São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2004

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BC SOB PRESSÃO

Nota diz que não há ligação do presidente do BC com processos trabalhistas contra o BankBoston em GO

Procuradoria descarta fraude de Meirelles

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em nota oficial, o Ministério Público Federal em Goiás afirma que "não existem indícios de ligação do sr. Henrique Meirelles [presidente do Banco Central]" com uma suposta prática de simulação de processos trabalhistas contra o BankBoston.
A nota se refere a relatório preparado em julho deste ano pelo Ministério Público do Trabalho em Goiás. No documento, a procuradora do Trabalho Maria das Graças Prado Fleury diz: "Suspeita-se que o BankBoston N.A. estaria se utilizando de lides [ações] simuladas para possibilitar a prestação de contas de campanha de seu ex-presidente perante a Câmara dos Deputados e encobrir abuso do poder econômico".
Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston, elegeu-se em 2002 deputado federal pelo PSDB de Goiás. A investigação da procuradora diz respeito a seguranças contratados pelo banco para Meirelles, inclusive durante a campanha, que posteriormente pediram indenizações trabalhistas na Justiça.
Chamaram a atenção os altos valores pagos -média de R$ 75 mil- principalmente a policiais militares recrutados pelo banco. O grupo, composto de 17 pessoas, atuou de 2001 até o início de 2003, quando Meirelles assumiu a presidência do Banco Central.
O Ministério Público do Trabalho encaminhou o caso para o Ministério Público Federal, o Estadual e à Corregedoria de Polícia de Goiás.

Status de ministro
Além de negar sinais de envolvimento de Meirelles no caso, a nota divulgada pelo órgão federal afirma, ainda, que a instituição não teria atribuição para investigar no âmbito criminal, "inclusive em relação a crimes eleitorais", uma autoridade "com status de ministro de Estado", para o qual o foco adequado seria o Supremo Tribunal Federal.
Ainda conforme a nota, o Ministério Público Federal seguirá investigando se houve irregularidades nos contratos firmados com o BankBoston. O banco nega haver problemas.
"Sob a óptica trabalhista não há irregularidade. O que é preciso ver agora, e por isso remetemos os autos, é se houve lide simulada para acobertar caixa-dois de campanha", disse a procuradora do Trabalho.
A Corregedoria de Polícia de Goiás abriu, no último dia 23, uma sindicância para apurar se os policiais prestaram serviços aos BankBoston de forma irregular, o que se configuraria, por exemplo, se fosse comprovado que prestaram serviços ao banco durante o período em que deveriam estar cumprindo escala de plantão na corporação.
Ouvidos pela Folha na semana passada, policiais que são alvo da comissão de sindicância disseram que foram à Justiça Trabalhista buscar horas-extras e direitos legais que o BankBoston não lhes pagara. Seria uma forma de obter dinheiro fácil depois que perderam o complemento salarial que equivalia a três vezes o ganho mensal de R$ 1.500 que recebem como policiais.


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