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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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Em SP, tucanos buscam nome viável

RENATA LO PRETE
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

A pouco mais de um ano da sucessão paulistana, a quantidade de aspirantes à vaga do PSDB na disputa é inversamente proporcional à viabilidade da maioria dos nomes colocados na mesa. Não faltam candidatos a candidato. Falta, no entanto, alguém que una razoavelmente o partido e, ao mesmo tempo, demonstre potencial para estabelecer polarização com uma adversária que concorrerá no cargo e com o apoio engajado do presidente da República.
Candidato derrotado ao Planalto em 2002, José Serra preenche os dois requisitos, mas já se cansou de repetir que não disputará novamente a prefeitura, à qual concorreu em 1988 e 1996.
A recente declaração do ex-senador colocando-se "à disposição" do partido, "como soldado", para as eleições do ano que vem foi interpretada menos como mudança de idéia e mais como movimento em direção ao posto de fato pretendido por Serra, o de presidente nacional do PSDB, a ser escolhido entre novembro e dezembro próximos.
Ao contrário de Serra, o ex-deputado federal José Aníbal tem vontade de sobra de ser candidato. Em franca campanha pela indicação, o atual presidente da sigla considera que o quarto lugar na eleição de 2002 para o Senado lhe proporcionaria "recall" suficiente para tentar a prefeitura.
A interlocutores, Aníbal diz ter o apoio de Serra -que compõe, juntamente com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Geraldo Alckmin, a tríade que terá peso real na definição do nome. Aníbal descarta a necessidade de prévias.
Os deputados federais Walter Feldman e Zulaiê Cobra afirmam, porém, disposição para ir às prévias. Sem dúvida é cedo para tomar essas manifestações ao pé da letra, mas elas indicam que não será fácil acomodar os interesses em conflito.
Remanescentes do chamado grupo covista, Feldman e Zulaiê alegam que já abriram mão uma vez do desejo de disputar a prefeitura -em 2000, quando o então governador Mário Covas decidiu que o candidato seria Alckmin. "O nome deveria ser definido o mais cedo possível", diz Feldman. Zulaiê também acha.
A lista de tucanos "históricos" candidatáveis inclui ainda o deputado Arnaldo Madeira, que transita entre os covistas e entre os mais próximos de Alckmin, de quem é secretário da Casa Civil.
À diferença dos demais, Madeira tem negado intenção de ser candidato, fazendo coro com Alckmin no discurso de que é cedo para tratar o assunto. "Ninguém ganha eleição simplesmente porque anunciou o nome antes", afirma o secretário.
O maior problema dos "históricos" é que poucos crêem que eles possam ameaçar Marta Suplicy.
Por essa e outras razões, Alckmin tem manifestado há meses o desejo de viabilizar uma alternativa, buscando um nome na "nova geração" de secretários estaduais. A preferência recai sobre Gabriel Chalita (Educação) e Saulo de Castro Abreu Filho (Segurança).
Chalita, segundo a Folha apurou, já esteve perto de ser descartado. Um dos secretários mais bem avaliados pelo governador, ele seria guardado para disputas futuras. Isso não é mais tão certo.
Coube a Saulo, entre os nomes até agora postos em discussão, o melhor desempenho em pesquisa recentemente feita para o PSDB.
Alguns tucanos avaliam que o relativo desconhecimento do eleitorado em relação ao secretário da Segurança pode ser benéfico. Nesse raciocínio, a partir de alguns valores positivos atribuídos a Saulo ("honesto", "esforçado") seria possível construir um perfil de candidato com chances de enfrentar a prefeita. É nele que os petistas têm batido, direta ou indiretamente, com mais frequência.
A hipótese Saulo, entretanto, está longe de consolidada. Fora do partido, o secretário tem conquistado apoios e despertado o interesse de empresários. Dentro, porém, sofre intenso bombardeio por sua condição de "cristão novo" -filiou-se há poucos dias. No discurso dos "históricos", Saulo "não representa o PSDB".
Para dificultar o xadrez, o governador, em tese padrinho de seu secretário, tem evitado discussões sobre a eleição municipal.
No entender de um analista próximo dos tucanos, Alckmin fará "como Fernando Henrique" em sua sucessão: aguardará para ver se Saulo se viabiliza sozinho antes de decidir o que fazer.
Caso a disputa no PSDB se torne muito custosa, o governador sempre poderá lavar as mãos. Bem avaliado nas pesquisas, Alckmin não sofreria grande desgaste em caso de derrota de um nome pouco associado à sua administração.
Mas o governador, um dos presidenciáveis tucanos, não ignora o que significaria tomar a prefeitura paulistana do partido que tirou o PSDB do Planalto. Para Edson Aparecido, presidente estadual da legenda e homem da confiança de Alckmin, "a única eleição nacional do ano que vem será a da Prefeitura de São Paulo".


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