as contas de
julho ou agosto.
Igualmente importante tem
sido a melhora da expectativa
nos mercados futuros de dólar
e juros. O Banco Central tem
ajudado, oferecendo títulos
indexados ao dólar.
Os juros de um ano, que há
algumas semanas chegaram a
superar 30%, ontem estavam
em 23%. Ao mesmo tempo,
contudo, a desvalorização implícita para um ano também
recuou de forma significativa.
No início de abril, a desvalorização implícita estava em
11,9%. Ela subiu a 12,4% no
início de maio e disparou para 16,5% no começo de junho,
quando a Ásia e a Rússia voltaram a preocupar. No início
de julho, ela ainda estava em
15%. Nesta semana, contudo,
já havia recuado para 11%,
nível equivalente ao de pouco
antes da crise de outubro do
ano passado.
Uma desvalorização desta
ordem ainda embute um prêmio significativo (uns 4%) em
relação ao ritmo atual de desvalorização anual (em torno
de 6,5% a 7%). O prêmio efetivo pode se revelar maior, se
o BC desacelerar a desvalorização cambial, como parte do
mercado aposta.
O fato é que, graças a este
recuo, o cupom cambial longo
(um ano), que era de 11% em
abril e subiu a 12,5% em junho (pelo aumento nos juros),
voltou a 11%. O ritmo de saída pelo câmbio flutuante em
julho tem ficado abaixo do esperado: uma média diária de
US$ 73 milhões, menor que os
US$ 99 milhões de junho, sinal de que não há corrida para tirar dólares aplicados em
renda fixa.
A soma destes fatores tiram
a preocupação imediata do
mercado com o nível de reservas, mesmo sabendo que elas
deverão cair até o final do
ano. Pode haver espaço, portanto, para alguma redução
adicional de juros antes da
eleição.
A má notícia é o déficit na
balança comercial de US$ 386
milhões em julho (até quarta-feira), muito acima do esperado. O governo diz que
houve problemas nos registros. A média de exportações,
de todo modo, vem caindo e,
se a economia retomar algum
crescimento, os déficits comerciais deverão engordar.
A esperança do governo é
que o problema só apareça depois de FHC estar eleito.
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