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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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OUTRO LADO

Parlamentares citam currículo e permissão legal

DA AGÊNCIA FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo-se a favor da nomeação de familiares de deputados na Câmara e "honrado" com o fato de sua irmã ser ocupante de CNE, o líder do PTB na Casa, Roberto Jefferson (PTB-RJ), declarou que Rosane Monteiro cuida de sua "correspondência pessoal e de líder". A irmã de Jefferson está lotada na liderança do PTB em Brasília, mas vive em Petrópolis (RJ). "Encaro isso como positivo, ela é uma grande auxiliar."
O deputado Gilberto Nascimento (PSB-SP), pai de Gabriel Range, 22, afirmou que procurou a liderança de seu partido para pedir a nomeação do filho e não vê nenhum problema na indicação.
Lobbe Neto (PSDB-SP) informou que sua mulher, Lilian Ryter, o acompanha desde quando era deputado em São Paulo. Lilian é professora efetiva da rede estadual e acumula o salário da Câmara. "Na Assembléia, a mulher do parlamentar pode ser comissionada para acompanhar o deputado em seus trabalhos políticos, quando ela tem algum cargo público. Fui eleito deputado federal, e ela veio comigo me ajudar. Não pude acomodá-la no meu gabinete, não havia espaço. Por isso, ela foi nomeada na liderança do PSDB. É tudo legal."
De acordo com José Múcio (PTB-PE), como não há lei que proíba, ele não viu impedimento em pedir à liderança do partido uma vaga de CNE para sua filha Cecília Queiroz Monteiro, que, por "problemas de saúde", foi a Recife e não compareceu ao trabalho na semana passada.
Evelyn Maestri, CNE da Terceira Secretaria, obteve a vaga "por méritos próprios", segundo seu pai, Josué Bengtson (PTB-PA). "Ela é casada e mora em Brasília. Não influenciei na nomeação."

Questão de currículo
Para o deputado Alberto Fraga (PMDB-DF), não há problemas no fato de o seu filho Diego Alberto ocupar um CNE na liderança do PMDB. "Ele trabalha das 8h às 18h. Se ele não viesse, tudo bem. Mas ele trabalha para a liderança do partido, e não para mim."
Zé Lima (PP-PA) e Milton Cardias (PTB-RS) disseram que as nomeações de suas filhas Tatiane Alves da Silva e Ana Cláudia, respectivamente, foram uma "questão de currículo". "A atuação dela é em Brasília, mas, quando necessário, presta serviços no Rio Grande do Sul", disse Cardias.
Por e-mail, o deputado Ricarte Freitas (PTB-MT) afirmou: "Não há impedimento legal no fato de meu filho [Thiago] prestar serviços à Câmara. Não vejo nisso nenhum complicador ético".
Lupércio Ramos (PPS-AM) disse que sua cunhada, Janice Pimentel, trabalha para seu gabinete em Manaus (AM), apesar de lotada na Comissão da Amazônia, porque houve "uma análise de currículo". "Nepotismo é uma coisa, trabalho político é outra."
Leandro Vilela (PMDB-GO) informou, por meio de sua assessoria, que pediu a contratação de sua irmã ao partido e que, para ele, não há problema no ato. Alessandra Vilela, segundo ele, trabalha em seu escritório, em Goiás.
O parlamentar baiano Paulo Magalhães (PFL-BA) declarou que não teve influência na nomeação de seu irmão Ângelo Mário, pois, quando foi eleito, ele já estava na Casa em um CNE.
Os demais deputados citados no quadro acima foram procurados desde a última segunda-feira, e suas assessorias, informadas sobre o teor da reportagem. Alguns não quiseram se pronunciar, e outros não ligaram de volta.
O secretário especial da Pesca, José Fritsch, disse que não teve ingerência na nomeação de sua mulher, Ivoni Fritsch, para ocupar um CNE na Câmara.
"Fui deputado federal por dois anos, e minha mulher nunca trabalhou em gabinete de ninguém. Fui prefeito de Chapecó [SC] por seis anos e não há nenhum parente meu nomeado na prefeitura. Não cabe, para mim, essa coisa de nepotismo. Ela [Ivoni] sempre trabalhou para o PT, tem uma história de vida a favor do partido e, agora, foi convidada pela liderança [do PT] para trabalhar na Câmara. E ela ganha um dos menores salários da Casa [cerca de R$ 2.000]", afirmou o secretário.
A assessoria da presidência da Câmara comunicou que João Paulo Cunha (PT-SP) estava com sua agenda lotada na última sexta-feira e não pôde ser informado sobre o pedido de entrevista feito pela reportagem. Há duas semanas, o presidente da Casa afirmou que os CNEs serão mantidos, pois, segundo ele, não são "imorais nem irregulares".


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